O cantor Zé Neto, da dupla sertaneja com Cristiano, está explorando burros para fazer uma viagem de Camanducaia, em São Paulo, ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no interior do estado, como forma de pagar uma promessa. A atitude do artista foi duramente criticada por famosos e anônimos que discordam do envolvimento dos animais e argumentam que a promessa deve ser paga pelo cantor, não pelos burros, que são os que estão fazendo esforço físico e sendo submetidos às condições climáticas de maneira forçada para que a viagem aconteça.
Uma das pessoas famosas que criticou o sertanejo foi a ativista pelos direitos animais Luisa Mell. “Se a promessa é um sacrifício que a pessoa vai fazer, qual o sentido em condenar um animal a pagar? Por que não vai a pé? Por que não vai de bicicleta? Por que não ajoelha no milho? Todos os anos, recebo centenas de vídeos de cavalos, burros, mulas sofrendo todo tipo de maus-tratos em romarias. Em dezembro de 2020 jogaram um cavalo de uma ponte ainda vivo porque ele não aguentava mais andar”, desabafou Luísa.
Ao se pronunciar, a ativista recebeu o apoio de milhares de pessoas, incluindo a apresentadora Mariana Kupfer, o ator Dado Dolabella, a atriz e apresentadora Patrícia de Sabrit, o deputado federal Fred Costa (Patriota-MG), a cantora Zélia Duncan e a apresentadora Xuxa Meneghel, que é vegana e aproveitou a ocasião para ironizar a atitude de Zé Neto e reforçar que não é possível pagar promessa se é um animal que está sendo forçado a caminhar por quilômetros. “Ou leva ele o bichinho nas costas. Aí sim é pagar promessa”, escreveu Xuxa.
Com a repercussão do caso, Zé Neto se pronunciou e justificou suas atitudes sem levar em consideração que forçar um animal a percorrer quilômetros carregando uma pessoa nas costas é exploração e, portanto, não há argumentos que justifiquem a prática.
“A gente fica muito triste. Eu sou o cara que mais odeio maus-tratos de animais. Saiu um monte de comentário de gente que talvez não saiba e não conheça, a gente reveza dois animais por dia. Uma mula consegue andar uma semana inteira, mas, para vocês entenderem como a gente está preservando o melhor estado de saúde dos animais, a gente traz uma mula para cada dia”, afirmou o artista, que disse ainda que dois veterinários acompanham a romaria e que o percurso total é de 300 km e não de 1.000 km, como havia sido divulgado anteriormente.
No entanto, ter veterinários na romaria e fazer o revezamento de animais para evitar a exaustão não é suficiente, já que é impossível não submeter cavalos, burros e similares à crueldade ao montá-los. Isso porque os equipamentos utilizados – cela, esporas, freios – e o peso da pessoa sobre o animal machucam e prejudicam a saúde dos animais, conforme comprovado por estudos (confira abaixo).
Após o cantor se posicionar sobre o caso, Luísa Mell voltou a dar seu posicionamento sobre a situação e chegou a convidar Zé Neto para conhecer cavalos resgatados por ela em situações deploráveis após serem forçados a participar de romarias. “Mandaram um vídeo do Zé Neto falando que vai rezar por mim. Obrigada, Zé Neto, por você rezar por mim. Eu também vou rezar por você, do fundo do meu coração, para que você realmente entenda as minhas palavras. Eu acredito que está com veterinário, que está trocando de bicho. Mas você tem ideia do seu poder, de quantas pessoas você influencia, quantas pessoas vão ver que você fez isso e vão fazer igual, vão maltratar o bicho?”, questionou a ativista.
“Então da próxima vez que você fizer uma promessa, até falei para ajoelhar no milho, mas tive uma ideia melhor: que tal você usar seu poder, seu dinheiro, sua fama, para ajudar os animais e as pessoas? Inclusive, se você quiser visitar os cavalos que eu pego resgatados de maus-tratos de romaria, que ficam em condições terríveis, vai ser muito bacana”, sugeriu.
Estudos comprovam que montaria é prejudicial para animais
Além de forçar os animais a suportar cansaço e condições climáticas, impedindo que eles vivam de acordo com suas próprias necessidades para obrigá-los a atender aos anseios humanos, montar em cavalos, mulas, burros e similares os condena a dores e problemas de saúde.
Em um vídeo divulgado no YouTube (confira abaixo), a ativista vegana Paula Aviles divulgou um compilado de estudos que corroboram os argumentos dos defensores dos direitos animais. Nas imagens, ela explica que, ao contrário do que propaga o senso comum, o peso de um humano sobre um cavalo pode machucá-lo. “Já existem estudos que comprovam que a coluna do animal é prejudicada, que ele sente dores”, disse.
A ativista lembra ainda que a pele desses animais têm mais terminações nervosas que a humana e, por essa razão, é mais sensível à pancadas e atritos, causados, inclusive, pela cela e também pela espora – artefato de metal que se prende ao calçado do cavaleiro, usado para pressionar a barriga do animal, machucando-o.
Aviles contou também que animais dessas espécies têm a tendência de não demonstrar dor, porque na natureza eles são presas de carnívoros e, para não transparecer fraqueza, não mostram que estão sofrendo. E mesmo não estando na natureza, o instinto prevalece. “Toda dor que o cavalo está sentindo por meio dos equipamentos da montaria, ele não mostra. Ele está sentindo dor nas costas por causa do cavaleiro, dor na região abdominal por causa da espora”, explicou.
Outro equipamento usado nos animais que lhes causa dor é o freio, colocado na boca. Aviles explica que “quando o cavaleiro puxa a rédea com força, ela vem com impacto, e aquele ferro comprime a língua do cavalo, causando, obviamente, dor”. Isso impede que ele movimente a língua livremente e engula saliva, razão pela qual permanece salivando. Não raro, esses animais ficam com ferimentos na língua.
Cavalgadas e romarias, segundo a ativista, são “tortura do começo ao fim”. “Para homenagear uma santa você pode fazer sua romaria tranquilamente a pé, de bicicleta, carreata, você não precisa torturar nenhuma animal para fazer isso”, concluiu.
Confira abaixo o vídeo da ativista e entenda mais sobre o assunto: