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ALIMENTAÇÃO ÉTICA

Chef paraense rejeita convite para assinar jantar vegano solicitado por príncipe William em evento de premiação ambiental

Em contraponto à recusa, a chef carioca Tati Lund, dona do Org Bistrô, assumirá o comando do jantar e levará à mesa uma culinária 100% vegetal, unindo sabor, sofisticação e compromisso ético com os animais e o planeta.

22 de outubro de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Príncipe William e Saulo Jennings. Foto: Hannah McKay/Getty Images;/Divulgação

O chef paraense Saulo Jennings rejeitou o convite para preparar o jantar do Earthshot Prize, premiação ambiental que será realizada em 05 de novembro, no Rio de Janeiro, após saber que o cardápio solicitado pelo conselheiro do evento, o Príncipe William, deveria ser 100% vegano. Jennings, conhecido por sua culinária amazônica, recusou cozinhar sem usar peixes, mostrando a dificuldade do setor gastronômico em reconhecer que a verdadeira sustentabilidade inclui o respeito à vida dos animais.

A postura do herdeiro real britânico, seja por convicção própria ou de sua assessoria, passa a mensagem importante de que não se pode celebrar a proteção ambiental e a inovação sustentável enquanto se financia a exploração e a morte de animais. A indústria da pesca, amplamente reconhecida como uma das maiores responsáveis pela devastação dos ecossistemas aquáticos, pelo sofrimento de trilhões de animais e pela emissão de gases de efeito estufa, é incompatível com o discurso de proteção.

Enquanto isso, Jennings, celebrado por sua culinária amazônica, justificou sua saída com um argumento que ignora a crueldade inerente à sua arte. “Não faz sentido para mim deixar os peixes da Amazônia de lado”, declarou, reduzindo seres sencientes, capazes de sentir dor e medo, a meros “ingredientes locais”. Sua fala demonstra uma visão anacrônica, que trata a cultura gastronômica como uma licença para a exploração, mesmo em um contexto global que clama por mudanças.

Jennings, que se diz “de uma culinária de inclusão”, parece não compreender que a verdadeira inclusão é aquela que estende a ética a todos os seres, não apenas aos humanos. Sua defesa de “levar a culinária da Amazônia” incluindo peixes ignora por completo o sofrimento individual dos animais envolvidos. A Amazônia, berço de uma biodiversidade incomparável, merece ser celebrada através de sua imensa variedade de frutas, legumes, verduras e raízes, e não através da exploração de seus habitantes aquáticos.

Em contrapartida, a chef Tati Lund, dona do Org Bistrô, no Rio de Janeiro, restaurante premiado por sua culinária à base de vegetais, foi escolhida para assinar os pratos do evento. Seu trabalho, dedicado exclusivamente à gastronomia vegetal, prova que a sofisticação e o sabor podem, sim, andar de mãos dadas com a compaixão. Seu cardápio será a demonstração prática de que é possível uma alimentação exuberante, saborosa e ética, perfeitamente alinhada com o propósito do Earthshot Prize.

A fala de Jennings, que questiona se “os britânicos vêm da terra do ‘fish and chips’ e agora não comem peixe?”, peca ao confundir tradição com imutabilidade. A evolução moral da sociedade exige que revisemos nossas práticas, abandonando aquelas que causam sofrimento desnecessário. A determinação vegana do Príncipe William não é “medo” ou “preconceito” da comida regional, como insinuou o chef, mas sim um avanço ético e uma compreensão profunda de que a proteção do planeta começa no prato.

A decisão do príncipe mostra que não há sustentabilidade ambiental sem justiça para com os animais. Enquanto alguns permanecem aferrados a um paradigma de exploração, a postura de William aponta para um futuro onde não faz sentido matar animais para celebrar a vida e a natureza.

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