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DESEQUILÍBRIO

Chance de colapso de correntes oceânicas liga alerta de 'ameaça existencial' na Islândia

Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC) está enfraquecendo e isso pode mudar os padrões climáticos em todo o mundo

12 de novembro de 2025
Renata Turbiani
6 min. de leitura
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Reykjavik, na Islândia. Foto: Pavel Danilyuk/Pexels

A Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC), um sistema-chave de correntes oceânicas que também inclui a Corrente do Golfo, corre o risco de colapsar em decorrência das mudanças climáticas. Diante disso, a Islândia classificou a possibilidade como uma “ameaça existencial” e já começou a se planejar para os piores cenários.

“Trata-se de uma ameaça direta à nossa resiliência e segurança nacional”, disse o ministro do Clima da país, Johann Pall Johannsson, citado pelo Daily Mail. “Esta é a primeira vez que um fenômeno específico relacionado ao clima é formalmente apresentado ao Conselho de Segurança Nacional como uma potencial ameaça existencial.”

Ele acrescentou que o alerta significa que os ministérios da Islândia estarão em prontidão e coordenando uma resposta. O governo, agora, está avaliando quais pesquisas e políticas adicionais são necessárias, com trabalhos em andamento para a elaboração de uma política de preparação para desastres, e os riscos em análise contemplam desde segurança energética e alimentar até infraestrutura e transporte internacional.

A AMOC leva a água quente dos trópicos para o Atlântico Norte. Isso ajuda a manter regiões como o noroeste da Europa e o nordeste dos Estados Unidos com temperaturas mais amenas no inverno e influencia os padrões climáticos em todo o mundo.

O seu colapso, segundo cientistas, poderia desestabilizar padrões de chuva de longa data dos quais dependem agricultores de subsistência na África, na Índia e na América do Sul, e contribuir para um aquecimento mais rápido na Antártida.

Também poderia desencadear uma era glacial moderna, com as temperaturas de inverno no norte da Europa caindo para novos extremos de frio, trazendo muito mais neve e gelo.

“Há uma quantidade enorme de estudos sobre a probabilidade de quando exatamente as coisas vão acontecer”, enfatizou Aleksi Nummelin, oceanógrafo físico do Instituto Meteorológico da Finlândia, ao Daily Mail. “Mas há muito menos pesquisas sobre qual seria o real impacto social.”

Johannsson observou que não se deve para esperar por pesquisas conclusivas e de longo prazo antes de agir. “O gelo marinho pode afetar o transporte marítimo; eventos climáticos extremos podem comprometer seriamente nossa capacidade de manter a agricultura e a pesca, que são centrais para nossa economia e sistemas alimentares”, complementou.

Enfraquecimento da AMOC

Pesquisadores do Instituto de Oceanologia da Academia Chinesa de Ciências (IOCAS) e da Universidade da Califórnia analisaram dados observacionais passados, modelos climáticos e simulações oceânicas para rastrear a AMOC nos próximos 75 anos.

Eles descobriram uma “impressão digital detectável por observação” na profundidade intermediária do Oceano Atlântico Norte, um sinal de que uma desaceleração da corrente está em curso.

Essa “impressão digital de temperatura distinta” está em “profundidade intermediária” – de 1.000 a 2.000 metros abaixo da superfície do oceano – e pode indicar um colapso ainda neste século.

“Aqui identificamos uma assinatura térmica distinta no Atlântico equatorial que sinaliza a mudança na Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico”, apontou a equipe. “O mecanismo físico robusto e a detecção confiável fazem [essa impressão digital] uma métrica valiosa para o monitoramento da AMOC em um clima em aquecimento.”

A Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) impulsiona a água quente da superfície do oceano para regiões de alta latitude. Lá, a água encontra ventos fortes e temperaturas frias, o que a torna mais fria e densa. Essa água fria e densa afunda nas profundezas do oceano e é então transportada de volta para o sul, em profundidade, criando um circuito semelhante a uma correia transportadora. Foto: Ilustração de Eric S. Taylor, © Woods Hole Oceanographic Institution

Os cientistas utilizaram o Modelo de Circulação Geral do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MITgcm), um modelo computacional que simula o oceano, a atmosfera e o clima. Isso, de acordo com eles, permitiu rastrear como os “sinais relacionados à AMOC”, como ondas de energia, se espalham rapidamente em direção ao equador.

Os resultados mostraram que a desaceleração da corrente desencadeia um aquecimento subsuperficial no Atlântico Norte abaixo do polo Norte.

Esse aquecimento gera ondas de energia conhecidas como “ondas baroclínicas de Kelvin”. Elas viajam em direção ao equador ao longo da fronteira oeste do Atlântico Norte, e, quando chegam ao equador, se propagam ao longo da região, causando, em última instância, aquecimento em profundidades intermediárias.

Os pesquisadores, ao examinarem dados observacionais que remontam a 1960, identificaram uma clara tendência de aquecimento em profundidades intermediárias que se destaca desde o início dos anos 2000, sugerindo que a AMOC provavelmente começou a enfraquecer no final do século 20.

“A maioria dos índices existentes de intensidade da AMOC baseia-se em propriedades da superfície ou próximas à superfície, que são fáceis de medir, mas são fortemente influenciadas pela variabilidade climática interna’, explicou a equipe. “O novo indicador proposto aqui complementa os indicadores de superfície existentes e permite um diagnóstico mais confiável da mudança na AMOC, até onde sabemos.”

Fonte: Um só Planeta

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