Cerimônia temática: bois são explorados para puxar carroça com noiva durante casamento em Minas Gerais
A romantização da cultura da roça esconde o deslocamento forçado e o desconforto imposto a indivíduos que sentem. Empatia deve se estender a todos.
10 de dezembro de 2025
Redação ANDA
4 min. de leitura
A-
A+
Foto: Arquivo pessoal
A chegada de uma noiva em um carro de boi durante um casamento em Santa Rita do Sapucaí (MG) foi celebrada como demonstração de orgulho rural, mas revela o quanto ainda se naturaliza a redução de animais a meros instrumentos.
Lariane Rodrigues Ribeiro fez o trajeto até a igreja sobre um carro puxado por bois, descrito como uma celebração legítima de identidade e costumes da roça. Na prática, o ato não passa de mais um episódio em que vidas sencientes são exploradas.
O cortejo diante do Santuário de Santa Rita de Cássia mobilizou moradores, que, reagiram com entusiasmo, reproduzindo a visão de que bois são elementos folclóricos, ignorando sua condição de seres sencientes. O casal afirmou que a escolha representava suas origens simples, mas essa justificativa afetiva não altera o fato de que nenhum costume legítimo pode se apoiar no sofrimento de quem não pode se defender.
Bois não são adereços, são indivíduos que sentem exatamente como nós. Submetidos a deslocamento forçado, ruídos intensos, manipulação por estranhos e exposição a ambientes hostis, a cena romantizada da noiva sobre o carro encobriu o peso do esforço desnecessário exigido desses animais.
A aparência robusta dos bois costuma, inclusive, ser erroneamente interpretada como ausência de sensibilidade e força ilimitada.
A empatia do casal ao falar da roça deveria se estender a todos os envolvidos na celebração. Quando a simplicidade exaltada ignora o desconforto imposto aos bois, ela se torna apenas discurso vazio. Não há identificação verdadeira com a terra quando se negligencia o respeito por aqueles que, afinal, também fazem parte dela.
Uma sociedade comprometida com a justiça e a liberdade não pode admitir cenas como esta. A pauta dos direitos animais exige coragem para romper com tradições que se sustentam no sofrimento alheio e a disposição de construir novos modos de celebrar que não sacrifiquem ninguém.