Em um esforço sem precedentes para proteger uma das espécies mais emblemáticas da Patagônia, o Chile inaugurou o primeiro centro de resgate e reabilitação de huemules, também conhecidos como cervos sul andinos, do país. Este espaço, localizado junto ao Parque Nacional Cerro Castillo, busca oferecer atendimento médico e abrigo a exemplares feridos ou doentes deste cervo em perigo de extinção.
O huemul, símbolo nacional chileno e uma das espécies mais ameaçadas da América do Sul, conta com uma população estimada de apenas 1.500 indivíduos em todo o mundo. O novo recinto funcionará como um hospital veterinário especializado, com instalações projetadas para sua recuperação e posterior reinserção no meio natural.
O centro está localizado em uma antiga propriedade pecuária a 1.500 quilômetros ao sul de Santiago. Seu perímetro foi assegurado com cercas eletrificadas para evitar a entrada de predadores e minimizar o estresse dos animais durante seu tratamento.
A iniciativa, impulsionada por Rewilding Chile, faz parte de um plano nacional de restauração ecológica e se insere no âmbito do “Corredor do Huemul”, uma estratégia de proteção que busca conectar as populações fragmentadas ao longo da cordilheira dos Andes.
Um passo decisivo na proteção da espécie
Declarado em perigo de extinção em 1973, o huemul perdeu mais de 99% de sua população original. Hoje sobrevive em pequenos grupos dispersos entre Chile e Argentina, isolados pela fragmentação de seu habitat.
O novo centro não só representa um avanço médico e logístico, mas também uma ferramenta chave para o monitoramento genético, o resgate de exemplares em risco e a geração de conhecimento sobre seu comportamento.
A proteção do huemul é essencial não só por seu valor simbólico, mas por seu papel ecológico. Este cervo atua como espécie guarda-chuva, cuja proteção ajuda a manter a saúde dos ecossistemas andinos e beneficia numerosas espécies de flora e fauna associadas.
O huemul no mundo: estado de proteção
A nível global, o huemul (Hippocamelus bisulcus) está catalogado como Em Perigo na Lista Vermelha da UICN. Sua distribuição se limita à Patagônia austral, onde persiste em áreas montanhosas de difícil acesso.
Estima-se que apenas 1.500 exemplares sobrevivem em liberdade, repartidos entre o sul do Chile e o sudoeste da Argentina. A perda de conectividade entre suas populações reduziu a diversidade genética, o que aumenta sua vulnerabilidade a doenças e à mudança climática.
Organismos internacionais destacam que a recuperação do huemul depende de ações coordenadas entre ambos os países, centradas em restaurar corredores ecológicos e fortalecer a vigilância contra ameaças humanas.
Ameaças que a espécie enfrenta
O huemul sofre múltiplas pressões derivadas da atividade humana. Entre as mais graves está o ataque de cães selvagens, que provocam mortes diretas e alteram seu comportamento natural.
O gado doméstico também representa um risco, já que compete por alimento e transmite doenças como a paratuberculose. Além disso, os veículos em zonas rurais e as espécies invasoras —como o javali ou o cervo vermelho— agravam a perda de seu habitat.
O avanço da fronteira agrícola, a desflorestação e a fragmentação do território reduziram drasticamente as áreas onde o huemul pode se deslocar e se reproduzir. Por isso, projetos como o Corredor do Huemul são vitais para garantir sua sobrevivência e restaurar o equilíbrio ecológico dos Andes austrais.
O novo centro de resgate em Cerro Castillo marca um marco na proteção chilena. É uma aposta pela coexistência entre a vida selvagem e as comunidades humanas, e um lembrete de que ainda é possível reverter o destino de uma espécie que um dia dominou as paisagens patagônicas e hoje luta para não desaparecer.
Fonte: Noticias Ambientales