Pela primeira vez em quatro séculos, castores foram reintroduzidos legalmente nos rios da Inglaterra. A iniciativa, celebrada por conservacionistas, visa restaurar ecossistemas degradados e revitalizar habitats de zonas úmidas. Considerados uma “espécie-chave”, os castores são essenciais para a criação de ambientes aquáticos diversificados, beneficiando uma variedade de fauna e flora.
Extinção e retorno dos castores no Reino Unido
O castor-euroasiático, nativo da Grã-Bretanha, foi extinto há cerca de 400 anos devido à caça intensiva. Sua pele, carne e um óleo que secretavam eram altamente valorizados, levando à sua dizimação por motivos comerciais. No início dos anos 2000, castores foram avistados no rio Tay, na Escócia, provavelmente soltos ilegalmente. Após estudos que comprovaram impactos positivos no ecossistema, a população foi autorizada a permanecer. Hoje, estima-se que haja 1.500 castores na Escócia.
Na Inglaterra, a reintrodução começou de forma acidental em 2008, quando castores foram soltos ilegalmente no rio Otter, em Devon. Após anos de monitoramento (2015-2020), constatou-se que os animais trouxeram benefícios ambientais significativos, o que levou à decisão de permitir sua permanência. Desde então, o Natural England, órgão governamental responsável, tem trabalhado em planos para liberar castores em outras regiões do país. Atualmente, cerca de 500 castores vivem em estado selvagem na Inglaterra, muitos deles fruto de solturas ilegais, principalmente no sul do país.
Por que trazer os castores de volta?
Os castores são considerados engenheiros dos ecossistemas. Suas atividades – como a construção de barragens, lagoas e zonas úmidas – criam habitats ideais para diversas espécies, incluindo lontras, pássaros, peixes e insetos. Além disso, as barragens que constroem ajudam a filtrar a água, reduzindo a poluição, e as zonas úmidas sequestram carbono, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
Outro benefício crucial é o manejo hídrico. Com o agravamento da crise climática, a Inglaterra enfrenta enchentes e secas mais frequentes. As estruturas criadas pelos castores retêm água, mantendo o solo úmido durante períodos de estiagem e reduzindo o fluxo de rios, o que diminui o risco de inundações em áreas urbanas.
Próximos passos
Organizações ambientais e indivíduos podem agora solicitar licenças ao Natural England para soltar castores em áreas específicas. O Wildlife Trusts, por exemplo, já tem planos para o sudoeste da Inglaterra. Projetos como o Knepp, em Sussex, aguardam permissão para liberar seus castores criados em cativeiro. À medida que as licenças forem concedidas, espera-se que os castores recolonizem gradualmente os rios ingleses.
A reintrodução dos castores pode ser apenas o começo de um movimento maior de renaturalização no Reino Unido. Espécies como águias-do-mar, gatos selvagens, javalis, linces e até lobos estão na mira de conservacionistas, que buscam restaurar a biodiversidade perdida ao longo dos séculos.