Cães são animais com inteligência social, empáticos e capazes de compreender situações de perigo, sofrimento e ameaça.
Diversos lares pelo mundo contam com a presença de um cão doméstico como membro da família e sabem, por experiência própria, como eles são capazes de compreender e responder a estímulos.
De posse desse conhecimento fica mais fácil, embora não menos assustador, imaginarmos como esses animais não humanos se sentem ao serem sequestrados de suas casas, raptados na rua, colocados em gaiolas sem água ou comida, exibidos em um mercado, laçados pelo pescoço quando selecionados por compradores, espancados até quase a morte e finalmente queimados com um maçarico ainda vivos, enquanto agonizam e se debatem.
Isso tudo na frente de todos os demais cães, o que os deixa aterrorizados e cientes do que os aguarda.
Essa é a rotina do mercado de Tomohon, na ilha indonésia de Sulawesi. Quem denuncia o ato cruel e hediondo é Rupert Imhoff, pesquisador da Fundação Bob Irwin para a Vida Selvagem e Conservação de Espécies, que viajou até o norte de Sulawesi após ter conhecimento da denúncia.
Rupert descreve o fedor de pele carbonizada, que flutua pela “seção de carne” do mercado, como insuportável. “Moscas voam em torno das carcaças de cães, gatos, porcos e cobras que estão espalhadas pelo chão sujo de sangue”, descreve ele.
Imagens feitas pelos pesquisador mostram os cães apavorados se encolhendo para evitar o laço manejado pelo funcionário do mercado que entra pela jaula de metal em que eles ficam presos.
Um companheiro é puxado pelo pescoço após “enlaçado” e leva fortes pancadas na cabeça até ficar imóvel no chão.
O cachorro parece morto, mas imagens capturadas ainda esta semana, mostram o animal se debatendo freneticamente enquanto o trabalhador do mercado o queima com um maçarico até a morte.
Este cão estava entre os “centenas de milhares” de animais abandonados e em situação de rua que são mortos todos os anos para abastecer o comércio de carne de cachorro na Indonésia, denunciam diversos grupos de proteção animal.
O pesquisador constatou que além dos cães, outros animais domésticos, como gatos e coelhos – e animais selvagens também, como morcegos, ratos da selva, porcos e cobras – estavam à venda no mercado e passavam pela mesma crueldade.
O Jornal Daily Mail afirma ter tido acesso a imagens perturbadoras que mostram funcionários do mercado abrindo uma gata grávida que tinha dois gatinhos por nascer dentro dela.
Muitos cães que acabam nesses mercados são animais abandonados, em situação de rua e até animais domésticos que são sequestrados. Ladrões de cachorros usam motocicletas para roubar os cães. Eles os prendem pelo pescoço, puxam para si rapidamente e se afastam em alta velocidade, afirmam grupos de direitos dos animais.
Alguns cães também são capturados enquanto passeiam com seus tutores pela rua, e outros (mais raramente) são ainda comprados de aldeões pobres por “alguns dólares”.
Cães indonésios em situação de rua, na maioria das vezes não fogem dos ladrões de cães pois estão acostumados às pessoas que os alimentam regularmente e não os ferem.
Eles não vêem motivo para fugir.
Após capturados eles são amarrados e amontoados com os demais em gaiolas de arame que são transportadas para Tomohon ainda de madrugada, antes que o mercado abra às 6 da manhã.
Os caçadores chegam a amarrar os membros dos cães por trás de suas costas – o que pode deslocar seus ombros – e prendem suas bocas para que não possam morder.
Os animais que Rupert viu estavam visivelmente angustiados quando chegaram ao mercado por volta do amanhecer, eles estavam famintos e sedentos.
Um por um, eles eram laçados pelo pescoço, arrastados para fora da gaiola e golpeados na cabeça enquanto estava, suspensos pelo pescoço.
Enquanto os outros cães observavam aterrorizados, o funcionário joga o animal no chão e queima-o com um maçarico.
Rupert notou que alguns cães se contorciam freneticamente enquanto as chamas devoravam seus corpos, porém o pesquisador não sabe dizer com certeza se isso acontecia porque estavam vivos ou se seria a reação do cadáver ao calor intenso.
Um comerciante local contou a ele que muitas vezes os animais estão vivos – mas inconscientes – quando são queimados.
O número exato de cães e gatos mortos no comércio de carne do país não é claro, mas a Rede de Apoio a Jacarta afirma que mais de 200 mil são mortos a cada ano.
Embora o consumo de carne de cachorro seja legal no país, um “número crescente” de indonésios vêm se mostrando indignado com a maneira cruel com que os animais são tratados.
A maioria dos indonésios são muçulmanos, eles consideram os animais ‘haram’ – ou seja impuros – mas muitas comunidades menores do país comem carne de cachorro como um prato festivo.
Famílias vão a esses mercados na intenção de comprar um cachorro para comemoração de aniversários, casamentos ou outra ocasião especial.
Rupert viu pessoas de todas as idades, de jovens a casais de meia-idade e até idosos, escolhendo animais para comprar, e em seguida assistindo sua morte calmamente enquanto aguardavam para levá-los para casa.
Os comerciantes de carne vendem quase todos os cães e gatos que expõem, eles cobram cerca de 250.000 rúpias indonésias, cerca de 61 reais por animal, embora os clientes tenham a opção de pedir apenas uma parte específica.
Um dos pratos de mau gosto utilizando carne de cachorro chamado “rica-rica”, é infelizmente servido a turistas na ilha de Bali.
Rupert passou anos investigando e expondo a crueldade animal ao redor do mundo e é com pesar que ele confessa que o massacre do mercado Indonésio o chocou de maneira única. Ele descreve o episódio como um dos “atos mais violentos” que ele já testemunhou.
“Havia uma completa falta de empatia e compaixão pelos animais”, afirma ele.
O pesquisador conta que os cães gritavam de terror quando o comerciante os enlaçava dentro da gaiola e continuavam gritando até ficarem inconscientes: “Cães são animais inteligentes que anseiam por companhia, então era muito perturbador ver comerciantes de carne matando os escolhidos à vista dos demais que permaneciam engaiolados a metros de distância.”
Rupert confessa que chegou a pensar em comprar todos e libertá-los: “Mas sozinho apenas com uma moto para transportá-los, e sem recursos, não haveria nenhuma maneira realista de garantir sua proteção. Sem planejamento adequado e ajuda extra, eles simplesmente voltariam às mãos dos comerciantes de carne de cachorro.”
Esse costume indonésio, cruel e injustificável, de comer de carne de cachorro está associado à cultura Minahasa do norte de Sulawesi e aos Bataks do norte de Sumatra, onde é praticado em ocasiões especiais como casamentos e Natal.
É com dificuldade de compreensão que encaramos o fato de que pessoas celebrem momentos de alegria e união com crueldade, morte e destruição de outros seres, que assim como os humanos, são capazes de sentir, sofrer e amar.