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Chimpanzé 'adota' filhotes de tigre na Flórida

27 de novembro de 2008
3 min. de leitura
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Por Ana Cardilho
em colaboração para a ANDA

No Jungle Park, na Flórida, uma chimpanzé adotou dois filhotes de tigre, recém-chegados de outro parque na Carolina do Sul. Os pequenos Mitra e Shiva encontraram em Anjana uma espécie de mãe adotiva.

Não é a minha primeira vez com felinos. Aqui no parque Jungle Island, já cuidei de leõezinhos e de leopardos. Todos cresceram fortes. Tenho uma vocação natural para a maternidade. Sei o que um filhote precisa para sobreviver: – Ele precisa de colo, amor, carinho. Dos meus lindos filhos verdadeiros, nascidos de mim, nada sei. Foram arrancados do meu colo pelos humanos, logo depois do nascimento e devem viver em algum zoológico por aí. Ou quem sabe nem sobreviveram… A dor da perda e a saudade dos meus rebentos nunca vai passar. Ninguém deveria sentir o que sinto. Sofro como deve ter sofrido a minha família quando fui raptada na floresta. Aliás, o que sobrou da minha família. Os humanos matam muitos adultos de nós para pegar os bebês.
Mitra e Shiva chegaram depois da passagem do furacão Hannah. Os tigres adultos ficaram traumatizados, agressivos, e foram considerados perigosos. Assim, os dois filhotes de tigre siberiano foram separados dos pais.
Melhor pra mim. Mitra e Shiva são agora meus filhos, meus pequenos peludos. Nós brincamos, eu cato pulgas e piolhinhos do pêlo claro deles, e dormimos juntos.
Eles ronronam enquanto dormem e eu fico olhando e penso: -Com o que sonham meus bebês? Quando eles choram sei bem o que fazer. Dou um dedo pra cada um sugar. Ficam calmos na hora! Chupam meus dedos e voltam a dormir. Nesse instante eu também cochilo. Um olho dorme e outro fica esperto porque eles podem acordar. Mãe é assim, nunca fecha os dois olhos e ainda mais com garotos tão peraltas, cheios de energia.
Eles gostam quando brincamos de cavalinho. Shiva logo se ajeita nos meus ombros e os olhos claros chegam a brilhar. Mitra fica enciumado e pula no meu colo. Acabamos os três rolando pelo gramado. É uma festa só.
Outro dia, num final de tarde, ficamos olhando o pôr do sol e eu percebi que eles estão crescendo rápido. Têm as patas largas e serão, em pouco tempo, dois jovens e fortes tigres siberianos.
Eu sei o que os humanos pensam. Alguns se comovem com minha maternidade, outros acham “fofo”, e outros dizem que eu vou virar o jantar de meus filhos. Não sei… Os leões e os leopardos que eu criei nunca me arrancaram nenhum pedaço. Somos amor. Por isso, estou bem.
Mas, sei que os administradores do parque são incompreensíveis e um dia vão nos separar. Quando isso acontecer ficarei triste, ficarei doída, com o colo vazio, as mãos sem bebês para afagar. O que me tira dos cantos e afasta a angústia é a esperança de que eles tenham melhor sorte do que eu.
Curioso, meus tigrinhos perderam a família por conta do furacão Hannah mas foi comigo, uma chimpanzé que batizaram de Anjana, que eles reencontraram o amor. Apesar de toda a minha afeição e dedicação, tenho certeza que melhor seria se eles estivessem entre os seus na natureza. É assim que deve ser. Crio meus filhotes felinos para o mundo e mesmo quando estiverem distantes de mim, no meio da noite, no meio de um sonho, eles sentirão saudade de um colo, saudade dos mimos, saudade da mamãe.
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Ana Cardilho é escritora e jornalista. Com um olho na realidade e outro na prosa imaginária conta com mais de 20 anos de experiência em rádio e TV, tendo feito reportagens, edição e fechamento de telejornais e programas, e é ficcionista.

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