EnglishEspañolPortuguês

CONSCIÊNCIA

Animal silvestre como doméstico: Conheça a verdade sobre aprisioná-los em casa

20 de setembro de 2022
Redação ANDA
5 min. de leitura
A-
A+
Ouça esta matéria:
Foto: João Pedro Salgado | Arquivo Pessoal

Há cerca de 20 mil anos, o homem achou que ter um lobo ao seu lado o ajudaria na sua própria sobrevivência. Há cerca de 10 mil anos, o homem começou a criar gatos em casa acreditando que ajudaria no controle de pragas domésticas. Se nesse período os processos de domesticação de animais tinham um sentido e faziam companhia,  hoje, animais como macacos, cobras e diversos outros silvestres são criados como domésticos apenas para ostentação, ainda mais com as redes sociais em alta.

A ideia de possuir animais selvagens como domésticos não é nova. O famoso pintor Salvador Dalí passeava com “seu” tamanduá-bandeira, animal nativo das Américas, pelas ruas de Paris. O artista também posava para fotos com “sua” jaguatirica, animal também nativo do continente americano.

Ter animais fora do seu local natural pode acarretar em problemas ambientais sérios, e foi o que aconteceu com a píton birmanesa, uma das maiores serpentes do mundo e nativa de partes da Ásia.

Foto: iStock

Assim como a maioria dos animais selvagens, cuidar de uma serpente, por exemplo, que passa dos três metros de comprimento não é fácil. Muitas vezes, assim que esses animais crescem, as pessoas os abandonam de forma deliberada na natureza.

A píton hoje causa um desequilíbrio ambiental na fauna dos Everglades, nos Estados Unidos, tudo isso causado por pessoas que as tinham domesticadas. Mamíferos, aves e até os famosos ‘alligators’ estão nos cardápios das cobras que tomaram conta desta parte do país norte-americano.

No início de 2022, uma serpente dessa espécie foi encontrada por bombeiros em Brasília, possivelmente de alguém que criava esse animal de forma doméstica e resolveu soltar quando não conseguiu mais cuidar.

Os bombeiros resgataram a cobra, porém a identificaram erroneamente como sendo uma espécie nativa e a soltaram em uma área de mata na cidade. Depois da divulgação dos vídeos da soltura, biólogos informaram aos bombeiros que se tratava de uma píton birmanesa. No outro dia, os bombeiros voltaram para tentar encontrar a serpente, e felizmente conseguiram. Mas esse caso nos mostra que esses animais estão por aqui.

Foto: Reprodução/Polícia Militar do DF

O Brasil é o país detentor da maior biodiversidade do planeta, logo, se torna um dos locais mais visados pelos traficantes. O tráfico de animais no Brasil retira mais de 38 milhões de animais da natureza todos os anos em troca de dinheiro.

O trafico de animais gera o mesmo tipo de lucro do tráfico de armas e drogas. Entre os animais mais traficados no país, as aves são as que mais sofrem. A ararinha-azul, animal que acabou de ser reintroduzido na Caatinga, depois de ficar mais de 20 anos existindo apenas em cativeiro, teve sua extinção na natureza decretada principalmente por conta tráfico e o desejo das pessoas de ter essa espécie encarcerada dentro de uma gaiola em casa.

Foto: Reprodução

Outro grupo de animais que são muito traficados são os macacos. A região sudeste do Brasil também passa atualmente por um desequilíbrio ambiental devido a presenças dos sagui-do-tufo-preto (Calitrix penicilata), nativo do Cerrado e do sagui-de-tufo-branco (Callithrix jacchus), nativo da região nordeste. Esses animais chegaram na região justamente por meio deste mercado, por volta da década de 1980, com pessoas que queriam ter essas espécies domesticadas.

E qual o problema? Bom, além do crime de privar esse animal da sua liberdade, cuidar de um mamaco não é nada fácil. E foi isso que as pessoas que compraram perceberam e, desta forma, acabaram soltando esse animal na natureza.

Hoje, essas duas espécies na região ameaçam a existência de espécies nativas, como o sagui-caveirinha (Callithrix aurita), e até mesmo o mico-leão-dourado, no estado do Rio de Janeiro. Além da competição por território e alimentos, esses animais podem hibridizar com outras espécies, inclusive com o sagui-caveirinha, o que pode acarretar problemas nas futuras populações dessa espécie que se encontra ameaçada de extinção.

Foto: João Pedro Salgado / Acervo Pessoal

O mico-leão-dourado chegou a ter uma população de cerca de 200 indivíduos na natureza na década de 1980, e um dos principais motivos disso foi o tráfico. O mico segue sendo traficado, mas graças aos projetos de conservação da espécie, hoje o número de indivíduos na natureza está próximo de 3 mil indivíduos.

Além de toda a questão ambiental que é manter um macaco em casa e todo o risco de desastre ambiental, ter um macaco em casa entra também no discurso moral. Eles são em sua grande maioria animais sociais, vivem em grupos, percorrem grandes distâncias todos os dias.

Aprisionar um animal desses em casa limita sua socialização com outros animais, modifica sua dieta, além de que, mesmo quando são resgatados do tráfico, sua reintrodução na natureza é uma das mais complicadas que existem.

O tráfico de macacos causa desastres ambientais, extingue espécies e pior: transforma o animal traficado em um eterno prisioneiro, seja na sua casa como resgatado.

Foto: Getty Images | iStockphoto

As redes sociais hoje são enormes propagandas para a tentativa de ”domesticação’ de animais silvestres. Conteúdos são postados praticamente sem fiscalização, denúncias raramente funcionam. Este conteúdo engana a pessoa que acha que cuidar de uma cobra ou um macaco é a mesma coisa que cuidar de um cachorro ou gato.

Como alertam os especialistas que estudam sobre esses animais: lugar de animal silvestre é na natureza, não em casa, em uma gaiola ou acorrentado.

Fonte: ECOA Uol

Você viu?

Ir para o topo