“Eu sempre fui muito ligada à natureza e, principalmente, aos animais. O que me surpreendeu nesse caso foi o fato deles procriarem em um lugar extremamente urbano. Estamos cercados por três escolas, uma igreja, uma unidade da UPA, o Centro de Especialidades Odontológicas e Central de Ambulâncias e eles não se importam com o movimento”, relata.
De acordo com Renata, moradores antigos do bairro revelaram que o local era uma antiga fazenda que foi loteada por volta dos anos 80.
A ave, pelo visto, se adaptou ao cenário de concreto à sua volta, e, apesar das dificuldades desse ambiente, encontrou ali um local para procriar próximo de onde encontra também alimento.
“Esse registro de uma família em uma área extremamente urbanizada é muito curioso. O que a mantém ali certamente deve ser a proximidade à uma área úmida. A alimentação da espécie é bem restrita, sendo composta principalmente de moluscos de água doce, especialmente caramujos do gênero Pomacea, que é o mesmo alimento do gavião-caramujeiro”, explica o biólogo Luciano Lima.
A presença da família de carão pela Unidade de Saúde gera muitos questionamentos, mas o que não dá para negar é que essas aves promovem também uma dose diária de alento para quem pode observá-las.
“É um momento de conexão com a natureza, de reflexão, minutos meditativos que fazem a gente respirar em meio da atividade de um Ambulatório. Esse contato traz um momento de respiro e conforto, os pacientes também contemplam e eu faço questão de mostrar”, comenta Renata.
O carão é uma ave peculiar que integra a família Aramidae. Ela vive em ambientes de áreas úmidas, como lagos e brejos.
Mede até 70 cm de comprimento e apresenta as penas com tons pardo-escuro. Uma característica que ajuda na identificação dessa ave aquática é que ela possui penas brancas na região do pescoço, que formam um estriado. Macho e fêmea são idênticos. No período reprodutivo a fêmea pode colocar até seis ovos.
De acordo com o biólogo Luciano Lima, esta ave apresenta curiosidades na questão parental. “Além de construir o ninho que é abandonado assim que os filhotes nascem, os pais constroem uma plataforma de criação para onde os filhotes são levados e cuidados durante as primeiras semanas de vida. Com pouco menos de dois meses o filhote começa a voar e por volta de quatro meses abandonam o território dos pais para seguirem a própria vida”, explica.
Com ampla distribuição pelo país, o carão também pode ser encontrado na Flórida, México, Argentina e Uruguai.
Fonte: G1