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Canto das cigarras pode ser gerador de novas espécies

16 de agosto de 2009
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Foto: Reuters
Foto: Reuters

O processo evolutivo das cigarras enveredou fundamentalmente pela comunicação acústica e a diversificação dos seus cantos poderá ser a origem do aparecimento de novas espécies, segundo pesquisas de biólogos portugueses. Três estudos publicados em revistas internacionais da especialidade revelam novas características destes insetos, reconhecíveis pelos seus grandes olhos e pelo talento acústico dos machos nos dias de maior calor, cujo volume de som pode chegar aos cem decibéis.

São os insetos com maior espectativa de vida – algumas espécies, como as americanas, chegam a viver 17 anos – mas passam 99 por cento do seu tempo a alimentar-se e a crescer debaixo da terra, de onde saem na fase de ninfa por algumas semanas, durante o verão, apenas para se reproduzirem e morrerem. Segundo os cientistas, durante o pouco tempo que passam na superfície, toda a sua energia é investida no acasalamento e na deposição de ovos em plantas herbáceas.

Estes trabalhos foram realizados por pesquisadores do Centro de Biologia Ambiental do Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da School of Biosciences da Universidade de Cardiff – Reino Unido (que contribuiu na parte genética dos estudos). “A investigação tentou comparar a evolução de algumas espécies de cigarras ao longo de várias gerações, a níveis morfológico, genético e comportamental”, explicou à Lusa um dos responsáveis pela pesquisa, o professor José Alberto Quartau, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

“Um aspecto muito engraçado é que utilizam fundamentalmente a comunicação acústica na reprodução”, afirmou. “É um exemplo muito bonito de como esta forma de comunicação tem um papel importante na criação de novas gerações, ao servir de sinalização dos machos para atrair as fêmeas da sua espécie”, acrescentou. Só os machos emitem sinais sonoros, sendo as fêmeas silenciosas.

Esta comunicação acústica implica um grande dispêndio de energia, já que os machos chegam a cantar horas seguidas nas horas de maior calor, o que é feito através da vibração de membranas, chamadas tímbalos, provocada pela contração de músculos, sendo que as fêmeas só respondem aos chamamentos do machos da sua espécie. Ao constatarem que a evolução enveredou nestes insetos pela comunicação acústica, por lhes trazer grandes vantagens, os pesquisadores vão tentar agora demonstrar que o aparecimento de novos sinais acústicos poderá estar na origem da criação de novas espécies.

O mais recente dos três estudos – publicado no European Journal of Entomology e dedicado á cigarra do Norte de África e Mediterrâneo – mostra que estes insetos são morfologicamente idênticos, apesar da sua grande diversidade genética e acústica, e que os talentos acústicos evoluíram muito mais rapidamente do que qualquer outra de suas características.

Nos três estudos, Gabriela Pinto-Juma, Sofia Seabra e Paula Cristina Simões, sob a coordenação de José Quartau e Michael Bruford, tentam compreender melhor o relacionamento entre as cigarras mediterrânicas e a sua história evolutiva comum, bem como o seu processo de evolução.

Estes estudos inserem-se num projeto internacional de longa duração, que já decorre há mais de 20 anos, dedicado ao estudo detalhado de um conjunto de espécies próximas do gênero Cicada na região mediterrânica, com ênfase na Península Ibérica e na zona oriental, nomeadamente na Grécia e na Turquia, e também um pouco no Norte de África.

Fonte: Público

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