Um cachorro da raça sharpei de oito anos morreu durante o transporte de Manaus, no Amazonas, a Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Duke, fazia a viagem em um veículo de uma empresa de locomoção de animais, que havia sido contratada por seus tutores justamente por ser especializada neste tipo de serviço e para evitar o que ocorreu com o cão Joca, que morreu durante uma viagem de avião de Guarulhos (SP) para Sinop (MT).
Segundo uma das tutoras de Duke, Ericka Castro, o animal foi embarcado no fim da noite do dia 5 de novembro em Manaus e ficou por três dias, até 8 de novembro, sem sair da caixa em que foi colocado. “Ele não foi retirado nem para fazer suas necessidades, nem comer e nem ao menos se movimentar”.
Ericka diz que no interior de Rondônia, quando havia percorrido somente mil dos três mil quilômetros entre Manaus e Campo Grande, Duke, segundo as informações que recebeu da empresa, começou a latir muito, foi levado para uma clínica veterinária, mas já chegou ao local sem vida.
O g1 tentou contato com a empresa responsável pelo transporte de Duke, a Mobily Pets, por e-mail e por telefone, mas até a mais recente atualização desta reportagem não obteve retorno. Porém, nas redes sociais a transportadora de animais se manifestou, dizendo em nota ter prestado todo o auxílio possível. Alegou ainda que o cachorro não foi retirado da caixa transportadora por era agressivo, o que não teria sido informado pelos tutores, que negam essa versão.
A empresa alega ainda que o cão foi embarcado um dia depois do relatado pelos tutores.
Casa vazia
Conforme a tutora responsável pelo Duke, Ericka Castro, a família está se mudando para Campo Grande e, devido as histórias como a do cachorro Joca, resolveram procurar uma transportadora especializada em animais.
“Como ele é um cachorro grande e já ouvimos histórias trágicas sobre transporte de animais em aviões, optamos por contratar uma transportadora de animais julgando que seria uma alternativa mais segura. Inclusive, pagamos mais caro por essa segurança […] Confiamos que cuidariam dele, que o alimentariam e o levariam para passeios durante a viagem. Mas isso não aconteceu”, mas isso não aconteceu, desabafou nas redes sociais.
Ericka contou que tudo estava preparado para a chegada do animal, “estávamos todos ansiosos pela chegada do Duke, até preparamos uma casinha especial para ele”. Segundo a família, o animal embarcou na terça-feira (5), por volta das 23h30 e, na sexta-feira (8), foi informado a morte.
“Disseram que tentaram levá-lo ao veterinário e reanimar, mas a veterinária disse que ele já chegou sem vida. Nosso cachorro sofreu até o último instante, pedindo ajuda, latindo, e ninguém o ajudou. Fica claro que ele foi deixado sem cuidados até sua fim. Não pudemos nos despedir dele”, lamentou.
Ainda de acordo com a manifestação da tutora, a empresa alegou que o cão era agressivo, por isso não foi possível retirá-lo da caixa. “A empresa alegava que ele era agressivo, mas como uma empresa de animais não está preparada para lidar com essa situação? Não tinham equipamentos de proteção nem nada. Tudo era novo para o Duke, claro que ele poderia estranhar, mas existem várias formas de evitar o sofrimento de um animal”, finalizou.
Nas redes sociais, o desabafo da tutora ganhou repercussão e gerou ameaças no perfil da empresa, que também publicou sobre o ocorrido.
Na postagem, a empresa explica que informaram Ericka que o transporte escolhido era apenas para cães sociáveis e que existia uma segunda opção, para cães mais agressivos, quer era um dos tutores seguir viagem junto.
“Vale ressaltar, que não procede que o animal embarcou no dia 5. Temos vídeos oferecendo água ao cão, e tentando passear com o Duke. Também ressaltamos, que no primeiro contato, enviamos duas opções de transporte, onde os animais que são agressivos, precisam estar acompanhados do tutor. Essa opção foi prontamente descartada pela tutora”, informaram.
Na postagem, a empresa informa também sobre como foi o trajeto de Manaus para o interior de Rondônia, onde o animal morreu.
