EnglishEspañolPortuguês

GUERREIRA

Camela que sobreviveu à violência e faz história ao receber a primeira prótese animal do Paquistão

Cammie teve a perna amputada, comoveu a nação e agora pode, com sorte, voltar a andar.

27 de maio de 2025
Fatima Munir
7 min. de leitura
A-
A+
Foto: Disaster Response Services (CDRS) Benji Project

Em um canto tranquilo de um abrigo de animais nos arredores da cidade de Karachi, no Paquistão, Cammie, uma jovem camela cuja perna foi brutalmente decepada há quase um ano, repousa majestosamente, cercada de carinho e cenouras — seu petisco favorito durante o treinamento.

A história de Cammie é uma de sobrevivência e de um marco médico sem precedentes.

Ela é o primeiro animal no Paquistão a receber um membro protético.

Em junho de 2024, Cammie, que na época tinha oito meses, foi encontrada no distrito de Sanghar, na província de Sindh, no sul do país, com uma das patas dianteiras violentamente decepada — supostamente por um proprietário de terras enfurecido por ela ter invadido seu campo.

O ato brutal, registrado em vídeo, gerou indignação nacional. Ela foi resgatada e levada ao abrigo particular Comprehensive Disaster Response Services (CDRS) Benji Project, em Karachi, para cuidados urgentes — e está lá desde então.

“Ela chegou até nós apavorada, imóvel e com muita dor”, contou Sarah Jahangir, diretora do CDRS Benji Project, à TRT World. “Nem sabíamos se ela sobreviveria nas primeiras semanas.”

A perna feita sob medida para Cammie, vinda dos Estados Unidos, representa um momento decisivo nos esforços de reabilitação animal no país. Mas, mesmo sendo um caso que inspira esperança, também revela o quão frágil e carente de recursos ainda é o movimento de bem-estar animal no Paquistão.

Um marco para o Paquistão e para Cammie

O processo da prótese envolveu uma colaboração multinacional. A startup paquistanesa Bioniks Pakistan, especializada em próteses, cuidou dos exames de raio-X em 3D e da moldagem de Cammie, enquanto Derrick Campana, fundador da Bionic Pets USA — empresa especializada em próteses para animais — foi quem projetou o membro artificial.

Conhecido como o “Mago das Patas”, Campana é um protesista americano pioneiro na criação de dispositivos ortopédicos e próteses personalizadas para animais.

“A prótese foi um presente da Bionic Pets USA”, disse Jahangir.


O governo provincial e seu departamento de pecuária desempenharam um papel fundamental, enviando veterinários diariamente, realizando radiografias, fornecendo medicamentos e cobrindo o custo de uma tala para a perna saudável de Cammie.

O governo também construiu um arnês personalizado para ajudá-la a treinar para ficar em pé. “Não teríamos conseguido fazer nada disso sem o apoio deles”, afirmou Jahangir.

A jornada até aqui

Embora a prótese já tenha sido testada uma vez, Cammie ainda não começou a caminhar com ela.

“Enquanto ela não conseguir ficar em pé por um tempo, não podemos ajustar corretamente a prótese”, explicou Jahangir.

Mas ficar em pé não é algo simples. Cammie ainda tem medo das correntes do sistema de suspensão do arnês — um som que ela ainda associa ao trauma.

“Deixamos que ela cheire a prótese, a explore. Fizemos o encaixe enquanto ela estava sentada, só para testar o tamanho. Mas ela precisa estar em pé para começar o treinamento de verdade.”

O progresso é propositalmente lento. “Seguimos o ritmo que ela quiser”, disse Jahangir. “Alguns dias ela está empolgada, em outros quer ficar sozinha. A gente acompanha o tempo dela.”

Ainda assim, a equipe está cautelosamente otimista.

“Ela pula com três patas, consegue se levantar várias vezes por dia sozinha. Para um animal grande, o movimento é absolutamente essencial para sobreviver. É isso que a trouxe até aqui.”

Sua recuperação, que já dura quase um ano, tem sido exaustiva e profundamente pessoal para a equipe do abrigo.

Segundo Jahangir, a ferida de Cammie havia sido cauterizada de forma rudimentar e precisou de troca de curativo três a quatro vezes por dia nos primeiros meses.

Agora a ferida está completamente cicatrizada, e ela se tornou uma presença ativa e curiosa no abrigo.

A equipe ainda mantém precauções, aplicando desinfetantes regularmente para afastar moscas e trocando o curativo duas vezes por dia para dar suporte e conforto à Cammie.

“Ela cresceu imensamente — mental, física e emocionalmente”, diz Jahangir. “Está mais confiante, mais confiante e, sim, definitivamente mais diva, porque está sendo completamente mimada por nossa equipe.”

Callie, outra camela do abrigo, também tem sido uma companheira constante na recuperação de Cammie, muitas vezes deitando-se ao seu lado e oferecendo uma presença tranquila. Esse laço ajudou Cammie a se estabilizar emocionalmente e se socializar com mais facilidade.

“Cammie é um animal grande, e foi uma tarefa enorme tirá-la do trauma”, disse Sheema, gerente do abrigo, à TRT World. “Nos primeiros 5 ou 6 meses, ela nem saía do cercado. Eu sentava ao lado dela, conversava, dizia que ela estava segura agora, que ninguém a machucaria.”

Cammie pode ser o começo de algo maior

Jahangir acredita que o caso de Cammie mostra o que é possível quando todos trabalham juntos.

“Temos os especialistas, a estrutura, o conhecimento — mas tudo custa dinheiro”, afirmou. “Na maioria dos casos com animais grandes, eles são simplesmente sacrificados porque não há solução. Esperamos que a história da Cammie possa ajudar a mudar isso.”

À medida que os setores veterinário e de resgate do Paquistão evoluem, Cammie representa — literal e simbolicamente — um exemplo de resiliência.

Mas se sua trajetória se tornará um ponto de virada nacional ou apenas uma exceção rara, dependerá da possibilidade de ampliar esse tipo de apoio.

“Isso pode abrir portas para ajudar mais animais como ela”, disse Jahangir. “Mas não conseguimos fazer isso sozinhos.”

Abrigos como o CDRS Benji e o ACF Animal Rescue estão frequentemente sobrecarregados com casos de crueldade e negligência, operando com recursos limitados.

A falta de apoio institucional e de infraestrutura para o bem-estar animal é um obstáculo significativo.

Defensores da causa pedem leis mais rigorosas, melhor fiscalização e mais financiamento para apoiar o trabalho dos abrigos e organizações de resgate.

“Recebemos centenas de casos, mas as doações são escassas”, disse Jahangir. “As pessoas até se dispõem a denunciar esses casos, mas não querem se envolver de fato.”

Traduzido de TRT Global.

    Você viu?

    Ir para o topo