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Cavalos: vida e morte repletas de sofrimentos (parte III – Carne de cavalo)

11 de dezembro de 2008
Paula Brügger
4 min. de leitura
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O Brasil é o 5º maior exportador mundial de carne de cavalo e tem a 2ª maior tropa eqüina do mundo, com 5,9 milhões de cabeças.Em 2005, o Brasil exportou US$ 64,1 milhões em carne eqüina para países como Bélgica, Holanda, Itália, Japão, França, Austrália e Finlândia. Embarcada sob a forma de enlatados, a carne serve ao consumo de animais domésticos, mas também são produzidos cortes especiais para consumo humano. Há, no Brasil, sete grandes abatedouros exclusivos de cavalos, todos multinacionais. A indústria frigorífica movimenta R$ 80 milhões no país e emprega mil pessoas.

Matadouros de cavalos e outras atrocidades

Há alguns anos a imprensa noticiou a crueldade presente em alguns matadouros de cavalos, causando comoção nacional: 12 horas antes do abate eram privados de água e alimento, para amaciar a carne; eram conduzidos molhados a um corredor e, dali, tangidos com choques elétricos de 240 volts; a seguir tomavam uma pancada na cabeça e tinham suas patas cortadas com machado, tesoura grande ou serra, de forma a esgotar todo o sangue. Os animais, ainda vivos e com esses ferimentos terríveis, eram colocados em uma estufa para suar e, com isso, eliminar o “mal educado” cheiro de cavalo de sua carne. Imagens que respaldam, pelo menos em parte, tais denúncias aparecem no documentário Vida de cavalo, do Instituto Nina Rosa, e na Internet. Durante quase duas semanas essas imagens horrendas povoaram os pesadelos de muitos de nós, o que nos levou a entrar em contato por e-mail com um desses abatedouros. O teor dos três e-mails enviados foi o seguinte: “Gostaríamos de saber a procedência da carne dos eqüídeos que são abatidos (por exemplo, são criados para este fim ou são provenientes de veículos de tração animal, fazendas, equitação etc.). E qual método é usado no abate (sobretudo o processo de insensibilização)?”, mas até o momento não houve resposta.

Tudo isso só aumenta a nossa angústia, pois a lei nº 7.291, de 19/12/1984, que regulamenta as atividades da eqüideocultura no Brasil, tampouco é esclarecedora no que tange ao abate (capítulo V). Seus dois artigos – baseados numa razão totalmente instrumental e antropocêntrica – limitam-se tão-somente a assegurar o máximo proveito dos produtos que resultam do abate dos pobres animais, tais como fiscalização para garantir a qualidade da carne, em termos sanitários, e a não-extinção dos rebanhos. Não há preocupação alguma com os animais, nem sequer de cunho bem-estarista. Outros assassinatos de eqüídeos ocorrem em nosso país e no resto do mundo.

Um caso triste e bem conhecido é o dos cavalos selvagens de Dartmoor e New Forest, no Reino Unido. Mas não precisa ir longe. Em 2003 centenas de jegues foram mortos em Quixeramobim, no estado do Ceará, a golpes de pá, porque sua grande população estava supostamente atrapalhando o trânsito nas estradas. Esses indefesos animais, que por longo tempo foram úteis bestas de carga, são agora eliminados como objetos obsoletos, mortos de uma forma cruel que prioriza soluções de baixo. Os jegues também são abatidos para virar comida. Se a própria lei é omissa no que tange à forma como os animais devem ser abatidos em estabelecimentos oficiais (embora isso não os isente de observância à lei 9.605/98 e ao artigo 225 da Constituição), o que esperar de matadouros clandestinos? Em uma operação realizada pelo Ministério Público e outras instituições (em 23/09/2005), foram apreendidos cerca de 500 kg de carne de cavalo proveniente de um matadouro em Bicas (MG), no qual duas agendas com diversos nomes e endereços de restaurantes de Juiz de Fora foram encontradas. Durante a fiscalização em um deles, foram achados 3 kg de carne moída com as mesmas características do produto que estava no matadouro. Como morrem os animais, em lugares assim? “Meat is murder”, ou seja, carne é assassinato! De uma forma ou de outra, os animais que abatemos para consumo imploram por suas vidas nos corredores da morte, seja em relativo silêncio, ou fazendo uso de suas vozes, de suas formas de expressão: relinchos, grunhidos, cacarejos.

Raramente alguém pensa que, em sua condição de seres sencientes, os animais experimentam basicamente as mesmas emoções que nós, tais como ansiedade, angústia e mesmo pavor. Talvez seja até pior para eles, pois é possível que seus órgãos dos sentidos, mais refinados que os nossos em muitos aspectos, lhes dêem uma noção ainda mais aterradora sobre seu imediato porvir. Eles não entendem por que isso – uma morte cruel – lhes sucede. E talvez se perguntem: o que está acontecendo? E por quê?

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