O chimpanzé Connor, conhecido por muitos através dos cartões Hallmark e American Greetings, é um dos temas centrais da série documental Chimp Crazy, da HBO, lançada no último domingo (18). A história dele é um lembrete contundente da exploração de animais para entretenimento e lucro comercial.
A história de Connor começa como a de muitos outros chimpanzés que são arrancados de seus habitats ou nascidos em cativeiro. Nascido em 1995 na Missouri Primate Foundation, Connor teve sua vida marcada pela exploração. Seu pai, Coco, foi sequestrado na África em 1975 e vendido para Connie Casey, então proprietária da fundação. A mãe de Connor, Gabby, foi comprada de um criador na Flórida em 1976.
Logo após seu nascimento, Connor foi explorado pelos Caseys para entretenimento, sendo exibido em festas, sets de filmagem e sessões de fotos por meio da empresa Chimparty. A Hallmark lucrava com a imagem do chimpanzé, cujas expressões “sorridentes” nos cartões de felicitações, na verdade, refletiam medo.
Chimpanzés são seres altamente inteligentes, com vidas emocionais complexas e necessidades sociais profundas. Quando usados para entretenimento humano, como Connor, sofrem imensamente. Na última sessão de fotos que foi forçado a participar, Connor, sob profundo estresse, chegou a morder seu treinador e tentou atacar outras três pessoas, um claro sinal do sofrimento emocional e físico que vivia.
A vida de Connor foi marcada pelo cativeiro e pelo abuso, onde foi privado de qualquer chance de viver em um ambiente natural. Ao invés de se envolver em comportamentos próprios de sua espécie, Connor foi forçado a se apresentar para câmeras e multidões, frequentemente sob condições estressantes. Chimpanzés como ele não pertencem a cartões de felicitações ou festas; pertencem à natureza, onde podem viver em estruturas sociais complexas e se expressar de forma autêntica.
A série Chimp Crazy lança luz sobre a perturbadora realidade de manter chimpanzés como “animais domésticos” e explorá-los para entretenimento. Nos bastidores, esses animais sofrem traumas profundos, vivendo em isolamento e frustração em lares humanos ou zoológicos de beira de estrada. Privados dos ambientes ricos e estimulantes da natureza, desenvolvem sérios problemas psicológicos, incluindo depressão, transtorno de estresse pós-traumático, agressão imprevisível e automutilação.
Graças aos esforços incansáveis da ativistas em defesa dos direitos animais, hoje esses animais não são mais explorados em sets de filmagem. As campanhas de conscientização, processos legais e pressão pública ajudaram a transformar a forma como esses seres são tratados.
Após anos de exploração, a ONG PETA conseguiu que Connor fosse transferido para um santuário credenciado, o Center for Great Apes, onde suas necessidades finalmente foram priorizadas e ele foi tratado com respeito e dignidade. Seus últimos anos, vividos em paz e segurança, são um pequeno consolo após uma vida de sofrimento.
A luta para proteger primatas como Connor continua, com a introdução de legislações como o Captive Primate Safety Act, que visa proibir a guarda privada, a reprodução e o comércio comercial de primatas nos Estados Unidos. Chimp Crazy é produzida e dirigida pelo cineasta Eric Goode (Tiger King) e terá quatro episódios, lançados todos os domingos na Max e no canal HBO.