Em 2 de fevereiro, a população de Minas Gerais ficou chocada com um crime ambiental ocorrido em plena luz do dia.
A mando da prefeitura, oito árvores localizadas à beira da Lagoa Central do município de Lagoa Santa (MG), uma área de proteção permanente, foram drasticamente podadas deixando pelo menos 68 garças mortas e 169 filhotes e juvenis feridos e desabrigados. Acontece que as árvores foram cortadas justamente no período reprodutivo dessas aves, época em que milhares delas migraram para a região e , utilizam essa vegetação para nidificação e cuidados dos filhotes. Um absurdo difícil de descrever.
O resultado foi uma grande chacina da fauna. Enquanto os galhos caiam no chão, caiam com eles garças adultas, seus filhotes e ninhos. A cena de terror incluía animais presos e esmagados pelos galhos, aves feridas, afogamentos, ovos quebrados e ninhos destruídos.
A perda para a biodiversidade, não só pelas garças mortas, mas por todo o ecossistema que aquelas árvores abrigavam, é irreparável. As medidas cabíveis para responsabilização e punição por esse crime já estão sendo tomadas… Mas e as garças sobreviventes?
Resgate e cuidados
Uma operação de resgate voluntária foi montada e, depois de muito trabalho coordenado pelo vereador Marcelo Monteiro (PV), as garças foram destinadas aos atendimentos adequados pelo Grupo de Resgate Animal de Belo Horizonte.
A primeira noite foi de muitos cuidados veterinários emergenciais no Centro de Atendimento provisório do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH). Mas e depois de estabilizadas? Bom, é aí que entra o trabalho do centro de triagem de animais silvestres (Cetas).
Todas as aves resgatadas foram destinadas ao Cetas de Belo Horizonte (Ibama/Instituto Estadual de Florestas-IEF), onde passaram a ser acompanhadas, uma a uma, por uma equipe especializada de médicos veterinários e biólogos. O objetivo do trabalho é tornar possível o retorno desses animais para a natureza.
Cada garça foi identificada, ganhou uma anilhas de marcação, ficha de acompanhamento e tratamento individualizado. Os cuidados com as aves fraturadas e machucadas foram imediatamente iniciados. Os filhotes menores, além de serem acomodados em ambientes preparados, passaram a receber uma alimentação especialmente formulada para garantir os nutrientes necessários. Se muito pequenos, são alimentados no bico, assim como as mães fariam na natureza… várias vezes ao dia! Os filhotes maiores e saudáveis foram acomodados em recintos mais amplos, possibilitando que eles possam desempenhar habilidades próprias, como o voo.
Todos os viveiros são constantemente ambientados com elementos naturais, como galhos, troncos, bacias de água, para que se assemelhem ao máximo com a natureza. Enriquecimentos ambientais também são fornecidos diariamente.
“O trabalho só começa agora. Serão meses de reabilitação até que possam ser soltos. Nós trabalharemos incansavelmente para que todos possam voltar para a natureza”, comentou a analista ambiental do Instituto Estadual de Florestas, Erika Procópio.
O que aconteceu em Lagoa Santa é crime ambiental e proteger a fauna silvestre é uma obrigação de todos nós. Denuncie os crimes ambientais.
Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais)
Capítulo V
Dos Crimes contra o Meio Ambiente
Seção I – Dos Crimes contra a Fauna
Artigo 29 – Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida.
Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.
§ 1 . Incorre nas mesmas penas:
I – quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;
II – quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural.
Fonte: Fauna News