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DESTRUIÇÃO AMBIENTAL

Cerrado perdeu área maior que a Bahia em cobertura vegetal entre 1985 e 2024, revela MapBiomas

Em 2024, 24% dos municípios do bioma já tinham menos de 20% de vegetação nativa

2 de outubro de 2025
Renata Turbiani
7 min. de leitura
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Cachoeira Acaba Vida, em Barreiras (BA). Cerrado é o bioma com mais bacias hidrográficas do Brasil. Foto: FLORENCE GOISNARD/AFP via Getty Images

O Cerrado perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2024, o equivalente a 28% de sua cobertura original e a 1,4 vezes a área do estado da Bahia, de acordo com novo levantamento do MapBiomas, feito a partir da Coleção 10 de mapas e dados sobre cobertura e uso da terra no Brasil.

Atualmente, 47,9% do bioma é de área antrópica – que foi alterada ou transformada pela ação humana – e 51,2% é coberto por vegetação nativa. Quase metade (47,8%, ou 48,6 milhões de hectares) da vegetação nativa remanescente está concentrada na região conhecida como Matopiba, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

O tipo de vegetação nativa mais impactada foi a Formação Savânica, que perdeu 26,1 milhões de hectares (32%) em 40 anos. Apesar disso, ainda é a cobertura natural predominante – 28,4% do bioma.

Os dados do MapBiomas mostram ainda que o percentual de municípios com mais de 80% de cobertura de vegetação nativa caiu de 37% em 1985 para 16% em 2024 – no mesmo ano, 24% dos municípios tinham menos de 20% de vegetação nativa. O Matopiba respondeu por 39% (15,7 milhões de hectares) da perda líquida no bioma desde 1985, tornando-se uma nova fronteira agrícola.

No ano passado, 1,5 milhão de hectares de vegetação nativa foram desmatados no Cerrado, sendo um milhão de hectares de vegetação primária e 500 mil de vegetação secundária. Na última década (2015-2024), uma média de 73% do desmatamento ocorreu em áreas de vegetação primária.

Os estados com maior proporção de vegetação nativa no Cerrado em 2024 foram Piauí (79%), Rondônia (78%), Maranhão (69%) e Tocantins (66%). Os com menor foram são São Paulo (17%), Mato Grosso do Sul (25%), Paraná (34%) e Goiás (36%).

Na última década (2015-2024), o Cerrado teve 6,4 milhões de hectares de vegetação nativa destruídos, dos quais 4,7 milhões foram no Matopiba (73%). Com isso, nos últimos 40 anos, a área de agricultura aumentou 24 vezes na região (+5,5 milhões de hectares).

Em 2024, 58% dos municípios do bioma já tinham predomínio da agropecuária. Em 1985, esse índice era de 42%.

“O Cerrado vem sendo transformado em ritmo acelerado nas últimas quatro décadas. Com maior supressão da vegetação nativa entre 1985 e 1995 e depois nas décadas seguintes, a agricultura se expandiu e se intensificou, consolidando-se como região central da produção agrícola do país, principalmente para grãos”, disse Bárbara Costa, analista de pesquisa da equipe do Cerrado do MapBiomas e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

Expansão agropecuária

No Cerrado como um todo, as atividades agropecuárias cresceram 74% entre 1985 e 2024. A área de pastagem aumentou 44% (14,7 milhões de hectares) no período – o pico se deu em 2007, com 54,5 milhões de hectares. E elas, segundo o MapBiomas, continuam sendo o principal uso antrópico, ocupando 24,1% do bioma.

Proporcionalmente, a agricultura foi o uso da terra que mais se expandiu, com um aumento de 533% (+22,1 milhões de hectares) desde 1985. As lavouras temporárias aumentaram 21,6 milhões de hectares, ocupando agora 25,6 milhões de hectares do bioma.

Já a agricultura perene mapeada aumentou 500 mil hectares em 40 anos, totalizando 700 mil hectares. Mais da metade (54%) é destinada ao café, com Minas Gerais concentrando 84% da área da cultura.

Usinas fotovoltaicas, superfície natural de água e áreas protegidas

O novo levantamento do MapBiomas revelou que, em 2024, 32% (11,3 mil hectares) da área mapeada de usinas fotovoltaicas no Brasil estava no Cerrado, alta de 1.273% (10,5 mil hectares) em relação a 2016.

Do total ocupado por essas instalações, 36% eram áreas de formação savânica e 37% eram pastagens. Entre 2016 e o ano passado, 4,4 mil hectares de vegetação nativa foram convertidos para usinas fotovoltaicas.

Outros dados apontam que, embora 2024 tenha registrado a maior superfície de água desde 1985 (1,6 milhão de hectares, ou 0,8% do bioma), 60,4% dessa área foi de superfície de água antrópica, como hidrelétricas, reservatórios, aquicultura e mineração.

A superfície de água natural retraiu 249 mil hectares (-27,8%). E o balanço de ganhos e perdas de superfície de água das bacias hidrográficas no Cerrado mostra que 90,8% dessas bacias tiveram perdas de superfície natural de água, porém 68,5% ganharam superfície antrópica de água. Ainda assim, 26% perderam superfície tanto natural como antrópica.

“Os recursos hídricos também estão sob pressão no Cerrado. Considerando que mais da metade do bioma está em imóveis rurais, é fundamental promover incentivos e políticas públicas que conciliem produção, conservação e recuperação da vegetação nativa”, apontou Ane Alencar, coordenadora das equipes do Cerrado e Fogo no MapBiomasm e diretora de Ciência do IPAM. “Só assim será possível garantir a segurança hídrica, alimentar e climática do Brasil.”

O levantamento revela que Territórios Indígenas (97%), Áreas Militares (95%) e Unidades de Conservação (94%) apresentam os maiores percentuais de vegetação nativa no Cerrado. Em contraste, terras sem registro fundiário (49%), imóveis rurais (45%) e áreas urbanas (7%) têm menos da metade de vegetação nativa.

Áreas privadas com registro fundiário georreferenciado ocupam 129 milhões de hectares (65% do bioma), enquanto terras públicas ou sem registro fundiário georreferenciado respondem por 53 milhões de hectares (27%). Áreas protegidas ou de uso coletivo cobrem 14 milhões de hectares (7%). E, do total de imóveis com Cadastro Ambiental Rural (CAR) no Brasil, 16,9% (1,2 milhão) estão no Cerrado.

Fonte: Um só Planeta

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