Segundo ela, o mais recomendado no caso seria um procedimento cirúrgico. Porém, o cão tinha comorbidades e o valor da cirurgia foi considerado alto para o tutor. Desta forma, Lais sugeriu o tratamento com uma lente de contato terapêutica humana, feita de silicone e sem grau, para proteger o olho.
“Era a única alternativa. Pensei: ou eu protejo essa lesão, ou esse olho vai realmente perder todas as chances, mesmo que sejam mínimas”, relembrou a profissional.
A veterinária explicou que usou um colírio anestésico para colocar a lente sem o cachorro sentir dor e não deu garantia ao tutor de que o cão voltaria a enxergar, uma vez que a lente de contato é pouco usada em casos graves e as sequelas da lesão seriam melhor revertidas com cirurgia.
Resultado
Lais disse que se surpreendeu com o resultado, pois o cão voltou a ter reflexos com 10 dias de uso da lente e, 5 dias depois, parou de usá-la. “O paciente passou por um tratamento intensivo de uso de colírio, a cicatrização ocorreu de uma forma muito positiva e não houve sequelas”, celebrou.
De acordo com ela, a lente serviu como um “curativo transparente” para proteger o olho da própria pálpebra, pois os movimentos de abrir e fechar comprometem o processo de cicatrização em uma lesão.
“Ele voltou a enxergar, pois a lente, além de fazer proteção mecânica, ajudou a sustentar as estruturas. […] A lente permitiu que a córnea se recuperasse, controlando o processo doloroso e garantindo proteção durante todo o tratamento clínico. Após a cicatrização total da lesão, o edema regrediu e o animal readquiriu visão plena, sem sequelas estruturais”, explicou.
Segundo a veterinária, as chances de o cão ficar sem enxergar eram de aproximadamente 95%, mas o resultado do tratamento foi melhor do que o previsto. “Um caso que realmente me surpreendeu e surpreendeu a todos os colegas de profissão”, afirmou Lais.
Apesar disso, ela ressaltou que a técnica não trata casos de cegueira irreversível. “A recuperação ocorre quando a perda visual é consequência da lesão e da inflamação, e não de danos permanentes nos tecidos responsáveis pela visão”, disse.
O atendimento ocorreu em fevereiro deste ano, em um hospital na capital paulista, mas acendeu um alerta para a especialista sobre novos tratamentos. Lais levou o método para Itanhaém, onde tem a maior demanda de trabalho, e o aplicou em casos similares.
“Hoje, claro que a literatura não vai abraçar a causa de substituir uma cirurgia pela lente de contato, mas é um recurso alternativo quando nós temos impossibilidades de um procedimento cirúrgico”.
Lente humana
Ao g1, Lais contou que existe uma lente de contato específica para cães, mas o custo é maior do que o objeto usado em humanos. A única diferença é que possui círculos pretos para ser vista por veterinários.
“Eu utilizo a lente de contato terapêutica humana e nunca tive problema nenhum. A diferença é que ela é transparente. E aí, cabe a nós conseguir identificar […]. Quando o paciente vem para uma reavaliação, a gente joga um corante e vê se a lente ainda está intacta”, afirmou.
De acordo com ela, os tratamentos podem ser feitos, inclusive, com lentes normais, que tenham grau. “Eu só exijo que seja uma lente gelatinosa, de baixo grau, para que ela não seja tão grossa. Mas, a depender da lesão, eu até prefiro que ela tenha um pouco de grau para que seja mais grossa mesmo. Então de 0,25 a 0,75”.