A Delegacia de Proteção Animal diz ter constatado que as capivaras do Lago do Café, em Campinas, a 93 km de São Paulo, sofreram maus-tratos até o cumprimento da autorização para o sacrifício. De acordo com a delegada Ronasa Mortari, na área onde ficavam os animais havia comida envelhecida e sem condições de consumo.
Os depoimentos e a análise fazem parte do termo circunstanciado que apurou denúncias de maus-tratos aos animais. De acordo com a delegada, foram encontrados alimentos velhos e podres misturados com alimentos novos, sacos plásticos misturados na comida, sem limpeza para evitar uma contaminação. Além disso, houve negligência por parte da prefeitura por não ter separado machos de fêmeas.
O laudo do médico veterinário constatou que havia uma capivara que aparentemente estava grávida, mas que para a comprovação disso precisava ser feito um estudo mais aprofundado. Os animais que estavam no local aparentavam ter no máximo de dois a três anos, o que indica que ocorreu procriação e que muitos não faziam parte das 35 capivaras que foram confinadas desde 2008.
A delegada aguarda a conclusão do laudo feito pelo Instituto de Criminalística (IC) para concluir as investigações. Depois, o caso vai ser encaminhado para a Justiça. Além disso, ela vai abrir uma nova investigação para apurar o sacrifício das capivaras, já que a delegacia não foi avisada e os peritos não puderam acompanhar o processo.
Sobre a situação de maus-tratos, a prefeitura disse não ter sido notificada e desconhecer as informações. De acordo com o secretário de saúde Francisco Kerr Saraiva, 12 veterinários realizaram o sacrifício com sedação e injeção letal.
Entenda o caso
As capivaras que estavam confinadas no Lago do Café foram sacrificadas na noite de sábado (12), em uma operação que envolveu técnicos da Vigilância Sanitária e de setores da prefeitura municipal. O processo de sacrifício, realizado entre as 16h e as 21h, foi realizado por pelo menos 25 pessoas e não foi divulgado por se tratar de “assunto técnico, em que não é necessário avisar a população”, de acordo com secretaria.
Entre 2006 e 2008, três funcionários da prefeitura que trabalhavam no Lago do Café morreram com febre maculosa. O parque, uma das principais áreas de lazer de Campinas, foi interditado por causa da infecção do carrapato-estrela. Nos últimos dois anos, foram registradas sete mortes por febre maculosa na cidade.
A eliminação das capivaras, hospedeiras do carrapato-estrela, viraram motivo de polêmica entre a prefeitura e um grupo de ambientalistas da cidade, que tentaram na Justiça impedir o sacrifício, mas não conseguiram.
Manifestação
No domingo (13), representantes do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais de Campinas, do Peta, da Associação de Amigos dos Animais de Campinas (AAAC) e dos Ativistas Veganos Independentes usaram cruzes, cartazes e acenderam velas para informar a população sobre a morte das capivaras.
Na noite de sábado, pelo menos 30 pessoas, representantes do conselho e de outras entidades de proteção dos animais, foram até o Lago do Café, depois de serem avisados por moradores vizinhos do parque sobre o sacrifício, mas foram impedidos de entrar pela Guarda Municipal, que chegou a jogar gás de pimenta, de acordo com o presidente do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais.
Fonte: G1