A aposentada Nair Flores, 64 anos, amanheceu convicta de que a peregrinação atrás do companheiro perdido havia chegado ao fim. Há dez dias, não consegue dormir com tranquilidade pela falta de notícias de Pinpoo. Tudo começou quando o cachorro de dez meses sumiu no Aeroporto Internacional Salgado Filho antes do embarque em um avião da empresa Gol. Na noite de sexta-feira, recebeu a informação de que alguém teria avistado o mascote em uma casa do bairro Navegantes, zona norte da Capital.
Desde então, Dona Nair não sossegou. Como quebrou o pé na terça-feira enquanto acompanhava as buscas ao cão nas proximidades do aeroporto, pediu para o tio Euclides Motta Paz, 81 anos, passar em frente à residência que teria abrigado o cão na manhã de sábado. Paz achou o bicho familiar, mas não tinha certeza de que se tratava de Pinpoo. A aposentada decidiu conferir pessoalmente. Antes mesmo de chegar ao local, já tinha certeza de ter encontrado seu filhote.
— Vem Pinpoo, vem com a mamãe — gritava Nair, ainda dentro do táxi, com a porta entreaberta.
O cachorro não mostrou entusiasmo com o encontro. Nair pouco se importou. Largou as muletas, se ajoelhou no chão e acariciava o cão — cópia fiel do desaparecido.
O pelo tom caramelo, o nariz marrom, os olhos cor de mel, as orelhas, o comprimento, a altura, o formato das patas. Tudo exatamente igual ao bicho procurado. Para Nair, só faltava um elemento: empolgação por parte do cão, que aceitava as carícias com indiferença.
O desejo de que a busca tivesse chegado ao fim impedia Nair de assimilar uma informação fundamental. Zoé Miranda, 62 anos, que abrigou o cachorro confundido com Pinpoo, repetia que “Peludo” havia sido acolhido há mais de três meses. O tio também tentava demover Nair:
— Eles são idênticos, eu também acho. Mas, se ele ronda a região há um tempão, não pode ser o Pinpoo.
Zoé deixou claro que sentiria muita saudade se o cachorro que ela cuidava há meses se fosse, mas entendia o sentimento de Nair.
— Se ela é a tutora, não posso impedir que leve o que é dela. Mas vou sentir muita falta, não posso negar. Cuido dele com todo amor. Aqui em casa os cachorros comem antes que os tutores — disse Zoé.
Por quase 40 minutos, um impasse foi travado no coração de Nair. Queria levar o cachorro com ela para ver se ele retomaria hábitos antigos. Chegou a supor que foi ressentimento o motivo para ter sido ignorada pelo cachorro.
— Não tem como não ser o Pinpoo. A única diferença é o pelo tosado, mas eles estão dizendo que cortaram mesmo. Tenho medo de ir embora e ser ele. Pode ser que esteja com estresse pós-traumático por tudo o que passou na rua e achando que eu o abandonei — lamentou Nair.
Cabisbaixa, a aposentada retomou o táxi em que chegou. Se convenceu de que, apesar do desejo, aquele não era Pinpoo.
— Temos outras pistas. Sei que vamos encontrá-lo. Espero que seja rápido. Dentro de mim sinto como se tivessem sequestrado o meu filho. Estou há muito tempo sem notícias.
Fonte: Zero Hora