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CRISE

'Chicotada climática' pode ter agravado incêndios em Los Angeles, mostra estudo

Mudanças bruscas entre períodos de umidade e seca extremos podem favorecer início e alta intensidade das chamas

15 de janeiro de 2025
Everton Lopes Batista
4 min. de leitura
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Bombeiro carrega mangueiras diante de incêndio em Palisades, em Los Angeles, nos EUA, em 11 de janeiro de 2025. — Foto: Jae C. Hong/ AP

As ocorrências de um fenômeno conhecido como “chicotada hidroclimática”, que causa variações bruscas entre períodos de seca e umidade intensos, estão aumentando. Segundo um novo estudo, a frequência dos eventos do tipo teve aumento de 31% a 66% globalmente desde meados do século 20 nas medições feitas em períodos de três meses.

Nas medições anuais, o aumento registrado é de 8% a 31%, de acordo com a pesquisa.

Segundo os cientistas, o fenômeno é potencializado pelas mudanças climáticas, trazendo ainda mais inundações repentinas e incêndios florestais, e pode estar por trás das chamas que devastaram áreas de Los Angeles neste mês de janeiro.

O artigo com o levantamento que mostra o crescimento das ocorrências foi publicado por pesquisadores dos Estados Unidos e da Suíça na última quinta-feira (09/01) na revista Nature Reviews.

Los Angeles é a segunda maior cidade dos EUA e fica localizada no sul do estado da Califórnia. A região é conhecida pelo clima quente e seco. O período de maior umidade é registrado entre novembro e abril, mas as chuvas são, em geral, escassas.

Para os cientistas, a “chicotada climática” atuou na área da seguinte forma: os invernos de 2022-2023 e 2023-2024 trouxeram grande quantidade de chuvas (o inverno nos EUA ocorre de dezembro a março), com mais neve e inundações de vales. A maior umidade proporcionou fartura de grama e arbustos nos meses seguintes.

Em 2024, o verão (de junho e setembro) teve calor recorde, e o mês de janeiro, que é o período úmido na região, teve um início mais seco.

“Essa sequência de impacto climático na Califórnia aumentou o risco de incêndios em dobro: primeiro, ao elevar consideravelmente o crescimento de grama e arbustos inflamáveis nos meses que antecedem a temporada de incêndios e, depois, ao secá-los a níveis excepcionalmente altos com a extrema secura e calor que se seguiram”, diz Daniel Swain, autor principal do artigo e cientista climático da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), em comunicado publicado pela instituição.

Os incêndios florestais, intensificados pelos fortes ventos Santa Ana, quentes e secos, destruíram áreas urbanas e já deixaram 24 mortos.

“As evidências mostram que a ‘chicotada hidroclimática’ já teve aumento devido ao aquecimento global, e o aquecimento adicional provocará aumentos ainda maiores”, diz Swain.

Os pesquisadores estimam que a frequência do fenômeno deve crescer em 113% em períodos de três meses e 52% em períodos anuais caso as temperaturas globais subam 3°C acima dos níveis pré-industriais.

De acordo com dados do observatório Copernicus, da União Europeia, 2024 foi o ano mais quente na história da humanidade, com temperatura média global 1,6°C acima dos níveis pré-industriais.

Segundo os autores do estudo, a capacidade da atmosfera de evaporar, absorver e liberar água, citada no artigo como “esponja atmosférica em expansão”, cresce 7% para cada 1°C de aumento na temperatura média global, aumentando a volatilidade do clima.

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