A campanha de vacinação contra raiva em animais permanece suspensa no estado de São Paulo até que as investigações consigam esclarecer e identificar os motivos que geraram o surto de reações adversas. Em nota a Secretária Municipal de Saúde informou que a medida, além de preventiva, se faz necessária para elucidar a segurança da vacina.
De acordo com Neide Takaoka, médica sanitarista e diretora do Instituto Pasteur, entidade dedicada à pesquisa científica sobre a raiva, os motivos das reações ainda não foram identificados, mas possivelmente estão relacionados a algum componente da nova fórmula da vacina, que visava, em princípio, aprimorar tecnologicamente o medicamento de imunização.
“Essa nova vacina foi produzida com uma tecnologia melhor, com o intuito de fazer com que o animal produza mais anticorpos contra raiva e trazer, teoricamente, menos reações neurológicas. Porém, ela acabou tendo resultados adversos além do esperado”, completa Neide. Segundo Cleber Augusto de Barros, veterinário de um pet shop de São Paulo, “todas as vacinas estão estimadas a reagir, mas as que foram aplicadas pela prefeitura tiveram um número de rejeição excessivamente grande”.
Apenas nos dois primeiros dias da campanha, foram notificados ao Centro de Controle de Zoonoses da Coordenação de Vigilância em Saúde 567 eventos adversos associados à vacinação, 38% deles considerados graves. Neide explica que “a vacina foi registrada e todos os lotes foram aprovados pelo laboratório do Ministério da Agricultura, que segue uma legislação própria do Brasil embasada nas recomendações da Organização Internacional de Epizootias, para autorizá-los”.
Diante do surto, Neide afirma: “Neste momento acredito que a legislação brasileira deve ser aprimorada e que o produto veterinário tenha critérios de avaliações mais rigorosos para que não aconteça mais o que aconteceu desta vez”. O veterinário alerta que é melhor evitar vacinar os animas em redes públicas, por enquanto. “O animal pode sim ser vacinado contra a raiva, mas é melhor optar por uma clínica que utilize vacinas com marcas já conhecidas no mercado”.
Com medo da reação da vacina muitos tutores de cães e gatos optaram por não vacinar seus animais. Este foi o caso do bancário Antônio Augusto Teixeira. “Desde sempre levo o meu cachorro em rede particular, acredito que a qualidade das vacinas é melhor. Porém, com este surto, talvez a má qualidade esteja em todas as vacinas. Este ano não vou levá-lo para vacinar”.
Mas o veterinário avisa: “a vacina oferecida pelo pet shop é diferente da que está sendo oferecida pela prefeitura. A marca, o procedimento e os componentes são diferentes”. A estudante Fernanda Lanza, tutora de um cocker de três anos, imunizou seu cachorrinho com a vacina oferecida pela prefeitura e o animal não apresentou efeitos adversos. “Fiquei bastante surpresa e assustada com o surto após a campanha, mas graças a Deus, o meu cachorro está protegido contra a raiva e o mais importante de tudo: ele está bem.”
A dona de casa Simone Karpischek também levou a labradora Mel para tomar vacina, porém, em uma clínica veterinária particular. “Meu veterinário é um bom profissional, bem conhecido na rua, confio no serviço dele e a vacina é da melhor qualidade”. Simone conta, entretanto, que há alguns anos levou sua pastora alemã para vacinar contra a raiva em uma campanha feita na rua e logo depois o animal foi ficando mal e acabou morrendo. “A partir daí nunca mais levei cachorro algum em campanhas”, completa Simone.
A diretora do Instituto Pasteur avisa que é muito importante levar o animal para tomar a vacina antirrábica, mas conforta: “São Paulo felizmente se encontra numa situação bastante confortável no que se diz respeito ao controle da doença. O último caso de raiva em cão aconteceu em 1998, depois nunca mais”.
Fonte: eBand