A Justiça de São Paulo determinou nessa segunda (29) que a Polícia Civil apure com a empresa Gollog se o comandante do avião sabia que o cachorro Joca estava a bordo. O golden retriever de 5 anos morreu após um erro do serviço de transporte da empresa aérea Gol. Segundo o relatório final, “houve efetivo erro no embarque do animal” em uma caixa de transportes lacrada.
O juiz Gilberto Azevedo Costa também pediu informações sobre a sindicância interna da empresa Gollog, e as medidas tomadas após a morte de Joca, em abril. No começo do mês, a Polícia Civil de São Paulo encerrou a investigação, e ninguém foi indiciado.
O magistrado também incluiu um pedido de apuração à Infraero, porém, a gestão do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, onde o cão embarcou, é de responsabilidade da GRU Airports.
O laudo da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que a causa da morte do cachorro foi choque cardiogênico, uma ineficiência do coração em bombear o sangue para os órgãos.
Joca embarcou em 22 de abril em Guarulhos e deveria ir para Sinop (MT), onde moraria com o tutor João Fantazzini Júnior, mas foi enviado para Fortaleza (CE). Depois, foi mandado de volta a SP. O trajeto, que seria de até 2h30min, durou cerca de 8 horas.
O supervisor operacional de logística da Gollog, empresa responsável pelo transporte, justificou o erro dizendo que os aviões para Sinop e Fortaleza estavam próximos, e que dois funcionários colocaram a caixa de Joca na posição para embarque da aeronave que iria para Fortaleza. Por isso, o cachorro embarcou no voo errado.
Joca chegou vivo a Fortaleza e foi despachado de volta a Guarulhos, onde a morte foi constatada.
Segundo o relatório da investigação, o animal permaneceu em Fortaleza por cerca de 40 minutos, e a morte ocorreu no interior da aeronave, no retorno a SP. O trajeto de Joca no aeroporto do Ceará foi mostrado pelo Fantástico.
No total, 12 pessoas foram ouvidas nas investigações, inclusive o tutor e funcionários da companhia.
O Ministério Público e um juiz ainda vão se manifestar sobre o inquérito da Polícia Civil, e podem pedir que mais apurações sejam feitas.
Erro de conferência
A notícia do caso foi registrada na delegacia pela mãe do tutor do animal. Ela contou que a empresa Gollog foi contratada pelo filho para fazer o transporte do animal entre as cidades. João Fantazzini, o tutor, contou à polícia que presenciou a lacração da caixa de transporte no aeroporto de Guarulhos, assistiu vídeos de Joca ainda vivo em Fortaleza e, na ocasião, se preocupou com a sede do animal. O rapaz recebeu o corpo do cão sem vida, ainda na caixa, em Guarulhos.
O coordenador operacional de logística da GOLLOG descreveu detalhes sobre o dia do embarque. À polícia, disse como tomou conhecimento do extravio do animal e afirmou que um agente de cargas e outro funcionário do setor de gerenciamento de riscos conduziram o animal até outro colaborador responsável pelo embarque do animal na aeronave.
Já o supervisor de operações de cargas da Gol alegou que assim que o erro foi percebido, com o animal já em Fortaleza, foi montada uma equipe para o acompanhamento do caso.
Outro supervisor responsável pelo embarque do animal na aeronave assumiu o erro de conferência de carga e afirmou que, por conta disso, fez todo o acompanhamento do retorno do animal.
Outro agente de cargas de pista da empresa afirmou que, companhia de outro colega, fez o transporte do animal até o local de embarque da aeronave errada em Guarulhos. Outros dois funcionários afirmaram que o cão já estava morto assim que retornou ao estado de São Paulo.
Laudo da morte
A TV Globo teve acesso ao laudo oficial feito a pedido da Polícia Civil que foi anexado no inquérito. Além do choque cardiogênico, ele também aponta alterações cardíacas em Joca.
A veterinária Fátima Martins analisou o laudo e, no seu ponto de vista diante do que foi constatado, o choque cardiogênico foi consequência da hipertermia (elevação da temperatura corporal) que Joca sofreu e, por isso, houve a parada cardiorrespiratória.
