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ADAPTAÇÃO

Casal surdo adota e ensina Libras a cachorro que também não escuta

No novo lar, Zoki já aprendeu comandos em sinais para sentar, deitar e comer

20 de setembro de 2025
Bruno Almeida
5 min. de leitura
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Foto: Arquivo pessoal/Jean Fenato

Um casal de São Paulo comoveu diversas pessoas nas redes sociais depois da chegada de um novo integrante da família. Jean e Mayara são surdos e agora divide o apartamento com o Zoki, cachorrinho de menos de um ano de idade, que também não escuta. Agora, eles ensinam comandos em Libras para o novo cãozinho da família, que com poucos dias já aprendeu alguns dos sinais para ‘sentar’, ‘deitar’ e ‘comer’.

A história do Zoki começa quando ele ainda se chamava Cotton, no Instituto Eliseu, em Santos, no litoral de São Paulo, e um vídeo em que ele aparece dormindo viralizou. Na gravação, um rapaz aparece soprando levemente no focinho do filhote para acordá-lo sem susto.

A surdez de Zoki é uma condição que costuma ser comum em animais com heterocromia, condição ocular ou corporal de animais com uma variação na cor de uma íris ou de outras partes do corpo.

Com a web comovida, era questão de tempo até Zoki ser adotado. No entanto, o instituto queria encontrar tutores que pudessem proporcionar uma boa adaptação para ele. O perfil buscado era de um casal maduro e que tivesse paciência para lidar com as particularidades de um animal deficiente auditivo.

Mas a afinidade entre o filhote e os novos tutores superou as expectativas do instituto. O profissional de Tecnologia da Informação Jean Fenato, de 36 anos, conta que ele e a esposa, a bancária Mayara Mangolin, de 33, não planejavam adotar um animal naquele momento. Ao se depararem com a história do cãozinho nas redes sociais, eles mudaram de ideia.

Eles fizeram contato com o instituto e foram a Santos para seguir com o processo de adoção. “Muita gente não queria adotar ele por ser surdo, aí meu coração falou alto”, diz Jean. De volta a São Paulo, o casal passou a apostar na comunicação em Libras com Zoki, utilizando o corpo e, em especial, as mãos, para comunicar comandos e orientações.

“Estamos adaptando muito rápido, porque já entendemos como é ser surdo. É preciso ter mais paciência com ele e é preciso repetir várias vezes. Nossa estratégia é simples: é repetir os sinais até ele aprender e acertar. Aí nós damos petisco como recompensa. Isso é importante porque é uma comunicação de sinais, assim como com a comunidade surda”, explica Jean.

Encarar o desafio de criar um filhote que não escuta se tornou mais natural pela própria vivência com a surdez de Jean e Mayara. “O que mudou para nós é a responsabilidade, amor, empatia… Ele nos faz mais alegres, e a casa não é mais silenciosa porque ele é barulhento de energia boa”, continua. Segundo o casal, Zoki já aprendeu comandos como “sentar”, “deitar”, “esperar” e “parar”.


Leila Abreu, presidente do Instituto Eliseu, entidade que acolheu o animal, conta que Zoki chegou até ela depois de a antiga tutora desistir de cuidar dele. Na ocasião, a mulher teria alegado falsamente que o havia encontrado na rua, afirma Leila. A equipe suspeitou da história e, ao notar a heterocromia, realizou testes que confirmaram a surdez.

Durante as avaliações, percebeu-se que o filhote não reagia a nenhum tipo de som, mas acordava com um simples sopro no focinho, gesto que mais tarde se tornaria viral nas redes sociais.

“A gente percebeu que realmente ele não reagia a sons metálicos, a voz, a sons abafados. E quando ele deitava para dormir, que ele estava completamente desligado, você podia bater com uma panela do lado dele que ele não acordava”, lembra a presidente do instituto.

A falta de experiência com um animal doméstico não foi problema, aponta Leila. “Eles nunca tiveram cachorro, eles não têm experiência nenhuma com cães, mas entendem a dificuldade que é se comunicar e não poder. Então eu tinha certeza de que eles iam ter toda a paciência do mundo com esse animal”, completa.

Fonte: Terra

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