Até a década de 1990, as geleiras de Chacaltaya, na Bolívia, tinham uma espessura de 15 metros, mas devido às mudanças climáticas, a quantidade de gelo foi diminuindo. Hoje, devido à quantidade insuficiente de neve recebida nos últimos anos, a prática de esportes na região foi cancelada, levando ao desligamento da estação de esqui e transformando Chacaltaya em uma montanha fantasma.
Em entrevista à equipe de reportagem do Terra, a produtora de conteúdos de viagem Marina Guaragna, que visitou recentemente a montanha de Chacaltaya, contou que estar na estação de esqui abandonada foi uma experiência angustiante, mas necessária.
“Foi muito angustiante ver com os próprios olhos que a estação de esqui mais alta do mundo foi desativada devido ao aquecimento global, mas foi uma visita fora da rota turística que se tornou necessária. O pior de tudo é saber que esse problema pode se espalhar para outras regiões da Bolívia e do mundo”, conta Marina.
No passeio, Marina relata que caminhar entre os escombros e contemplar o que costumava a ser uma estação de esqui foi uma experiência que não só marcou sua viagem, mas também deixou uma impressão duradoura em sua vida. Durante conversas com os guias turísticos e outros visitantes que compartilharam o passeio no mesmo dia que ela, a produtora de conteúdo descobriu que algumas pessoas que a acompanharam tiveram a oportunidade de esquiar na montanha nos anos 90. O que mais a surpreendeu foi perceber que isso ocorreu há aproximadamente 20 anos.
Em uma conversa com um morador da Bolívia, Marina descobriu que o derretimento das geleiras está causando impactos não apenas no turismo da região, mas também na agricultura e na economia. “Nos últimos 50 anos, a Bolívia perdeu metade de suas geleiras e é muito triste saber que se nada mudar, todas as outras geleiras também podem desaparecer”, afirma.
Hoje, as mudanças climáticas ocorridas em Chacaltaya são objetos de pesquisa e exemplos em aulas e na disciplina de Climatologia da professora e doutora em variabilidade climática Maria Elisa Siqueira, da Universidade de São Paulo (USP).
A professora explica que decidiu incluir a montanha de Chacaltaya em sua disciplina não somente pelas evidências climáticas que ocorreram na região, mas também pela proximidade da Bolívia com o Brasil.
Maria utiliza mapas interativos e imagens de satélite para ilustrar os impactos do aquecimento global na região, e a cada nova imagem exibida na tela, um rosto surpreso se manifesta. “Quando eu falo para os alunos que as imagens da montanha coberta de gelo são da década passada, eles não acreditam”, relata.
E é a partir dessa reação de espanto que Maria vai despertando o interesse dos alunos e ressaltando a importância das questões climáticas e geográficas.
Fonte: Terra