Há dez anos, a área italiana de Cinque Terre foi atingida por uma enchente mortal.
Em 25 de outubro de 2011, as cinco pequenas aldeias de pescadores – que há muito atraem turistas de todo o mundo – foram atingidas por uma das piores inundações que a área já viu. Treze pessoas foram mortas e muitas mais perderam propriedades e posses.
As ruas de Vernazza, talvez a mais famosa das aldeias, estavam cheias de lama.
Todos em Cinque Terre têm uma história para contar sobre aquele dia terrível. Um dos mais extraordinários vem do proprietário de um hotel local, Pierpaolo Paradisi.
Ele diz que naquele dia fatídico, sua vida foi salva por seu cachorro Leo, que deu o nome de seu hotel. A história do cãozinho Leo completou 10 anos neste último mês e foi contada em uma reportagem da CNN.
A enchente
O Hotel Leo’s Lodge está situado no alto das falésias acima de Vernazza. Faz parte de Prevo – um pequeno vilarejo que fica diretamente no Sentiero Azzurro – o famoso “caminho azul” que os turistas adoram percorrer. Estima-se que três milhões de visitantes por ano chegam às cinco pequenas aldeias que compõem Cinque Terre.
Mas, há uma década, Prevo e Sentiero Azzuro foram praticamente destruídos quando deslizamentos de terra desceram pelo penhasco, varrendo tudo em seu caminho e enterrando as ruas abaixo em lama e escombros.
Paradisi – na época um aspirante a hoteleiro – trabalhava em La Spezia, a cidade de entrada de Cinque Terre. Originário da Sardenha, mudou-se para a Ligúria há 15 anos. Ele estava em uma caminhada de férias quando, caminhando no Sentiero Azzuro, encontrou Prevo. Naquele ponto, ele estava abandonado – e Paradisi imediatamente pensou que poderia ser um ótimo hotel. Ele iniciou um grande projeto de renovação – mas, cinco anos depois, veio a enchente.
O encontro com Leo e a enchente
Um mês antes da tragédia, o rapaz havia adotado Leo, um filhote de resgate da Sérvia. Paradisi conheceu o cão através de uma ONG de resgate animal, e decidiu acolhê-lo no mesmo dia.
Naquele fatídico dia 25 de outubro, Paradisi levou Leo consigo para o trabalho, mesmo que seu escritório não permitisse. Uma tempestade já estava se formando na área e ele não queria deixar o filhote em casa. Mal sabia ele que essa “transgressão” acabaria salvando sua vida.
Quando chegaram a La Spezia, havia chuva forte, granizo e trovões. Paradisi saiu cedo, temendo que o tempo só piorasse.
“Houve um tornado que atingiu as montanhas e não consegui enxergar nem um metro à frente. Eu tinha uma visão de cerca de 30 centímetros, então dirigia extremamente devagar”, lembrou.
Leo estava na parte de trás do carro de Paradisi durante a viagem de mais ou menoss 30 km, e o cachorro ficou sentado em silêncio durante a maior parte do tempo. Mas, à medida que se aproximavam de Prevo e o carro contornava o penhasco, Leo fez um movimento repentino.
“Ele saltou para a frente e ficou de joelhos, por isso tive de parar”, disse Paradisi. “Eu estava com raiva – eu disse, ‘Leo, estou dirigindo!’”
Paradisi tentou tirar o cachorro do colo para que ele pudesse dirigir novamente. Nesse momento, o penhasco literalmente caiu na frente deles! Se o rapaz tivesse se movido um metro adiante, ele e seu cão teriam morrido.
Leo salvou a vida do tutor, embora ele não tenha percebido na época.
Em estado de choque, Paradisi deu meia-volta com o carro e saiu do local para Manarola, uma das cinco aldeias de Cinque Terre. Foi quando ligou para alguns de seus amigos para contar o que havia acontecido que Paradisi percebeu a importância das ações de Leo.
“Eles disseram: ‘Foi graças a Leo que você está vivo.’ Eu não tinha entendido isso ainda , disse. Hoje, a dupla vive em um apartamento próximo ao hotel, que recebeu o nome do cachorro em homenagem à ele.
Leo tem cerca de 14 anos atualmente e é uma presença constante no hotel. Ele saúda os hóspedes, acompanha-os até seus quartos e patrulha regularmente a propriedade como o bom menino que é.
Paradisi sabe que um dia Leo o deixaria, mas também sabe que ele é insubstituível. “Vai ser impossível substituí-lo, mas vou adotar outro, porque quero ajudar outro cachorro. Vou continuar trazendo-os da Sérvia”, completou.