O Clube Hípico de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo, está no centro de denúncias graves de maus-tratos a cavalos, expondo mais uma vez a realidade do hipismo. As denúncias, feitas por cavaleiros do próprio clube, relatam casos ocorridos em abril e maio deste ano, com sinais evidentes de agressão aos animais.
Em 12 de abril, um cavalo foi encontrado sangrando em sua cocheira, com um pedaço de chicote preso ao corpo após um treinamento na pista Sérgio Brandão. Imagens mostram lesões na barriga do animal. Um sócio do clube, que preferiu não se identificar, afirmou ter acionado a diretoria e a CBH, mas não obteve respostas por dias.
Já em 11 de maio, durante o Concurso de Salto Nacional 4, um competidor foi desclassificado após a descoberta de lesões causadas por tachinhas na pata do cavalo.
Um sócio do clube, que preferiu permanecer anônimo por medo de represálias, relatou que nunca havia visto cena tão brutal. Ele tentou acionar a diretoria e a CBH, mas suas denúncias foram ignoradas por semanas. Apenas após pressão, o jurídico do clube respondeu que o caso estava “em análise” – um claro descaso diante do sofrimento animal.
A direção do Clube Hípico de Santo Amaro informou, em nota, que o caso foi encaminhado à sua Comissão Disciplinar interna e que o associado envolvido foi punido. O processo também foi remetido ao Conselho de Ética da CBH, mas não há informações sobre o andamento.
A CBH, por sua vez, disse que recebeu a denúncia e a repassou ao Conselho de Ética, que está analisando o caso. A federação ressaltou que condena qualquer forma de abuso contra cavalos e segue normas internacionais de bem-estar animal.
Uma associada do clube há 20 anos, que também pediu anonimato, afirmou que a administração “sabia das agressões, mas não agiu”. Segundo ela, o responsável pelos maus-tratos continua frequentando o local sem restrições.
“Desde que cheguei ao clube, vejo esse tipo de comportamento. É mais comum do que se imagina. Reclamei várias vezes, mas nada foi feito”, disse.
O gabinete do deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) encaminhou um pedido de providências ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para que as denúncias sejam apuradas e os responsáveis, punidos. A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) prevê pena de detenção de três meses a um ano para quem maltratar animais.
Não se trata apenas de punir casos isolados, mas de repensar, de forma ética e urgente, a legitimidade do uso de animais em esportes que colocam sua saúde e bem-estar em risco constante. O hipismo, como tantas outras práticas que envolvem a exploração animal, precisa ser encarado pelo que realmente é: um espetáculo de dominação, disfarçado de esporte.