Recentemente uma pessoa famosa foi vista com um casaco de pele. A pele era falsa, mas como a celebridade é alvo de fofoca, só depois foi confirmado o fato. Até então, os mesmos que espalharam o boato, não se furtaram de usar seus sapatos e artefatos de couro – que é pele sem pelos – nem deixaram de tomar leite, nem de praticar toda a extensão do mal que causam aos animais. Mas julgam-se defensores, gritam em nome de uma justiça que talvez não sejam capazes de fazer.
O que a celebridade incentivou, na verdade, foi a indústria têxtil que não utiliza peles de animais.
O que essas pessoas ‘críticas’ incentivam, é a indústria do couro e o cinismo, de que se pode comer e utilizar uns, e sacralizar outros. É muito mais nocivo usar algo de origem animal, mesmo escondido, do que usar um produto que poupe os animais. Lembrando que os curtumes de couro podem poluir até muito mais, pois é mais comum. Nas lojas, vendedoras mal informadas dizem: couro é caro. Mentira. Existem couros animais de todos os tipos, vagabundos. A carne e o couro brasileiro nem são aceitos em alguns países pela sua baixa qualidade, exploração do trabalho e poluição.
O purismo de evitar as comidas veganas que ‘lembram’ carne beira a ingenuidade, já que o sabor é independente do formato e da origem. O sabor defumado da carne, soja ou glútem, bem como embutidos, vem da fumaça, basicamente. É um método antigo e era aplicado até mesmo ao chá na China.
É preciso deixar de endeusar a carne e esse é um erro que até mesmo veganos cometem quando se recusam a comer coisas veganas, só porque se parecem com carne. Não se desapegaram, é preciso desencanar. Desprezam a criatividade dos chefs, os avanços da indústria e mercado, que criam sabores atribuídos erroneamente à carne. Ficar implicando porque algo parece ovo ou lembra o gosto de queijo é preciosismo, pois animais estão morrendo de verdade e as pessoas os comem muito mais por vício, lobby e imposição social. É um resquício da visão especista achar que livrando-se da forma, liberta-se do conteúdo.
Os alimentos práticos foram criados para o dia a dia. A salsicha, por exemplo, era feita de tripas de animais. Foi substituída por celulose vegetal. Os veganos substituem seu conteúdo por produtos vegetais. A salsicha tem praticidade semelhante à banana, uma fruta que nem precisa ser lavada e pode ser consumida em qualquer parte. O leite vegetal, o (‘milk’)-shake vegetal, o pão, tudo é prático e não queremos deixar de comê-los. Queremos deixar de explorar os animais.
Toda a alimentação vegana corresponde à alimentação que ‘lá fora’ é de origem animal. A pizza vegana, é uma versão da pizza que, comumente é feita com ingredientes de origem animal. Um cogumelo (Reino Fungi) que, botanicamente falando, não é nem do Reino Vegetal nem do Reino Animal, tem sabores que lembram carnes na maior parte das vezes. Ele é saboroso e nutritivo. Até mesmo um inocente azeite aromático que eu preparo em casa com alho e manjericão, tem gosto de linguiça! Pois a base do tempero da linguiça é praticamente a mesma.
Algumas coisas, ao contrário, eram originalmente vegetais, e foram adaptadas à culinária tradicional por misturas culturais e as pessoas nem sabem, mas se recusam a comer a versão vegana. Há sabores únicos na culinária vegana, porém, pode-se criar pratos comuns, como os que lembram as coisas da infância, trazendo para perto da filosofia vegana, muitas pessoas.
O argumento de que a carne é nojenta não coloca em dúvida o ato de comer ou não animais. Questões particulares não se aplicam ao todo. A carne e derivados de origem animal, ovos, leite, queijo, couros-peles, são símbolos de exploração, porém atribuir nojo como o único argumento para o não consumo de carne não sensibiliza quem come carne e não sente nojo algum, pois este não foi o motivo que fez a maioria das pessoas a parar de comer carne. Nem mesmo o argumento de que ela faz mal para a saúde é convincente, já que há pessoas saudáveis a consumir animais.
O incômodo para elas é de outra natureza. Há pesquisas aos montes comprovando a longevidade e saúde dos veganos, do nascimento à velhice. Mas o ser vegano é um estilo de vida baseado na ética, pois somos contrários à exploração de animais ‘felizes’ e às ditas galinhas saudáveis e vacas verdes, já que é o mesmo que bater com permissão ou com anestesia.
Não há um selo que consagra à pecuária e à carne e derivados de origem animal a detenção dos direitos sobre os sabores, formatos e até mesmo os nomes para alimentos e para o nosso paladar. Então é preciso acordar para o fato de que não existe patente requerida para o sabor.