Um cãozinho de apenas um ano caminhava todos os dias por três quilômetros para procurar alimentos em um lixão. Um casal que estava viajando de férias em Santo Anastácio, a oeste do Estado São Paulo, viu o cachorro e se comoveu com a situação debilitante que o animal estava vivendo. Depois de uma breve conversa, eles decidiram adotar o cachorro e o batizaram de Frederico.
O cão se abrigava em um posto de gasolina perto do terminal rodoviário da cidade, quando foi visto pela primeira vez por Graziella Salti Santana, de 25 anos, que se identificou com o animal no instante em que o conheceu.
Ela e o noivo, Renan Gregório Bonini, de 30 anos, foram passar as férias no município que fica a 600 quilômetros de Mogi. O casal compartilhou nas redes sociais o registro da inesperada adoção.
Rapidamente, o relato alcançou 560 mil visualizações, 107 mil curtidas e quase 3 mil compartilhamentos. “Não fiz no intuito de postar em alguma rede social. Eu tinha feito para mostrar o cachorro para minha mãe. Desde que o vi no posto, mandei mensagens para ela de madrugada. Como ela estava dormindo e não via, continuei fazendo mais vídeos e mandando para ela, falando que queria adotá-lo”, conta Graziella.
“Depois que chegamos em Mogi da Cruzes, passaram alguns dias e decidi postar, mas sem nenhum objetivo. Era para postar a história dele. Juntei esses vídeos que tinha mandado para minha mãe e mais alguns que nós fizemos dele, tomando banho, com o intuito de guardar de recordação. E aí viralizou. Eu me surpreendi muito com a repercussão. Não esperava e não foi com esse objetivo que postei”, diz agradecida a tutora de Frederico.
Graziella e Renan, que é funcionário público, foram para Santo Anastácio, pois essa é a cidade natal dele. Eles avistaram o cãozinho sozinho no posto alguns dias antes de voltar para a região metropolitana.
No último dia de férias, o casal voltou ao posto, e o cachorro novamente estava lá. “Eu vi que ele estava tremendo muito. Não sei se era de frio, de medo. Tinham muitos carros acelerando, som alto, muitas pessoas. Eu perguntei para um funcionário do posto se ele sabia se o Frederico tinha tutor. Ele disse que não, que na verdade ele não tinha nem paz lá, porque sentia muito medo. Tinha muito caminhão, muito movimento. E ele não é tão grande. Ele dormia embaixo dos caminhões, me disse esse funcionário”, lembra Graziella.
Desesperados ao ver o animal naquela situação tão vulnerável, eles decidiram acolher o cão. A partir daí, uma nova missão deveria ser realizada, a viagem de ônibus de volta para casa junto de Frederico.
O percurso ente as duas cidades, é de cerca de 10 horas de viagem. “Levamos para a casa da minha vó e demos banho nele. Ele dormiu e, no outro dia, tivemos que correr, porque era o dia em que iríamos embora. Tivemos que levar no veterinário, dar a vacina. Compramos a casinha especial para o transporte. Pagamos a passagem de ônibus dele normalmente, como se ele fosse uma pessoa”, detalha Renan.
“Como a cidade é pequena, todo mundo conhece todo mundo lá. Quando fomos a uma pet shop comprar a casinha dele, eles viram o cachorrinho e reconheceram que era o que ficava no posto da saída da cidade. O rapaz da veterinária disse que o cãozinho ia até o lixão pegar comida todo dia”, diz o tutor.
No dia do embarque, Frederico ficou tranquilo e sereno e não fez bagunça nenhuma durante a viagem. “Ele se comportou. Parecia que sabia que estava sendo adotado”, relata o funcionário público.
Graziella, já resgatou diversos cães e gatos em situação de rua e os encaminhou para novos lares. Seu trabalho como protetora vem de uma paixão que a acompanha desde muito jovem. “É desde sempre. Todo mundo fala que sou doida por animais. Em qualquer lugar que vejo, se eu tiver alguma forma de ajudar, eu ajudo. Se tiver que comprar água porque vejo que está muito calor e o cachorro está com sede, eu compro. Comida também”, conta a moça.
Frederico vem completar a família que já tem outros quatro animais que foram resgatados de situações parecidas com a do cãozinho. São três gatas e a cadelinha Melissa, que vivia pelas ruas de Mogi.
A cachorra tem uma página no Instagram, que é administrada por seus tutores e que agora também vai compartilhar a vida do Fred. “A Melissa e o Frederico são muito companheiros. Eles estão com a gente em todos os lugares. O Frederico é uma criança ainda, tem só um ano, então ele é muito bagunceiro. E a gente brinca que a Melissa é praticamente uma humana. Em todo lugar ela se encaixa, e estamos fazendo o mesmo com o Frederico. Tanto que fomos para a praia passar o ano novo e eles foram com a gente”, diz a tutora dos cães.
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Para Graziella, a adoção é um dos únicos meios de se salvar os animais que vivem nessa situação tão triste e desoladora. A adoção permite que animais que tiveram histórias de abuso, abandono e maus-tratos, tenham uma nova oportunidade de amar e serem amados e cuidados.
“Os animais não são objetos. Eles têm sentimentos como a gente. Pessoas sabem se comunicar, pedir ajuda, e os animais não sabem. E tem muitos nas ruas. Se cada um adotasse pelo menos um animalzinho, acredito que haveria muito menos nas ruas”, diz a protetora. “Eu e o Renan costumamos falar que ganhamos muito mais do que eles. Eles ganharam uma casa, uma família. Mas nós ganhamos muito mais”, finaliza a tutora.