Um cão da raça pit bull, de cerca de 2 anos, foi baleado dentro de casa, no bairro Pingo D’Água, em Betim. Segundo a tutora, policiais militares que estariam perseguindo suspeitos de tráfico de drogas pela região, pularam o muro da residência e teriam se assustado com o latido do animal. Um dos agentes, então, de acordo com ela, disparou contra o cachorro, que ficou gravemente ferido. O caso ocorreu na tarde de sábado (11).
“Perguntei ao policial por que ele fez aquilo, e ele me disse que estava com o coração doendo, que não queria ter feito. Então, por que disparou quatro vezes?”, questiona a tutora. Ela afirma também que nenhum dos policiais se prontificou a ajudar, apenas falaram para a família levar o cão, chamado Logan, até uma clínica veterinária.
Segundo a tutora, o veterinário que fez o primeiro atendimento disse que o animal levou ao menos quatro tiros e que todos atravessaram o corpo dele. Em uma das patas, o animal sofreu uma fratura séria e ainda corre o risco de passar por uma amputação.
Ajuda
A protetora animal Zilda Cabral, presidente da Sociedade Protetora dos Animais de Betim (Spab), foi procurada por Sônia no domingo (12) para auxiliá-la. “Eu senti que o melhor a ser feito, além de oferecer consolo, era direcionar os passos que ela deveria dar”, conta Zilda. “Na segunda-feira (13), eu acionei a Superintendência de Proteção e Bem-Estar Animal (Sepa) e um guarda municipal para saber o que poderia ser feito nesse caso”, completa.
De acordo com a protetora, a partir de agora, deverá haver uma mobilização para arrecadar recursos para o custeio do tratamento de Logan. “É maravilhoso saber que ele está resistindo e reagindo. Nós, que amamos animais, sabemos o que é a dor causada pelos maus-tratos. Não podemos permitir que eles sofram. As pessoas precisam refletir e olhar para eles de uma maneira diferente”, conclui Zilda.
Repercussão
O caso começou a ganhar grande repercussão após Simone Oliveira, policial civil aposentada e protetora de animais, postar em suas redes sociais o ocorrido. Na postagem, feita nesta terça-feira (14), ela afirma que o animal baleado terá uma das pernas amputadas e pede ajuda financeira para que Sônia arque com os custos do tratamento do cão.
“Temos que ser a voz do animal e dela, que é uma pessoa simples, sem condições de buscar os seus direitos e os do cão sozinha. Ela me disse, inclusive, que terá que tirar o animal da clínica porque não tem como pagar o tratamento”, explica Simone, que conversou por telefone com a reportagem.
A policial civil aposentada afirma ainda que, mesmo Sônia tendo feito três boletins de ocorrência, a 4ª Delegacia de Polícia Civil de Betim teria se negado a emitir uma guia para que o cão fosse submetido a uma perícia médico-veterinária. “Um investigador disse a ela que não existe isso de fazer perícia em animal e a dispensou, mandando a tutora resolver no Batalhão da PM. Ela precisa de um advogado da causa animal para acompanhá-la até o Ministério Público pra pedir providências. Há dois dias está andando entre delegacias e o Batalhão da PM e só conseguiu registrar os boletins de ocorrência”, lamenta a protetora.
Simone reivindica ainda que a Polícia Civil instaure um inquérito para investigar o caso e cobra do Estado um posicionamento. “Precisamos saber se houve ou não maus-tratos por parte do policial e, caso tenham ocorrido, o laudo dessa perícia pode integrar a peça de investigação. Casos como esse não podem se repetir. O policial precisa proteger as vidas, inclusive as que não são humanas. Penso que o Estado, a quem a polícia é subordinada, tem que se posicionar e arcar com o tratamento do animal”, denuncia a protetora.
Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa, a Polícia Civil informou que, considerando o fato ocorrido a partir de uma operação exclusiva da Polícia Militar, cabe à Polícia Militar instaurar procedimento para apurar eventuais condutas sobre lesão ou dano ao cão em decorrência da atuação dos militares no exercício da função. “Trata-se de suposto crime militar de competência da Justiça Militar. Portanto, não cabe à Polícia Civil tal investigação”, declara.
A Polícia Civil informa ainda que a dona do cão foi devidamente atendida na delegacia e orientada a procurar o batalhão para orientações e providências e esclarece que todos os fatos foram registrados e serão oportunamente submetidos à Justiça no que couber à atuação da unidade policial. “O fato foi encaminhado para o Ministério Público, responsável pelo controle externo da atividade policial”, informa.
Pra ajudar
Interessados em ajudar, podem enviar qualquer quantia para Sônia, por meio do PIX dela: 73601241668 (CPF).
Fonte: O Tempo