Sob o solo da floresta, existe uma teia oculta que sustenta a vida como a conhecemos. Essas linhas vitais não são raízes, nem animais ou minerais. São fungos – organismos ancestrais que formam densas redes subterrâneas. A maioria das pessoas nunca os vê, mas eles são tão essenciais quanto a luz do sol e a chuva para os ecossistemas.
Os fungos conectam as árvores em uma comunicação silenciosa. Eles ajudam as plantações a resistirem a doenças e sobreviverem à seca. Sem os fungos, o solo enfraquece, as plantas sofrem e a biodiversidade entra em colapso.
Apesar de sua importância, os fungos raramente aparecem nas manchetes sobre conservação. Eles foram amplamente ignorados nos esforços ambientais – até agora.
Neste mês, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) lançou um alerta: os fungos estão ameaçados. E a ameaça é grave. O desmatamento, a expansão da agricultura e os incêndios florestais impulsionados pelas mudanças climáticas estão empurrando centenas de espécies de fungos para a extinção.
Heróis invisíveis da vida
A atualização mais recente da Lista Vermelha da IUCN revela uma tendência preocupante. Das 1.300 espécies de fungos bem documentadas, 411 estão em risco de extinção.
Esse número representa apenas uma fração do reino dos fungos. Os cientistas registraram cerca de 150.000 espécies até agora, mas estimativas sugerem que o número real pode ultrapassar 2,5 milhões.
Cada um desses organismos desempenha um papel na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas. Muitos fungos formam relações simbióticas com plantas, fornecendo-lhes nutrientes em troca de açúcares.
Essas relações são antigas, remontando a mais de 400 milhões de anos. A perda dessas conexões desmantelaria sistemas naturais que evoluíram ao longo de milênios.
“Os fungos são os heróis invisíveis da vida na Terra, formando a base dos ecossistemas saudáveis – ainda assim, foram ignorados por muito tempo”, afirmou a diretora-geral da IUCN, Grethel Aguilar.
Fungos: invisíveis, mas essenciais
Os fungos pertencem a um reino biológico próprio. Eles são distintos de plantas e animais. Suas estruturas, padrões de crescimento e métodos de reprodução são completamente diferentes. No entanto, sua presença sustenta tanto a flora quanto a fauna.
“Embora os fungos vivam principalmente escondidos no subsolo e dentro da madeira, sua perda afeta a vida acima da terra que depende deles”, explicou o professor Anders Dahlberg, micologista sueco que liderou a avaliação da IUCN sobre os fungos.
Dahlberg compara seu papel ao microbioma no intestino humano. Invisíveis, mas essenciais, os fungos permitem que os ecossistemas digiram, cresçam e respondam às mudanças. Quando os fungos desaparecem, os ecossistemas perdem resiliência.
As plantações se tornam mais vulneráveis, as árvores ficam menos estáveis e os solos perdem a capacidade de armazenar carbono.
O impacto humano nas redes fúngicas
Quase 300 espécies de fungos estão agora ameaçadas devido à expansão das terras agrícolas e ao crescimento das cidades. À medida que os assentamentos humanos aumentam e as fazendas se espalham, os fungos perdem seu habitat.
O desenvolvimento urbano compacta o solo, altera a drenagem e corta os fios subterrâneos dos quais os fungos dependem.
Os fertilizantes ricos em nitrogênio e as emissões de veículos também afetam os fungos. A IUCN destaca que 91 espécies estão diretamente ameaçadas pela poluição por nitrogênio e amônia.
Um exemplo é o Hygrocybe intermedia, um cogumelo amarelo-alaranjado encontrado em pradarias europeias. Antes comum da Escandinávia ao sul da Itália, agora enfrenta uma pressão severa.
O desmatamento causa consequências ainda mais graves. O corte de florestas antigas remove o único ambiente em que muitos fungos podem sobreviver. Ao contrário das plantas de crescimento rápido, muitos fungos não conseguem se adaptar ou migrar rapidamente.
“O desmatamento de florestas antigas é especialmente prejudicial, destruindo fungos que não têm tempo para se restabelecer antes do próximo ciclo de corte”, observou a IUCN.
Espécies icônicas de fungos estão desaparecendo
Algumas espécies ameaçadas já foram comuns, embora nenhuma das variedades comestíveis populares enfrente perigo imediato. Dahlberg observa que os tipos mais vulneráveis costumam ocupar nichos ecológicos específicos em comunidades fúngicas locais.
Uma dessas espécies é o Tricholoma colossus, que sofreu um declínio acentuado devido à destruição das florestas de pinheiros antigos na Finlândia, Suécia e Rússia. Desde os anos 1970, essas florestas diminuíram 30%, encolhendo junto com elas o habitat do Tricholoma colossus.
O público raramente ouve falar dessas espécies, mas sua perda enfraquece os ecossistemas. Cada fungo extinto leva consigo uma parte da memória, da função e da estabilidade futura da floresta.
As mudanças climáticas alteram o ritmo da floresta
O aquecimento global adiciona mais uma camada de ameaça. Nos Estados Unidos, mudanças nos padrões de incêndios florestais alteraram a dinâmica das florestas.
Agora, os incêndios queimam com mais intensidade, com maior frequência ou em regiões inesperadas. Mais de 50 espécies de fungos foram afetadas, com algumas à beira da extinção.
Um caso notável envolve o Gastroboletus citrinobrunneus, um fungo raro encontrado na Sierra Nevada, Califórnia. Devido ao aquecimento global, árvores de grande porte têm tomado conta dessas florestas de alta altitude, reduzindo o já limitado habitat do cogumelo.
Os fungos não podem fugir. Não podem simplesmente crescer em outro lugar. Quando a floresta muda, eles se adaptam lentamente – ou desaparecem rapidamente. A pressão climática força mudanças rápidas que os sistemas fúngicos nunca foram projetados para suportar.
O reino que mantém tudo unido
A Lista Vermelha da IUCN agora inclui quase 170.000 espécies, das quais mais de 47.000 enfrentam a extinção. Durante muito tempo excluídos da conservação tradicional, os fungos agora estão sendo reconhecidos por seus papéis insubstituíveis.
“Agora é o momento de transformar esse conhecimento em ação e proteger o extraordinário reino dos fungos, cujas vastas redes subterrâneas sustentam a natureza e a vida como a conhecemos”, afirmou Aguilar.
Proteger os fungos significa preservar as florestas, o solo limpo, as plantações saudáveis e a biodiversidade. Esses organismos silenciosos são os verdadeiros guardiões da natureza. Chegou a hora de escutarmos seu silêncio – e agirmos antes que ele se torne permanente.
Traduzido de Earth.com