Chimpanzés na África têm consumido quantidades significativas de álcool de forma natural, ao se alimentarem de frutos maduros que fermentam antes de cair das árvores. A descoberta foi publicada na revista Science Advances e repercutida pela National Geographic.
Pesquisadores analisaram mais de 500 frutos coletados em áreas como o Parque Nacional de Kibale, em Uganda, e o Parque Nacional de Taï, na Costa do Marfim. A partir do teor alcoólico encontrado nos frutos e da quantidade de alimento ingerido diariamente, os cientistas calcularam que os chimpanzés consomem, em média, entre 14 e 15 gramas de álcool por dia – o equivalente a cerca de duas doses humanas, ajustadas ao peso corporal.
Os dados indicam que os chimpanzés não apenas ingerem álcool de forma ocasional, mas também parecem preferir frutos mais fermentados, como figos e ameixas. Isso sugere que a escolha não é aleatória: a fermentação pode sinalizar maior oferta de açúcares e nutrientes, além de um sabor que lhes agrada.
Apesar da ingestão regular, os animais não apresentam sinais de intoxicação. O teor médio de álcool nos frutos é de apenas 0,3%, muito inferior ao das bebidas produzidas pelos humanos. Ainda assim, quando os chimpanzés se alimentam em grandes quantidades, engolindo rapidamente figos e descartando a polpa, a dose acumulada de álcool pode ser mais significativa.
O estudo também aponta implicações evolutivas. Uma mutação genética presente em humanos, chimpanzés e gorilas acelera o metabolismo do álcool, indicando que nossos ancestrais comuns podem ter se adaptado ao consumo de alimentos fermentados milhões de anos atrás. Pesquisadores levantam ainda a hipótese de que o consumo de frutos fermentados possa ter influência na vida social dos chimpanzés, fortalecendo vínculos e até colaborando em situações de risco coletivo.
Mais do que uma curiosidade, a pesquisa revela como os chimpanzés, nossos parentes mais próximos, seguem estratégias alimentares complexas e adaptativas, demonstrando inteligência e sensibilidade em suas escolhas. A constatação reforça a importância de proteger seus habitats, constantemente ameaçados pelo avanço da exploração humana.