Eles já foram abandonados uma vez, mas, se depender de Silvana Carvalho, não vão parar nas ruas de Rio Preto de novo. A fundadora do Patas tem menos de 50 dias para arrumar outro local que abrigue seus cães. E ela coloca a própria vida em jogo quando se trata de seus animais.
A chácara Coqueiral, propriedade onde funciona hoje o abrigo Patas, foi vendida e vai se transformar em loteamento. Deram até novembro para que ela deixe a chácara.
“Estou desesperada e peço socorro. Preciso que alguém que goste de animais se sensibilize e arrume um local para onde possa levar meus cães.” Silvana paga R$ 500 de aluguel por uma área de 4 mil metros.
Seria só por um período, como ela explica. “É até eu completar um ano de ONG. Depois, o prefeito Valdomiro Lopes garantiu que vai me ajudar.”
Apesar de há seis anos recolher, cuidar e levar para adoção cães “descartados” nas ruas, só há três meses ela criou a ONG.
“Pensava em ter um abrigo para cuidar de 50 animais no máximo, mas a coisa cresceu.”
Só que, por lei, a prefeitura é proibida de dar contribuição até que o Grupo Patas Associação Civil de Amparo aos Animais Abandonados complete um ano de existência.
Até a última semana, estavam abrigados 220 cães adultos e outros 40 filhotes. Os animais novinhos são fáceis de conseguir novas famílias, mas os adultos, em geral, ficarão com ela até a morte.
“Muitos sofreram maus-tratos. São cegos, têm problemas de locomoção, falta uma pata ou não interessam mais à maioria das pessoas porque já são adultos.”
Silvana está à procura de novo espaço, mas a cada dia que passa o desespero dela aumenta. “Nem a polícia vai tirar meus animais do abrigo. Vou me colocar na frente como escudo.”
No lugar do poder público
Silvana faz o que os centros de zoonoses de grandes cidades assumiram como papel. Araçatuba, Bauru, Ribeirão Preto e outros municípios do Interior mantêm programa de acolhimento, tratamento e adoção de cães abandonados.
723 é a quantidade de cães e gatos que foram adotados só neste ano do Centro de Controle de Zoonoses de Bauru, que promove a adoção de animais desde 2005, quando o canil foi inaugurado na cidade.
Castração é medida certa
Florianópolis exporta para o restante do país o programa de castração de animais, iniciado em 2005 para controle da superpopulação de cães e gatos. São 25 esterilizações por dia feitas pelo Centro de Controle de Zoonoses da capital catarinense.
Maria Bethânia desperta Silvana
Silvana de Carvalho, de 50 anos, recolheu o primeiro cão há seis anos. Ela estava com depressão profunda, fazia tratamento psiquiátrico e tomava remédios.
Viu a vira-lata “Maria Bethânia” com seus cinco filhotes, recém-nascidos, à beira de um córrego, no Dom Lafaiete. Pegou todos e levou para casa. Os filhotes foram adotados, a cadela continua com ela.
“Ela salvou a minha vida. É como se Deus tivesse colocado a mão em mim e dito que a partir daquele dia eu tinha uma missão, uma razão para viver.”
Pouco tempo depois de Bethânia, outros 40 cães estavam na casa de Silvana. Ela então alugou uma edícula, no Jardim Marajó. Quando chegou aos 70 cães procurou um novo lugar. Há cerca de dois anos está no Recanto do Lago, na zona rural de Rio Preto.
Já tirou das ruas e deu um novo lar para mais de mil cães. Como não pode acolher a todos, ela escolhe os mais necessitados. São cadelas grávidas, cães magros, machucados e com problemas de saúde.
Eles passam por veterinário e tratamento. Todos são castrados, vermifugados e vacinados. “Gostaria de abrigar a todos que vejo na rua, mas não tenho condições. Se olho um que está com boa aparência, vou embora com o coração partido.”
Silvana diz que espera por um “milagre”. “Imploro por ajuda. Não vou permitir que ninguém ponha a mão nos meus animais. Eles são a minha vida.”
Fonte: Rede Bom Dia