“Quando o laudo fala que os órgãos apresentavam vasos ingurgitados de eritrócitos isso se deu à falta de oxigenação. No meu ponto de vista, ele teve, então, uma hipertermia, um quadro de hipertermia e estresse que levou esse quadro de choque cardiogênico”.
“O próprio estresse que ele passou já poderia levar a óbito. E o estresse seguido de desidratação com as comorbidades que ele tinha, e vivia muito bem com elas e não era limitante, ele não teria morrido. Ele tinha alterações cardíacas, porém o agravante foi a hipertermia que levou a desidratação e o choque hipovolêmico”, explicou a profissional.
Ainda conforme Fátima, cachorros de raça grande têm normalmente alterações no coração, principalmente em situação de estresse.
“Mas no Joca as alterações cardíacas não levariam a óbito se ele não tivesse essa desidratação severa. O choque cardiogênico foi provocado pela hipertermia”, ressaltou.
O advogado do tutor, Marcello Primo Muccio, disse que entende que o principal motivo do choque cardiogênico foi o estresse e calor.
“Até porque ele foi levado de São Paulo a Fortaleza dentro da caixa totalmente solto sem qualquer equipamento de segurança. Esperamos que com a conclusão do laudo que as investigações apontem o responsável pelos maus-tratos sofrido pelo Joca”.
Relembre o caso Joca
O cachorro deveria ter sido levado do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, para Sinop (MT), mas foi colocado num avião que embarcou para Fortaleza (CE). O animal acabou sendo mandado de volta para Guarulhos e, quando o tutor chegou para encontrá-lo, o cão estava morto.
Após desembarcar em Sinop, o tutor de Joca, João Fantazzini, aguardava que o cachorro fosse entregue para ele. No entanto, soube que o animal tinha sido levado para o destino errado.
João Fantazzini disse que o veterinário havia dado um atestado indicando que o animal suportaria uma viagem de 2 horas e meia, mas, com o erro, o cachorro ficou quase 8 horas no avião.
Imagens obtidas pelo Fantástico mostram o cachorro em solo cearense. Depois do pouso do avião, ele passa pelo carrinho dentro da caixa de transporte e está a caminho do outro avião, para voltar para São Paulo.
“Depois o Renato, eu não sei quem é esse Renato, começou a mandar fotos para mim falando que a companhia recebeu o Joca em Fortaleza, que ele estava bem e estava recebendo água”, contou João.
No vídeo, é possível ver uma pessoa interagindo com o cão, dentro da caixa.
“Pronto ó. Cachorrinho, tranquilo, tem água. Menino do papai, bebê. Tá tranquilinho, bonitinho. Tá bom? Vai retornar lá para Guarulhos”, diz uma funcionária que aparece com Joca.
Veja a íntegra da nota anterior da Gol:
“A GOL lamenta profundamente o ocorrido com o cão Joca e se solidariza com a dor do seu tutor. A Companhia informa que o cão Joca deveria ter seguido para Sinop (OPS), no voo 1480 do dia 22/04, a partir de Guarulhos (GRU), porém, por uma falha operacional o animal foi embarcado em um voo para Fortaleza (FOR).
Assim que o tutor chegou em Sinop, foi notificado sobre o ocorrido e sua escolha foi voltar para Guarulhos (GRU) para reencontrar o Joca.
A equipe da GOLLOG na capital cearense desembarcou o Joca e se encarregou de cuidar dele até o embarque no voo 1527 de volta para Guarulhos (GRU). Neste período, foram enviados para o tutor registros do Joca sendo acomodado de volta na aeronave.
Infelizmente, logo após o pouso do voo no aeroporto de Guarulhos (GRU), vindo de Fortaleza, fomos surpreendidos pelo falecimento do animal.
A Companhia está oferecendo todo o suporte necessário ao tutor e a apuração dos detalhes do ocorrido está sendo conduzida com prioridade total pelo nosso time. Nos solidarizamos com o sofrimento do tutor do Joca. Entendemos a sua dor e lamentamos profundamente a perda do seu animal de estimação.”
Fonte: G1