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Chimpanzés também fazem luto por seus mortos

29 de abril de 2010
4 min. de leitura
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Foto: Dora Biro
Em uma clareira na floresta, no extremo sudeste da Guiné, uma chimpanzé mãe gentilmente põe seu bebê no chão para que ele possa  abrir uma noz. Porém, há algo errado com a cena, aparentemente banal: seu bebê está morto, e já faz semanas.

O chimpanzé de um ano de idade, conhecido como Jimato, morreu de gripe, quando uma epidemia atingiu uma comunidade de 19 chimpanzés que vivem no distrito de Bossou, em 2003. O vírus também matou Veve, de dois anos e meio de idade. Ambos os corpos foram transportados por suas mães por semanas.

Tal comportamento foi observado em primatas antes, mas raramente. O que é incomum, nesse casos, é o tempo que a mãe se agarrou aos seus filhos. Em outras ocasiões em que primatas carregaram cadáveres, o corpo foi arrancada das mãos da mãe por machos truculentos ou, em condições de maior umidade, se desintegrou em poucos dias. Mas os corpos de Jimato e Veve foram levados por 68 e 19 dias respectivamente, antes que eles fossem abandonados.

Seus corpos foram efetivamente mumificados pelas condições da estação seca. “Eles secaram e perderam todos os seus cabelos, deixando a maioria das partes do corpo, inclusive genitais, preservados em uma camada de pele seca e couro”, diz Dora Biro, da Universidade de Oxford, co-autora de um artigo sobre o comportamento.

Outro novo estudo analisa a forma como um grupo de chimpanzés em cativeiro lidou com a morte de uma fêmea idosa. Juntos, esses episódios deram insights sobre como os chimpanzés lidam com a morte e o que finalmente faz com que as mães abandonem suas crias mortas.

Amor-perfeito

James Anderson, um psicólogo da Universidade de Stirling, Reino Unido, tem escrito sobre a morte de Pansy, uma chimpanzé fêmea idosa mantida em cativeiro. Após a morte de Pansy, sua filha permaneceu ao lado dela durante toda a noite. Em seguida, os membros do grupo chimpanzé limparam o corpo e passaram a evitar o lugar onde ela havia morrido. Anderson diz que esses podem ser “rituais” para lidar com a morte.

Por outro lado, diz ele, “os resultados de Biro sugerem que um período de contato continuado após a morte de um bebê pode ser importante para que uma mãe chimpanzé se ajuste psicologicamente à perda”. “Nossa pesquisa combinada constitui um forte argumento de que os chimpanzés não só compreendem o conceito de morte, mas também têm maneiras específicas de lidar com isso”, diz Anderson.

De diversas formas, as mães no estudo Biro trataram os corpos como se eles ainda estivessem vivos: elas os enfeitaram, espantaram moscas de perto, emitiam gritos agudos de angústia quando acidentalmente deixavam cair o corpo no chão “com grande doçura e cuidado, como se fossem vivos”, diz Biro.

Mas alguns de seus comportamentos sugerem que elas sabiam que os cadáveres estavam mortos. Por exemplo, “quando um filhote chamado Fokaye arrastou um cadáver em torno de uma árvore como brincadeira, sua mãe se retraiu e se afastou”, disse Biro. “Mas essa é a única vez que vi um chimpanzé mostrar aversão”.

Abandonar

Eventualmente, ambas as mães abandonaram seu filhotes mortos, o que Biro acha que está ligado ao seu ciclo hormonal. Os chimpanzés produzem hormônios que impedem de engravidar enquanto estiverem amamentando: logo que param, a fertilidade retorna em 14 a 77 dias. “As mudanças hormonais das chimpanzés, quando seus corpos se preparam para a reprodução, pode estimulá-las a ‘deixar ir’ os cadáveres”, diz Biro. “Nós não temos certeza disso, mas nossas observações sugerem que pode ser verdade”.

Uma questão que permanece é por que as mães chimpanzés carregam seus bebês mortos, dado que os corpos tornam mais difícil para as mães subir em árvores e se alimentar. Frans de Waal, primatologista da Universidade Emory, de Atlanta, Geórgia, diz que pode ser uma extensão do cuidado com crianças doentes. “A criança pode se recuperar”, diz ele. Carregar o cadáver pode também ter se tornado uma “tradição” da espécie Bossou, diz Biro.

Ela acredita que a mãe de Veve pode ter aprendido o comportamento da mãe de Jimato, que fez isso duas vezes antes de Veve morrer.

Fonte: Revista Galileu

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