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Cavalo deitado ao seu lado é cavalo feliz!

29 de dezembro de 2014
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Alexander Nevzorov, o maior estudioso de cavalos, que aboliu a monta em sua Nevzorov Haute École, porque montar lesa os tecidos do lombo do animal e não acrescenta superioridade ou dignidade alguma ao animal que o monta, afirma que ter um cavalo a deitar-se nas proximidades de qualquer outro animal, mas especialmente dos predadores humanos, é a forma de o cavalo dizer que confia nessa pessoa, que não tem medo dela, que se sente seguro em sua companhia, na sua presença.
O cavalo é um animal de fuga, não de luta, nem de competição, nem de bravatas, já o reconhece o “domador de cavalos sem punição” que, incoerente e maldosamente ordenou que três peões brasileiros punissem cavalos para fazer um filme no qual ele se mostra salvador e não punidor de cavalos, Monty Roberts.
Competição, confronto, monta, tudo isso os humanos impingem aos equinos, violando seu éthos. O cavalo resolve seus problemas de confronto afastando-se da cena, a menos que esteja numa disputa sexual.
Ele prefere, acima de tudo, manter sua liberdade e tudo o que a ameaçar será deixado para trás, por esse animal. Por isso, quando se vê ameaçado de perder o bem mais precioso, sua liberdade, ele foge. E é somente para ater-se a essa fuga que ele evoluiu sua musculatura, para escapar-se de tudo o que o ameaça, fere, lesa e viola seu corpo.
Mas, por conta de sua anatomia, o cavalo tem dificuldade em pôr-se de pé rapidamente. Por isso, quando não se sente seguro, quanto sente medo, quando está ferido ou exausto, e seu temor de ser apanhado ou aprisionado aumenta ainda mais, o cavalo dorme de pé, razão pela qual vemos tantos cavalos caírem mortos atrelados a essas malditas charretes ou carroças carregadas. Eles não se deitam quando se sentem fracos, pois, na natureza, deitar-se enfraquecido é chamar os predadores para os devorar. Então, o cavalo segura em pé até cair, literalmente, morto!
Cuidar de cavalos? Precisa aprender a linguagem deles, baseada no bem mais precioso que essa espécie de espírito tem, a liberdade, e na vulnerabilidade psicológica, emocional e fisiológica, sua capacidade de perceber com o corpo toda e qualquer alteração no ambiente natural ou social que lhe traz desconforto, mal-estar, dor, tormento e pânico.
A égua ou o cavalo é um animal senciente no mais alto grau, tanto na capacidade de sentir dor, quanto na consciência de tudo o que a pode causar. Sem entender isso em cada cavalo e o modo como cada indivíduo construiu sua memória de vida, não há como cuidar de cavalos.
O que devemos restituir a elas e a eles? Sua liberdade de cerceamentos que ameacem sua estabilidade emocional. Liberdade de qualquer estímulo doloroso, seja na boca, no lombo ou nas patas. Monta zero. Sela zero. Freio zero. Tração zero. Comida velha zero. Fome zero. Sede zero. Prisão zero. Irritação zero. Agressão zero. Abolição de todas as “tradições” que historicamente nada mais são do que “traições” ao espírito equino, feitas pela doma milenar.
Zerando essa fatura, devolvemos o que roubamos deles há milênios. A égua e o cavalo precisam reconstituir a confiança de estar no mundo na presença humana sem ser atada ou atado a qualquer artefato, sem ter qualquer peso para tracionar, sem ter as carnes esmagadas por traseiros sedentários sovando seus tecidos ao longo da coluna ao ritmo do galope.
Deitar-se, assim, ao lado de um ser humano, é o ato ou o gesto mais grato e amoroso que um equino pode realizar. É sua linguagem para expressar paz, confiança, para expressar o reconhecimento de sua igualdade espiritual.
Uma imagem de presépio, essa! Você merece estar na presença desse animal, Patricia Fittipaldi. O animal sabe quem é você. Você a libertou dos tormentos de uma carroça de Petrópolis.

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