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Por que chamar o vegetarianismo de dieta "restritiva, logo ruim" é um tiro no pé

27 de julho de 2015
3 min. de leitura
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Ainda é comum que o vegetarianismo – como dieta livre de todo e qualquer alimento de origem animal – seja considerado “ruim” por ser uma dieta restritiva, que alegadamente “não permite” o consumo desse tipo mencionado de produtos. E a partir dessa restritividade, dirige-se contra a alimentação vegetariana a mais abrangente diversidade de críticas morais e “nutricionais”. Mal sabem os críticos do vegetarianismo que eles estão dando tiros no pé toda vez que usam a tática de dizer que uma alimentação restritiva é ruim simplesmente por assim ser.
Os carnistas que se investem nessa condenação partem da premissa verdadeira de que toda opção alimentar que, por decisão própria do indivíduo ou proibição, interdite o consumo de determinados alimentos é restritiva. Um segundo pressuposto dessas críticas, por sua vez falso, é que toda dieta dotada de alguma restrição – ou seja, ausência de um ou mais tipos ou espécies de alimentos – é carente de determinadas fontes de nutrientes e, portanto, seria ou correria o risco de ser “deficiente” e, por tabela, seria “menos aceitável” moral-culturalmente do que dietas “não restritivas”.
Nesse sentido, o feitiço vira contra o próprio feiticeiro. A crítica ao vegetarianismo como dieta “de restrição” acaba se aplicando diretamente às próprias dietas onívoras. No caso da cultura alimentar brasileira, o consumo de carne humana, carne de cachorro ou de gato, insetos “comestíveis”, leite de cadela e de porca, ovo de pássaras e outros itens de origem animal é moralmente interditado, mesmo que em alguns outros países alguns desses pratos sejam apreciados pelos onívoros locais. Ou seja, se alguém diz que o onivorismo não é restritivo, está faltando com a verdade.
Um outro detalhe ignorado é que a própria alimentação não vegana, quando vem acompanhada de preconceito contra o vegetarianismo, também acaba sendo configurável como restritiva quando fica claro que ela “não pode” recorrer a receitas veganas. Afinal, a mentalidade preconceituosa carnista reza que o ser humano “tem que consumir” alimentos de origem animal e “não pode”, por exemplo, prescindir da carne no almoço e dos laticínios nas refeições da manhã e da noite.
E um terceiro aspecto da alimentação não vegana brasileira constrangedor para opositores do veganismo é que, para muitas pessoas, ela não consegue prover uma completude de nutrientes sem o auxílio da fortificação industrial com minerais e vitaminas suplementares. Exemplos disso são o iodo, o ferro e o ácido fólico – que já são suplementados por fortificação de sal (com iodo) e derivados industriais do trigo (com ferro e ácido fólico) –, assim como a própria vitamina B12, deficiente em cerca de 20% da população dos países industrializados.
Nesse sentido, não existe no mundo uma dieta não restritiva, e o próprio onivorismo brasileiro interdita o consumo de muitos “produtos” comestíveis e enfatiza que a ingestão de muitos de origem animal é considerada imoral. Mas nem por isso os carnistas críticos da alimentação “restritiva” criticam ferrenhamente essa opção alimentar, até porque eles próprios são adeptos dela.
O fato é que uma dieta não precisa ser universalmente abrangente e dar liberdade total de consumo para ser saudável. O vegetarianismo, sendo o exemplo mais notável, não precisa de nenhum alimento de origem animal para ser saudável. E nem toda dieta cuja restritividade é ignorada ou inexistente consegue dar conta de todos os nutrientes para todas as pessoas.
Por isso, os argumentos de que tal dieta é “restritiva, logo prejudicial e inaceitável” podem ser aplicados ao que os próprios críticos carnistas comem. Em outras palavras, eles não têm moral nenhuma para falar de “restritividade nociva” contra vegans e vegetarianos. Esse tipo de argumento nada mais é do que uma manifestação de preconceito.

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