Cristiane Meneghetti Carmignotto
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Avatar chegou. O homem o colocou delicadamente no chão e saiu. Em poucos instantes retornou com a cadeirinha de rodas que ele mesmo havia fabricado para o cãozinho paraplégico resgatado de uma enxurrada em Curitibanos.
Assim que fez os últimos ajustes, Avatar deu meia volta com sua cadeirinha e saiu a explorar os novos aromas com uma alegria contagiante. Avatar e cadeirinha pulavam à cada buraco que topavam no chão de terra rústico. Os cachorros do abrigo ficaram alucinados, latiam sem parar, pulavam uns sobre os outros para disputar espaço no portão de cada canil para ver a novidade.
Fora da cadeirinha, Avatar arrastava as duas patas traseiras e, às vezes, até conseguia ficar em pé, mas logo caía. Colocá-lo num canil em meio a tantos não daria certo, imaginem! No quintal, o cimento áspero o machucaria. Na minúscula área da clínica, único local com chão de cerâmica, não daria nem gosto de andar com a cadeirinha. A RotMenina, uma gordinha mestiça de rotweiller, também paraplégica, ocupava uma boa parte do espaço.
A cadeirinha do Avatar acabou por ficar encostada, mas quando ele entrava em sua caranga ninguém o segurava, saía em disparada.
No passar dos meses Avatar ficou bem, ficou doente, ficou “enferidado”, ficou triste, ficou emburrado com a Grazi por puro ciúmes, apegou-se à Isabel que o mimava com banhos, curativos e afagos, e acabou apaixonado pelo Zago, voluntário que por sua formação passou a se dedicar aos nossos “avatares”.
E num certo domingo de muito trabalho, Avatar reagiu tão intensamente ao ver seu amigo Zago, que este terminou como ele: apaixonado, fisgado, conquistado por aquele cãozinho de ar feliz que sabia abraçar um amigo como poucos sabem fazer. O final feliz de Avatar começava.
Hoje, Avatar partiu do abrigo num carro vermelho junto ao seu amigo Zago para virar bombeiro!
Nosso lobinho foi adotado por Cláudio Zago, vai correr com sua cadeirinha pelo Quartel do Corpo de Bombeiros de Bragança Paulista para receber cada amigo que chegar de uma missão.
Para nós, ficou a saudades do querido Avatar… e uma alegria que, de tão intensa, não conseguiu ser expressada em risos e sorrisos, mas em lágrimas de uma protetora que cuidou tão especialmente do Avatar.
Contato: ONG Faros d’Ajuda | Facebook