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Chimpanzés explorados em laboratório sentem a liberdade em santuário

3 de março de 2013
5 min. de leitura
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Por Kalyne Melo (da Redação)

Foto: AP

Pela primeira vez em suas vidas, quatro chimpanzés idosos explorados em pesquisas federais podem ficar ao ar livre sempre que quiserem. Eles podem deitar na grama, escalar uma plataforma de 6 metros de altura em uma academia “estilo chimpanzé” e contemplar livremente o céu, sem barras de ferro atrapalhando a vista.

Julius e Sandy de 52 anos, Phyllis de 46 e Jessica de 44 chegaram ao santuário. Estes e vários outros primatas estão agora “vivendo como chimpanzés” enquanto brincam, cuidam da aparência um do outro e disputam coisas no Chimp Haven (Paraíso Chimpanzé) no noroeste da Louisiana – o único santuário nacional para chimpanzés aposentados de pesquisas federais.

O grupo de Julius está entre 111 chimpanzés que vêm para o Chimp Haven nos próximos 18 meses, a partir da Universidade de Louisiana no Lafayette’s New Iberia Research Center. Eles podem estar na vanguarda de uma imigração muito maior de chimpanzés usados em pesquisas a caminho do Keithville, Louisiana.

O comitê do Instituto Nacional de Pesquisas dos EUA (NIH, na sigla em inglês) recomendou em 22 de janeiro que a maior parte dos outros 350 chimpanzés explorados em pesquisas mantidos como propriedade federal sejam aposentados em um “sistema de santuários federais” – há apenas um santuário no sistema. O diretor da agência irá decidir se aceita ou não a recomendação depois de um período de 60 dias para comentários do público.

A proposta de se aposentar todos com exceção de 50 chimpanzés tratados como propriedade federal é o último passo de uma mudança gradual do uso de chimpanzés como cobaias devido aos avanços tecnológicos e as crescentes preocupações éticas sobre a pesquisa com primatas que compartilham mais de 98% de seu DNA com os humanos. A pesquisa com chimpanzés abrange desde estudos psicológicos a tentativa de desenvolver vacinas contra o HIV e a hepatite.

As chegadas acontecem aos poucos, assim os poucos funcionários podem integrar os grupos pequenos de recém-chegados aos veteranos do Chimp Haven. E alguns dos alojamentos e espaço para brincadeiras ainda não foram construídos no Chimp Haven, que abriu em 2005.

Os recém-chegados liderados por Julius estão entre os nove que chegaram no dia 22 de janeiro.

Julius e suas “garotas” tiveram sua primeira vista sem grades do céu na semana passada. Os recém-chegados ficam 17 dias em quarentena antes de serem transferidos para um quarto em uma área interna próxima aos quartos ocupados por chimpanzés que já vivem no santuário, para ver como eles se dão.

A primeira vez deles ao ar livre é num dos dois gramados. Funcionários dizem que é incrível vê-los saboreando a liberdade. “Seus rostos ficam iluminados, eles olham para o céu, olham para nós os observando,” disse a comportamentalista Amy Fultz diz.

Assim como a maioria dos recém-chegados ao Chimp Haven, o grupo de Julius primeiro explorou os limites de seu novo ambiente. O pátio de brincadeiras é rodeado por uma grande parede de concreto que não pode ser escalada, e as áreas maiores de densa floresta de pino por paredes semelhantes, e de um lado, um fosso.

Na natureza esses animais fazem patrulhas perimetrais regulares para alertar sobre qualquer avanço de outros grupos e também por uma oportunidade de expandir seus próprios territórios.

Esses aposentados passarão o resto de suas vidas em um santuário de 200 acres em um parque florestal que pertence ao governo Caddo Parish, que doou a área para o Chimp Haven.

Entre os 111 chimpanzés, oito são jovens; um nasceu de uma fêmea com HIV, mas os outros e suas mães estão destinados a fazerem parte do grupo de Conan, que já vive no santuário a muitos anos.

Amy Fultz disse que alguns dos recém-chegados não iriam sequer pisar na grama, mas o grupo de Julius não hesitou.

“Eles se sentam e olham em volta. Olham para o céu. Para mim, eles parecem estar pensando, ‘Não há mais grades’”, disse Fultz.
Não é possível dizer que não existem grades no santuário.

Os quartos internos são decorados com palha e cobertores para os animais fazerem ninhos, uma mangueira velha de bombeiros para escalarem, e paredes interiores em redes de metal para evitar que eles saiam.

Chimpanzés com HIV, hepatite ou outros problemas médicos ou psicológicos graves têm ambientes externos cercados pelas mesmas redes de metal. A parte mais alta dos tetos é de tubos colocados a poucos centímetros um do outro para que os chimpanzés possam se balançar no teto como eles fazem nas árvores.

“Estes ambientes são enormes,” disse Lori Gruen, professor de filosofia da Universidade Wesleyan, especialista em ética animal. Chimp Haven é “uma instalação bastante notável. Eu acho que será muito interessante e emocionante vê-la se expandir.”

Mas existe um grande obstáculo. Quando o Chimp Haven se transformou em santuário nacional em 2002, o congresso estabeleceu um limite de $30 milhões para serem gastos no projeto. Este limite será atingido esse ano.

O republicano John Fleming, que representa o noroeste da Louisiana, disse em uma declaração enviada por sua assessoria de imprensa que qualquer despesa federal adicional “será difícil” no atual momento orçamentário de aumento da dívida federal e das permanentes prioridades nacionais de segurança.

Kathleen Conlee, vice-presidente para questões de pesquisa animal da Humane Society dos EUA, e outros defensores dizem que não há necessidade de nenhum gasto adicional se o congresso permitir que o NIH (Instituto Nacional de Saúde) use o dinheiro que hoje é gasto em contratos de pesquisas na aposentadoria dos animais.

E isso ainda pouparia dinheiro, porque 75% da assistência federal no Chimp Haven é menor do que os custos de contratos para pesquisas, disse Conlee.

Com ajuda da Humane Society e outros grupos sem fins lucrativos o santuário arrecadou $2.6 milhões necessários para a construção de quartos adicionais, seis pátios para brincadeiras e um recinto ao ar livre para acomodar os 111 chimpanzés que chegaram do Centro New Iberia e outros $100.000 de um total de $5.1 milhões, objetivo anunciado em novembro.

“Certamente esperamos que o valor do limite federal seja estendido”, disse Cathy Wills Spraetz, que se tornou presidente do Chimp Haven há algumas semanas atrás.

Se não for? “Então teremos que contar com nossos maravilhosos doadores”, ela diz.

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