Somos inteligentes e revolucionários. Temos uma inovação a cada segundo. Acabaram de criar o menor robô do mundo. Por incrível que pareça, ele tem o tamanho de uma molécula. Coisa de um centésimo de milésimo da espessura de um fio de cabelo. Feito de enzimas, o ultramoderno robô é capaz de ser injetado no corpo humano para tentar curar células doentes que podem vir a se tornar tumor. Milagres da nanotecnologia.
Você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com os animais. A ligação, na verdade, está nas pesquisas e na minha linha de raciocínio. Foi anunciado que o Brasil terá uma fábrica de camundongos transgênicos. Sim, você leu certo. Será um centro de produção e distribuição de roedores para a pesquisa. Segundo o jornal Folha de São Paulo*, o “serviço delivery é crucial para a ciência brasileira e deve começar a funcionar no mês que vem”.
Aí, ao me deparar com uma matéria completamente tendenciosa, sem deixar margens à consciência, sem ao menos citar “o outro lado”, eu fiquei completamente bestificada. Pensei que talvez tivesse voltado no tempo, tamanha a contradição em anunciarem a fábrica de animais como uma evolução. E, apesar de constatar que eu ainda estava no século XXI, tive a certeza de que algo não está normal. De um lado a tecnologia avassaladora, robôs, computadores que em segundos estão obsoletos e, de outro, cientistas que dedicam sua profissão para criar uma forma de produzir, em escala e com transgenia, animais para a pesquisa. Além de triste, fico intrigada em saber que um sistema novo, sem usar animais, sem causar dor e sofrimento, é algo impensado pela maioria dos meus contemporâneos dotada de inteligência científica e, infelizmente, falta de sensibilidade.
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*Matéria publicada em 12/05/2010, com o título “Brasil terá fábrica de camundongos transgênicos”.