Das 450 apreensões mensais no Ceará, um terço é de animais que estavam no poder dos criminosos. Por dia, uma média de 12 flagrantes são realizados pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e pela Companhia de Polícia Militar Ambiental (CPMA).
A preocupação com este delito não é recente. Há 10 anos, em setembro de 2001, o Diário do Nordeste lançou caderno especial, ´Nordeste Saqueado´, apontando denuncias de tráfico, entre elas as de animais silvestres “sequestrados” do Ceará.
Só neste ano, foram 1.902 salvamentos, um a cada duas horas no Ceará. São muitas vidas que sofrem, definham em caixas e sacos apertados, ultrapassando fronteiras e morrendo durante as longas travessias.
“Para cada animal comercializado, outros 12 morrem, sacrificados, esmagados em bolsas, sem comer e respirar direito”, afirma analista ambiental do Ibama, Carla Sombra.
No Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ceará, enormes gaiolas abrigam centenas de aves, dezenas de macacos prego, cobra. Muitas vezes machucados, desnutridos com bicos e asas quebradas.
Para Carla Sombra, a batalha é difícil. As famílias acham que abrigando os animais em jaulas espaçosas, dando-lhes comida e bebida, basta. Esquecem que o cativeiro é crime, podendo ser aplicadas autuações que variam de R$ 500 a R$ 5 mil, nos casos de animais ameaçados de extinção.
Pássaros
Expostos em feiras livres e em beiras de estradas, pássaros ficam à mingua esperando um comprador, os preços podem variar entre R$ 200 (tico-tico) e R$ 1.500 (papagaio real).
As aves exóticas são as principais vítimas. Representam, segundo o Ibama, 80% do total. Destas, 90% são passeriformes, os pássaros, caracterizados pelo belo canto (curió, canário da terra, coleiros e trinca-ferro, por exemplo). Os psitacídeos (maioria papagaios, seguido de jandaias, periquitos e araras) representam 6% e as demais ordens de aves correspondem aos outros 4% restantes.
Origem
Para o chefe de Fiscalização do Ibama, Roufran Ribeiro, o que mais complica a fiscalização é o fato de os animais estarem em residências, sob consentimento dos tutores dos animais, dentro de gaiolas, bem escondidos dos olhares da fiscalização. A venda de animais silvestres é ilegal e constitui crime ambiental, conforme a Lei 9.605/98.
Existem animais que estão em estado crítico na natureza e, por isso, relacionados na lista do Ibama como ameaçados de extinção.
“Contamos muito com o apoio da população, pedindo que denunciem buscando conscientizar a todos para não manter as animais em cativeiro. A rede de tráfico é grande demais, está em todo o Brasil. É difícil de desarticular”, aponta.
Roufran Ribeiro diz que o trabalho do Ibama é feito com ações de fiscalizações por meio de atividades de inteligência e recebimento de denúncias. O objetivo dessas ações seria averiguar a existência do tráfico de animais e detectar os envolvidos para possível punição.
Segundo o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, 60% dos animais, comercializados, são para consumo interno, o chamado mercado doméstico. Seguem para destinos internacionais 40% dos animais retirados da fauna brasileira.
Para o subtenente da CPMA, Francisco de Assis Araujo Garcia, policiais estão semanalmente fiscalizando em feiras livres e demais pontos. “É um trabalho constante que merece ser priorizado para que o delito diminua”, afirma o subtenente.
Fonte: DN