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Carioca abre as portas de sua casa e acolhe animais abandonados

4 de julho de 2011
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Paty do Alferes, no Rio de Janeiro, é um lugar onde muita gente que vive na cidade grande sonha em viver. A terapeuta holística Eliane Brasil também sonhava e veio. Comprou um sítio com a ideia de receber amigos. Deu tudo certo, só que os amigos que chegaram não eram os imaginados.

Os animais foram ocupando cada vez mais espaço na vida e no lugar que Eliane escolheu para morar. O sítio, que tem 6.500 m², foi transformado em um grande condomínio para gatos e cães. É tudo muito organizado. O sítio tem quatro casas onde vivem 210 animais: 150 gatos e 60 cachorros. Todos um dia foram rejeitados.

Foto: Reprodução/ TV Globo

“A maioria foi deixada aqui. Eram deixados em sacos, em caixas. São jogados aqui dentro”, relata a terapeuta. Eliane recolhe, alimenta e dá, além de carinho, o tratamento que cada um precisa. Ela gasta cerca de R$ 12 mil por mês e tem apenas dois empregados. A mãe ajuda com uma parte, o resto vem de amigos.

Ela é uma mãe para todos e, apesar de serem tantos, consegue tratar cada um como se fosse único. No jardim, em vez de flores, gatos de todas as cores, de todos os tamanhos. Mesmo assim, faltou espaço. A Eliane não teve dúvidas: abriu as portas e as janelas da própria casa para abrigar os animais que tanto ama. Eles não têm nenhum problema com espaço e andam por onde querem.

Solteira e sem filhos, Eliane mostra, com orgulho, o sítio onde os animais são separados em grupos. ”Eles são separados por idade e, também, toda faixa de idade tem uma outra idade incluída para dar um equilíbrio. Então, lá os bebês de zero a três anos têm as matriarcas idosas, meigas. Aqui que são os idosos de 13 anos, de 7 anos têm bebês meigos, dóceis”, declara Eliane.

A terapeuta é uma pessoa que tem dívidas e está sempre com a roupa cheia de pêlos. Os braços e as mãos estão cheias de arranhado de gato, mas ela conta que é feliz: Eu acho que ninguém é feliz. Agora eu estou nessa experiência. A gente não sabe se é para a vida toda, porque eu nunca sei o que o baú vai trazer. Nesse momento, eu estou super identificada com esse monastério e me sinto super feliz com eles (os gatos)”, explica.

Ela se emociona quando conta como se sente: “É meu trabalho. Eu fico feliz, quando eu estou fazendo. Quando eu resgato um ser que ele está absolutamente quebrado e ele restaura, eu vejo ele correndo, feliz aqui, inteiro, eu digo ‘uau’. É muito bom fazer isso. Poder fazer parte disso nesse mundo, uma atitude homeopática nesse universo para trazer paz e harmonia”.

Longe da serra do Rio de Janeiro, o som que vem da mata, na Serra Gaúcha, é assustador.

É o ronco do bugio. Nativo do Rio Grande do Sul, ele faz esse barulho todo para demarcar território. Os bugios são alguns dos hóspedes que vivem nesse sítio. Ao contrário do sítio da Eliane, que abriga cães e gatos, o sítio do oncologista Hugo Schunemann só abriga animais silvestres.

A maior população é de primatas: são 130 saguis, macacos pregos, macacos da noite, de cheiro e bugios. Passam fazendo macaquices e cuidando da família.

Foto: Reprodução/ TV GLobo

Há centenas de aves e papagaios tagarelas. Lá também têm tartarugas e veados, bem mansinhos. Mas o que parece um paraíso é, na verdade, o retrato de um desastre. “Eu acho uma tristeza, porque a gente vem tendo um número crescente de animais à disposição, o que significa que ou o tráfico, que é uma fonte de origem desses animais, está aumentando, ou porque não existe mais floresta para eles viverem”, relata o oncologista.

Hugo é um protetor e tanto. Ao mesmo tempo em que, como médico, luta para salvar pessoas com câncer, também batalha para salvar todos os animais Ou, pelo menos, dar dignidade ao que restou de suas vidas.

Hugo conta que é mais fácil ser médico, que cuida de doentes com câncer, do que tentar proteger os animais. “Eu vou te dizer que na oncologia, nos últimos 15 anos, a gente fez avanços fantásticos. A gente cura pessoas que, há 15 anos, não se curava. A gente melhorou muito o tratamento e, quando eu olho esses animais, a gente vê pelo aumento dos casos, pelas informações, que a gente tem que só estar piorando a situação. Então, eu acho que é mais fácil ser médico oncologista do que enfrentar essa questão”, declara.

O médico sustenta os animais, e o abrigo, praticamente com dinheiro do próprio bolso. Ele não é tutor de nenhum desses animais, mas tem licença do Ibama para abrigá-los.

Essa gente leva a sério o trabalho e não para nem quando vai para casa. A moira cria o filhotinho de bugio que ficou órfão. A mãe foi atropelada. Se não fossem os cuidados dela, ele não teria chance.

Mas ela sabe que logo, logo o filhote terá que conviver com companheiros de espécie e ela ajuda o macaquinho nos primeiros contatos. Assim, um pouquinho a cada vez, chegará o dia em que ele não voltará mais para os braços dela.

O professor de biologia Jackson Muller ajudou a fundar o sítio e é responsável pelas parcerias com as universidades nos estudos feitos no criadouro. “Então, o que se procura com esse projeto é gerar o conhecimento e trabalhar o aspecto da condição ambiental com as gerações mais novas, com as crianças, com os adolescentes, para que esse hábito, essa cultura de ter o animal preso, seja substituída pelo animal solto, pelo animal na natureza”, diz.

De cada 10 animais retirados da natureza, em média nove morrem.

Hugo nem precisou convocar a família: Adela e as filhas, as estudantes Anna Augusta Schunemann e Luise Helena Schunemann que sempre ajudaram. “É bom ficar aqui. Eu estou acostumada desde pequenininha, Venho aqui, ajudo”, diz Anna.

Fonte: G1

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