Com a restrição da circulação de carroças e carrinhos em parte da cidade de Porto Alegre, o primeiro grupo de carroceiros entregou nesta quinta-feira (14) seus equipamentos e cavalos para a prefeitura da capital gaúcha. Em troca, os trabalhadores recebem indenização e qualificação profissional, segundo o Executivo.
A iniciativa faz parte do Todos Somos Porto Alegre – Programa de Inclusão Produtiva na Reciclagem. Nesta quinta-feira, 42 famílias entregaram voluntariamente 73 equipamentos e animais utilizados na coleta do lixo. A solenidade aconteceu no Centro Administrativo Regional (CAR) Glória, Cruzeiro e Cristal. A indenização é de R$ 2 mil por carroça e cavalo, de R$ 1,2 mil somente pelo cavalo, de R$ 800 somente pela carroça e de R$ 300 pelo carrinho de tração humana. Os valores, segundo a prefeitura, serão creditados aos tutores em até dez dias.
“Agora a vida da minha família vai melhorar. A gente não precisa mais do lixo”, disse o carroceiro Hilson Laguna. Qualificado no curso de produção de blocos sustentáveis para calçamento, ele agora pensa na nova fase que está por vir, com outro trabalho.
O grupo que participou desta etapa da qualificação se organizou numa cooperativa e deve produzir o material que será comprado pela Secretaria Municipal de Obras e Viação para utilização em obras públicas. “Eu e minha mulher, que também está fazendo o curso, vamos trabalhar em local abrigado. Não vamos mais ter que ficar no tempo, no sol ou na chuva. E a nossa renda vai melhorar, com certeza”, comemora. Ele e a mulher entregaram uma carroça, um cavalo e um carrinho e receberam R$ 2,3 mil de indenização.
As carroças e os carrinhos serão encaminhados à reciclagem. Os cavalos serão recolhidos pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e levados ao abrigo para animais situado na região Extremo Sul. Depois de receber atenção de veterinários, os animais receberão chip para monitoria e serão disponibilizados para adoção por meio da Secretaria Especial dos Direitos dos Animais (Seda).
O prefeito José Fortunati entregou pessoalmente os cheques simbólicos aos beneficiados e destacou a importância da adesão dos carroceiros e carrinheiros ao programa. “Nós temos que pensar que são famílias que dependem dessa atividade. Não podemos simplesmente tirar as carroças e carrinhos das ruas e não qualificar e garantir a colocação dessas pessoas no mercado de trabalho.
Então, nós estamos qualificando, buscando alternativas de renda e proporcionando a inclusão dos carroceiros e carrinheiros em empregos onde eles vão trabalhar de forma digna com uma renda suficiente para sustentar suas famílias”, disse Fortunati.
O programa
As ações do Todos Somos Porto Alegre são desenvolvidas em contrapartida à restrição gradativa de circulação de carroças e carrinhos na Capital, determinada pela Lei nº 3.581/08, e que começou a ser aplicada no dia 1º de outubro, nas regiões Centro-Sul, Cristal, Cruzeiro, Glória, Lomba do Pinheiro, Partenon e Sul. A proibição deverá ter validade para praticamente toda cidade até junho de 2015.
O programa foi criado para assegurar o ingresso de trabalhadores da coleta e separação de resíduos sólidos no mercado formal de trabalho. Para tanto, o programa oferece cursos profissionalizantes gratuitos, com concessão de bolsa de estudo no valor de um salário mínimo – R$ 678; vale transporte e, em alguns casos, cesta básica. O programa contempla, ainda, reforma, construção e aperfeiçoamento na gestão de unidades de triagem.
Ao todo, 1.709 famílias foram cadastradas. Segundo a prefeitura, todos os beneficiados poderão escolher até três cursos antes de entregar seus equipamentos. Os que não conseguirem colocação no mercado de trabalho deverão ser empregados nas unidades de triagem. A prefeitura também discute outras atividades alternativas.
O secretário municipal de Governança Local, Cezar Busatto, conversou com os carrinheiros e carroceiros sobre alguns ajustes que devem ser feitos no programa. Busatto destacou que existem casos especiais que necessitam maior atenção do governo, como idosos e analfabetos. O secretário também disse que esta primeira etapa serve para diagnosticar e corrigir possíveis falhas, como a disponibilidade do vale transporte antes da entrega dos equipamentos, que muitas vezes são utilizados pelos beneficiados para o deslocamento até os cursos de qualificação.
Fonte: Terra