Quem tutela um animal doméstico sabe o quanto é doloroso quando eles partem. O luto, a saudade e as lembranças acompanham a família por um bom tempo.
Em Araraquara (SP), um cemitério de animais é uma opção para quem decide sepultar ou cremar o animal, incluindo missas e cerimônias em uma capela.
No dia de Finados, celebrado neste sábado (2), trazemos algumas histórias de tutores que optaram por enterrar seus “filhos de quatro patas”.
Cachorro, gato, coelho, porquinho da índia, tartaruga e até peixe estão entre os 900 animais sepultados no “Saudade Animal”, o único cemitério para animais da região.
“Acredito que a importância de ter um espaço assim para os animais é um respeito a eles, porque fizeram parte das nossas vidas por muitos anos. E enterrar e ter um lugar para visitar ou mesmo cremar o animal é uma forma de preservamos a memória deles”, afirma a advogada Carol Mattos Galvão.
Família multiespécie
A advogada de 42 anos é uma das pessoas que tem seu sobrenome em plaquinhas de identificação entre os túmulos, na realidade, três plaquinhas. Após conviver por mais de 15 anos com Cida, Franscica, Cuca e Bloquinho , a advogada decidiu sepultar os cachorros para preservar a história deles, afinal, sempre os considerou como membros da família.
Carol contou que perdeu duas cachorras idosas em datas bem próximas. Cida tinha 17 anos e morreu no final de março de 2022. Menos de um mês depois, a doguinha Francisca, de 16 anos, também partiu.
“Elas eram minhas filhas mesmo e foi bem difícil perder as duas na sequência. Eu não costumo vir no cemitério com tanta frequência porque para mim é uma memória bem dolorida” disse.
O bulldog Bloquinho foi um cão muito calmo e amado pelos familiares de Carol. Quando ele morreu, a família não pensou duas vezes em dar uma despedida digna.
Uma caneca com a foto dele e uma poesia ainda estão no jazigo. Não é o único a ter objetos pessoais, outros túmulos têm brinquedos e até roupinhas dos animais.
Demanda alta
O cemitério já existe há dez anos, mas segundo o diretor Afonso Passos Neto, que também administra o cemitério Parque dos Lírios, a procura por sepultamento e cremação de animais domésticos aumentou muito após a pandemia de Covid-19.
Neste ano, o espaço foi ampliado e ganhou 900 novos jazigos, somados aos 600 já existentes. O tutor pode enterrar mais de um animal em cada túmulo.
“Muitos familiares pediam para fazer o sepultamento dos animais junto aos humanos e isso é uma coisa que a gente sempre tomou muito cuidado para não misturar. Começamos a perceber que as pessoas ficavam muito tristes de não poder sepultar o animal e reservamos esse espaço para acolhê-los”, diz o diretor.
“A gente imaginava que 30% iria renovar a concessão do espaço, porque alguns perdem o vínculo e as pessoas acabam adotando outros animais no decorrer do tempo. É diferente de sepultar um pai ou um avô. Mas hoje a gente vê que é o contrário. Cerca de 75% dos clientes renovam e cuidam dos jazigos”, contou.
Elo familiar
No cemitério está enterrada a lhaso apso Sasha, que presente no aniversário de 6 anos de Laura, da cirurgiã-dentista, Odilia Liliam Almeida Botelho.
Aos 14 anos, a menina não resistiu à leucemia e faleceu. A cachorrinha foi o elo e o suporte da família. Em agosto deste ano, a cachorrinha também partiu e foi enterrada no Saudade Animal que fica ao lado do Parque dos Lírios, onde a garota foi sepultada.
“Quando ela ficou doente, eu já pensei em enterrar a cachorrinha perto da Laura. Acho importante ter um lugar para animais, não me via colocando a Sashinha em outro lugar que não fosse lá, principalmente pelo elo entre elas. Elas tinham uma relação de muito amor, muito forte mesmo e depois que a Laurinha nos deixou, ficou esse elo dela aqui, foi uma pare dela que ficou aqui com a gente na figura da Sasha. Agora ela foi em paz encontra a mãe dela”, contou.
Cerimônias e homenagens
No feriado de Finados, missas, cultos evangélicos e palestra espírita são celebradas no espaço . Há também uma árvores na qual são colocadas cartinhas escritas pelos tutores como forma de homenagens aos animais.
A aposentada Sílvia Alves Pinto, 57 anos, que enterrou dois “filhos de quatro patas”, participa das homenagens no cemitério que enterrou os lhasas, Joe e July, em 2022 e em 2024, respectivamente.
“Eles ficaram velhinhos, o Joe teve problema de coração e a July foi de velhice mesmo. Hoje em dia eles são como nossos filhos mesmo, a gente convive com o animal por anos, e acho muito importante ter espaços como esse para a gente fazer nossas homenagens. Eu costumo vir sempre, não só em época de Finados”, comentou enquanto colocava um vasinho de flor na lápide de seus cachorrinhos.
Fonte: G1