Por Fátima ChuEcco (Da Redação)
O curta-metragem “O Cão” será exibido essa semana, nos dias 11 e 13 de agosto, às 13h15 e 21h15, respectivamente, no Canal Prime Box Brazil (TV por assinatura) e, apesar de ter apenas em torno de 10 minutos, é um filme bem interessante porque mostra uma realidade que todos vivemos e poucos se dão conta da importância de checar a situação: cães que latem insistentemente importunando vizinhos e, muitas vezes, fatalmente, motivando uma agressão ou envenenamento por parte daqueles que resolvem “eliminar” o problema do barulho.
A grande maioria das pessoas jamais tenta descobrir por que um cão da vizinhança late sem parar. A maioria prefere pensar que se trata de um cão nervoso ou “chato”. Grande engano. Claro que muitos cães têm o hábito de latir quando da aproximação ou passagem pelo portão de pessoas ou outros cães estranhos. Mas a questão aqui é o latido intermitente, dia e noite. Muitos fatores podem levar um cão a latir de forma intensa e contínua como solidão, abandono, falta de comida e água. O cão pode estar amarrado sob o sol ou chuva, pode ter sido largado numa casa ou apartamento do qual não pode sair, pode estar ferido e outras possibilidades – nenhuma boa.
Abel Roland e Emiliano Cunha, diretores do filme “O Cão”, retratam essa realidade com primor mostrando a irritação dos vizinhos, as consequências que um latido insistente pode gerar e um final surpreendente. É muito importante reparar nas cenas finais do filme. O impactante desfecho mostra uma realidade comum, mas que passa despercebida pela maior parte das pessoas interessadas apenas em conter o incômodo barulho de forma violenta ou com tampões de ouvido.
E acompanhem a entrevista com um dos diretores Abel Roland, que explica quem são os cães protagonistas do filme, a técnica usada para conseguir os latidos e a reação das plateias por onde o filme passou. Aliás, esse curta, feito em 2010, já foi exibido em vários festivais dentro e fora do Brasil, ganhou prêmios e é um grande alerta para quem mora perto de cães que “latem muito”. É importante checar a situação ou ambiente de todo cachorro que late sem parar.
Por que quiseram abordar esse tema? Vocês já presenciaram uma situação como a do filme?
Na verdade, o tema foi abordado baseado no conto de um amigo em comum e colega de faculdade, o Rogério Salgado-Martins. Porém, ao começar a trabalhar no roteiro e desenvolver a história, começamos a ouvir e a lembrar de histórias parecidas. Na estreia fechada do filme no Brasil, para amigos e familiares, houve pessoas que contaram que haviam passado ou conheciam alguém que havia passado pela mesma situação e, nas diversas viagens que fizemos com o filme por festivais, também era comum pessoas virem até nós para relatar que haviam passado por situações parecidas. É interessante perceber como isso é uma coisa cotidiana, pela qual muita gente passa, mas ninguém reflete muito a respeito.
Como conseguiram os latidos? Reproduziram o mesmo latido várias vezes ou gravaram o latido de um cão que late o dia todo?
Os Latidos vieram de dois cães: um Daushund, chamado Sting (pertencente a Sabrina, esposa do Emiliano), e uma doce e simpática Labradora chamada Pochita (que agora descansa em paz e quando viva era do Emiliano). O Sting tinha essa mania, que, em geral, é comum em cachorros pequenos de latir sem parar até receber atenção, então gravamos aproximadamente dois minutos destes latidos do Sting para o filme, mas embaralhamos um pouco os latidos na pós-produção para que ninguém reconhecesse nenhum padrão rítmico que pudesse fazer parecer falso o som. O grito do cachorro é da Pochita, que por gostar muito de tomar banho de piscina, tinha uma otite aguda e, ao passar os remédios na orelha dela, sempre chorava um pouco.
Algum de vocês é simpatizante ou atuante na causa animal?
Os dois somos simpatizantes da causa animal, mas nenhum dos dois atuante. Fomos criados sempre em famílias rodeadas de animais de estimação.
O Cão foi feito para algum festival?
Eu e o Emiliano fizemos cinema na PUC-RS e, durante o curso, existe uma cadeira chamada de Laboratório de Criação, onde cada semestre temos que realizar um curta metragem. Muitas vezes os filmes realmente ficam com bastante cara de exercício de faculdade, mas nós, apesar de termos como única obrigação com esse filme realizar um trabalho acadêmico, desde o princípio levamos muito a sério a realização desse curta, justamente visando enviá-lo à algum festival depois de acabado. No final das contas o filme teve sua estreia mundial no Festival de Huesca (um dos maiores festivais de curta metragens da Espanha) e daí começou uma carreira que passou por dezenas de festivais e países.
Vocês fizeram mais algum filme com essa temática?
Não diretamente. Este filme pertence a uma trilogia chamada “Trilogia Animal”. Os outros dois se chamam “Reptiliano” e “Lobos”. Mas, apesar de haver nome de animais nos filmes, a temática animal é tratada apenas metaforicamente, de maneira que o Cão é o único filme a tratar diretamente da temática.
Tim velou o corpo do dono por 20 dias
Tim vivia com seu tutor, um idoso, em São Paulo (SP), no bairro da Mooca. Foi descoberto sozinho trancado na casa apenas 20 dias depois da morte do tutor, quando o corpo já exalava forte cheiro. “O tutor do Tim era um senhor muito sozinho e tão reservado que não sabíamos nem o seu nome. Mas dava para perceber que Tim era a vida dele. Ele cuidava muito bem do cachorro. Como ele não saía muito de casa, demoramos para perceber que algo havia acontecido”, relata Adriana Cardamone Caloi, a vizinha que suspeitou da morte do idoso.
“Vimos pelas janelas o corpo do senhor em decomposição e chamamos a polícia, que arrombou a porta. Tim ficou sem reação. Olhou para todo mundo com uma cara de confuso. Encontramos ele deitado sobre o dono. Logo peguei a coleira com guia que estava nele. Pela cena, mostrava que ambos estavam de saída para um passeio quando o proprietário passou mal e faleceu. Coloquei-o na minha garagem e dei um banho de mangueira, porque o cheiro era horrível”, relata Adriana.
Tim estava tão magro que suas costelas já estavam bastante visíveis. Calcula-se que o cachorro só sobreviveu porque bebia água do vaso sanitário. Estava com anemia profunda e problemas na pele. Teve de tomar muitas vitaminas e remédios. Quando passou a morar na casa de Adriana ele engordou 15 kg. “A vizinhança se comoveu com a história e até comprou uma casinha para o Tim. Encontrei uma boa adotante, porém Tim não se adaptou. Ele chorava e não queria comer na outra casa. Então o peguei de volta e agora vou ficar para sempre com ele”, conclui. (Trechos da matéria de Fátima ChuEcco publicada na Revista Meu Pet em 2013).