Uma pesquisa recém-publicada no Journal of Glaciology sugere que a espessura das plataformas de gelo da Antártida pode ser menor do que se imaginava. Diante do derretimento das geleiras pelas mudanças climáticas, esse erro pode representar uma subida do nível do mar maior do que aquela projetada inicialmente – o que também acarretará em mais problemas aos ecossistemas naturais e às cidades costeiras.
Para chegar a esses resultados, pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio (EUA) compararam dados de um radar de penetração no gelo e estimativas feitas com técnicas de elevação da superfície. “O que este estudo realmente mostra é que precisamos de ser muito mais cuidadosos tanto com as suposições que fazemos para estimar a espessura da plataforma de gelo quanto com a forma como contabilizamos as incertezas e o que elas significam para o resultado final”, destaca Allison Chartrand, principal autora do estudo, em comunicado à imprensa divulgado em 1º de setembro.
Mesmas geleiras, diferentes olhares
A pesquisa partiu de uma análise anterior dos canais basais – áreas em que a água oceânica mais quente derrete sulcos no fundo das plataformas de gelo, acelerando a sua perda de massa.
Pesquisadores acabaram encontrando discrepâncias nas suposições usadas no passado para estimar a espessura das plataformas de gelo. Às vezes, esses exames dos canais basais exageravam a grossura das camadas em algumas áreas; em outras, eles subestimavam a medição.
Ao justapor as informações de 20 dos 300 sistemas de plataformas de gelo que cercam aproximadamente 75% da camada de gelo da Antártida, descobriu-se que, em geral, as geleiras eram quase 6% mais finas do que se pensava.
Segundo o novo estudo, historicamente, diversas estruturas individuais que compõem o continente antártico – tais como vales ou fendas – não foram medidas com precisão por serem muito estreitas ou pequenas. Assim, existe uma diferença de cerca de 17 metros entre as projeções anteriores e os dados encontrados pelos cientistas de Ohio.
“Como as plataformas de gelo desempenham um papel importante na estabilização da Antártida, bem como no complexo sistema climático da Terra, obter uma estimativa precisa do seu tamanho é essencial”, destaca Chartrand. “Um erro de 1% na rapidez de derretimento pode significar uma subida de polegadas ou mesmo de pés nos oceanos e, consequentemente, pode apresentar perigo às comunidades costeiras”.
A pesquisadora espera que a análise do passado para estudar mudanças futuras estimule o desenvolvimento de tecnologias mais avançadas. Assim, será mais fácil monitorar o ambiente da Antártica. “Há potencial para novas descobertas, mesmo com dados recolhidos entre 2 e 15 anos atrás”, conclui.
Fonte: Um Só Planeta