Confira a íntegra da nota:
“Fomos contratados para realizar o transporte de um cão da raça sharpei, saindo de Manaus com destino a Campo Grande (MS). Nosso serviço coletivo é disponibilizado para animais saudáveis e sociáveis, permitindo que os motoristas possam manipular, desembarcar, passear e alimentar os animais para conforto e segurança do animal e dos motoristas. Cientes dessa condição, informada à cliente no ato da negociação (temos áudios, conversas e registros), enfatizamos que o animal devia ser sociável e que não transportamos animais agressivos. A cliente informou que Duke era apenas ansioso, mas que, na ausência deles, seria um animal tranquilo. Explicamos sobre a possibilidade de medicar o animal com um calmante, desde que prescrito pelo veterinário e comunicado à nossa central. Antes do embarque, fizemos uma nova entrevista sobre o animal, incluindo a questão de medicamentos. Nesta entrevista, ao ser questionada novamente sobre medicamentos, a cliente não mencionou a necessidade de medicar o cão. Reafirmou que ele “era ansioso, e agressivo na presença deles. Longe deles, era tranquilo”, e disse ainda que ele ia de carro ao veterinário. Contudo, apenas no ato do embarque, ao ser novamente questionada sobre medicamentos, a cliente informou aos motoristas que havia administrado um calmante no cão no dia anterior. Esta informação não foi previamente comunicada à nossa central. A tutora não soube informar o nome do medicamento nem a dosagem utilizada, e comprometeu-se a enviar essas informações à central, mas isso não ocorreu. Nossa central, portanto, não foi informada sobre o nome do medicamento, o que impediu que providenciássemos o mesmo ao longo do caminho, caso necessário. A tutora também não mencionou que seria preciso medicá-lo novamente, afirmando apenas que ele ficaria calmo. Reforçou que, longe dos tutores, Duke não era agressivo, era apenas ansioso. Disse que a dificuldade seria apenas colocar o mesmo na caixa, e que, inclusive, ficava tranquilo ao ir de carro ao veterinário. (temos o vídeo dela fazendo essa afirmação ao motorista). O processo de embarque levou cerca de uma hora, durante a qual nem mesmo os tutores conseguiram embarcá-lo. Temos vídeos onde os motoristas tentavam aproximação e Duke tentava morder a avançar. Realizamos o embarque acreditando na informação da tutora de que a medicação administrada acalmaria o cachorro. Porém, durante todo o trajeto, ele se mostrou totalmente agressivo, e tentamos diversas formas de acalmá-lo. Enviamos fotos e vídeos para a tutora, mostrando nossas tentativas de aproximação e manejo do cachorro.
Atravessamos a BR-319 com ele e mantivemos contato com a tutora, exceto nas áreas sem cobertura de rede. Devido à falta de informação precisas sobre o medicamento administrado, e considerando que o remédio não teve o efeito desejado para garantir a segurança do transporte, buscamos uma clínica veterinária em Rondônia. A possível causa da morte, informada na certidão de óbito emitida pela clínica, não foi maus-tratos, desidratação ou falta de alimentos. Nosso veículo utilizado para o transporte, é um veículo novo, refrigerado e tínhamos poucos animais no carro. Não havia superlotação, não havia calor excessivo. É importante ressaltar que a possível causa informada na certidão foi um pico de estresse. Procuramos algum local que fosse possível necrópsia, para rastrear com mais exatidão o que causou o óbito, mas não havia infraestrutura no interior de Rondônia para que conseguíssemos fazer. Segundo a clínica, “se ele havia tomado algum remédio, o efeito passou e ele voltou ao estado de agitação original”, e devido à ansiedade intensa, faleceu por estresse. Ainda não recebemos da tutora a informação do remédio dado ao Duke, tampouco a dosagem administrada. Lamentamos profundamente o ocorrido. Desde o momento em que ele começou a latir intensamente, comunicamos a situação à tutora, informando que estávamos em direção à clínica veterinária. Durante todo o processo, mantivemos a tutora informada. Após o óbito, nossa equipe se colocou à disposição da tutora para esclarecer, apoiar, apurar e prestar toda a assistência necessária neste momento delicado. Mantivemos o contato constante com a tutora, buscando fornecer toda a assistência necessária”.
Fonte: G1