Recentemente, uma fazenda com aproximadamente 1.100 porcos pegou fogo na Carolina do Norte, Estados Unidos. Apesar dos esforços dos bombeiros, apenas cerca 200 porcos sobreviveram. A causa do incêndio ainda está sob investigação, mas essa tragédia revela mais uma das inúmeras crueldades da indústria da carne.
Este não é um caso isolado. Há apenas três semanas, outros 1.100 porcos morreram quando uma fazenda industrial pegou fogo em Ohio, e no último mês de julho, 70 mil galinhas perderam a vida em um incêndio semelhante na Califórnia.
Em 2024, quase 1,5 milhão de animais criados para o consumo humano já morreram em incêndios em fazendas nos Estados Unidos, segundo dados do Instituto de Bem-Estar Animal (AWI). Além disso, mais de 8 milhões de animais perderam a vida dessa maneira na última década, mas acredita-se que o número real é muito maior, pois os requisitos de notificação variam de acordo com o estado. Entre as muitas crueldades cometidas na criação industrial, essas mortes são pouco notadas, mas muito comuns.
No entanto, esta tragédia ocorreu em um momento que a indústria da carne de porco tem se posicionado contra propostas de códigos de incêndio que obrigariam fazendas recém-construídas a instalar sistemas de sprinklers, um investimento mínimo que poderia salvar a vida de milhões de animais.
A realidade da criação industrial
A maioria absoluta dos animais criados para carne, laticínios e ovos nos EUA vive confinada em fazendas industriais, onde milhares de animais são amontoados em armazéns superlotados, privados de qualquer tipo de cuidado adequado ou dignidade. Esses ambientes altamente mecanizados, longe de qualquer ideal romântico de fazendas familiares, são equipados com sistemas de ventilação, aquecimento e iluminação que podem falhar e resultar em tragédias, como incêndios devastadores.
De acordo com a National Fire Protection Association (NFPA), os sistemas de aquecimento e elétricos defeituosos são a principal causa desses incêndios. E, embora a organização tenha proposto em 2024 a instalação obrigatória de sprinklers em novas construções de fazendas industriais a partir de 2025, a implementação dessa medida ainda depende da adoção local e estadual, o que se torna um obstáculo diante da forte resistência da indústria.
“Na minha opinião, isso é uma tentativa de desviar a atenção”, disse Allie Granger, assessora política do AWI. “Muitas das alegações deles parecem realmente apenas desviar o foco do fato de que este é um problema generalizado dentro de sua indústria.”
A ganância da indústria da carne acima da vida
Em uma tentativa de manter seus lucros, o Conselho Nacional dos Produtores de Carne Suína (NPPC) entrou com um requerimento para eliminar a exigência de sprinklers, alegando custos elevados de instalação, que poderiam chegar a 200 mil dólares por celeiro industrial. Para a indústria, esse valor é considerado um preço alto demais para proteger vidas, demonstrando que os interesses econômicos têm prioridade absoluta sobre a vida e o bem-estar dos animais.
Embora os incêndios sejam relativamente raros, edifícios para humanos exigem sprinklers porque decidimos — corretamente — que valorizamos a vida humana o suficiente para protegê-la, mesmo que isso torne a construção mais cara.
No entanto, para a indústria da carne, é mais conveniente e lucrativo continuar ignorando o fato de que milhares de animais morrem em suas instalações a cada ano, sufocados ou queimados vivos. O mesmo padrão de crueldade é visto em outras práticas desumanas, como o confinamento de porcas grávidas em minúsculas gaiolas durante praticamente toda a sua vida, tudo em nome de maximizar lucros.
“Eles não querem arcar com o custo dos sprinklers e continuarão a ignorar o fato de que milhares de animais estão morrendo em suas instalações”, reforçou Granger.
A indústria avícola também não é diferente. Nos últimos anos, na tentativa de combater a gripe aviária, dezenas de milhões de aves foram mortas de forma horrível, com os sistemas de ventilação sendo desligados e o calor aumentado até que morressem por insolação. Essa é a forma mais econômica e brutal de extermínio em massa.
Esses incêndios são apenas um sintoma de uma indústria que sistematicamente prioriza o lucro sobre o bem-estar animal, a segurança dos trabalhadores e a saúde do meio ambiente. A morte de milhões de animais em celeiros ou por outras formas de negligência e crueldade não pode ser mais aceita como “parte do negócio”.
A verdade é que o sofrimento e a morte desses animais não são incidentes isolados ou acidentais — são consequências diretas de um sistema cruel, que enxerga seres vivos apenas como mercadoria descartável. É hora de dizer basta e reconhecer que a vida de qualquer animal vale mais do que o lucro.
Nota da Redação: a pecuária é um dos maiores símbolos de exploração e crueldade contra os animais. Milhões de animais sencientes são confinados, privados de liberdade e submetidos a um sofrimento extremo para atender à demanda de carne, laticínios e ovos.