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Carta aos tutores dos cães acorrentados

11 de novembro de 2010
3 min. de leitura
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Fabiana
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Carta aos tutores dos cães acorrentados:

“Querido tutor, consegui que escrevessem esta carta por mim. Nem sabes a alegria que sinto por poder comunicar contigo. Todos os dias, desde aquele dia longínquo em que me colocaste a corrente no pescoço e me prendeste neste espaço, eu sonho que me vens visitar e fazer festinhas como me fazias quando eu era um bebê.

Eu sonho que vens conversar comigo, não entendo muito bem o que me dizes, mas nem imaginas como adoro ouvir o som da tua voz! Eu sei que fiz algo de errado, senão certamente não me terias colocado aqui. Desculpa! Não quero ser exigente, mas começa a doer ter esta corrente atada ao meu pescoço. Ás vezes tenho o pescoço dormente, e outras vezes tenho muita comichão e nem consigo coçar! Sinto o seu peso todos os dias, o peso da solidão que me prende.

Tenho vontade de esticar as pernas e correr e como eu gostava de poder fazer isso contigo. Adorava que me atirasses umas bolas, aí eu podia mostrar-te como sou rápido a correr e como tas trazia rapidamente. Gostava de poder ver o que tu vês, o mundo lá fora é muito grande? E existem outros como eu? Às vezes tenho sede e alguma fome, mas eu aguento em silêncio porque sei que assim que podes vens cá dar-me comida e água, sei que fazes o que podes, eu não quero incomodar, mas sabes, por vezes gostava de ter um pouco da tua companhia.

Sei que talvez alguém te tenha dito que eu não tenho sentimentos, mas olha que é mentira! Nem imaginas quanta alegria sinto quando alguém me toca ou se dirige a mim. Nem sabes quanta tristeza e solidão pesa em mim nas longas horas que não vejo ninguém. Nem sabes o medo que por vezes sinto no inverno aqui sozinho, e tenho tanta vontade de estar perto de ti.

No outro dia passaram aqui umas pessoas estranhas e puseram-se a olhar cá para dentro e a apontar para mim, riam e atiravam umas pedras na minha direção. Queriam vir fazer-te mal. Acertaram-me com uma na pata e ontem não consegui levantar-me, mas eu afugentei logo com o meu ladrar. Eu não quero que ninguém te venha fazer mal… e não quero que te zangues comigo, eu prometo fazer melhor por ti.

Eu sou o teu amigo mais fiel, nunca te irei trair, não guardo rancor, e não tiro nunca o lugar de ninguém, será que tens mais amigos assim no teu mundo? Só queria um pouco mais da tua atenção e amor, uma cama quente no inverno, um local fresco no verão e o teu cheiro a entrar-me nas narinas todos os dias, seguido de um sorriso e uma festa no meu velho lombo.

Eu sei que um dia tu irás chegar aqui e tirar à corrente, e dar-me tudo isto, até lá eu fico quieto à espera. Só não demores muito meu tutor, porque estou a ficando velho e começo a ver e ouvir mal. Faltam-me forças e não quero ir, sem viver um pouco contigo.

Do teu cão”

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