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MUDANÇA CLIMÁTICA

Calor na Europa ultrapassa projeções para 2050 e alerta cientistas

Os cientistas dizem há muito tempo que o aquecimento global causado pelas emissões de gases de efeito estufa tornaria as ondas de calor mais prováveis, frequentes e severas

22 de julho de 2022
6 min. de leitura
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Britânicos tentam se refrescar durante forte onda de calor no Reino Unido
Foto: Rasid Necati Aslim | Anadolu Agency via Getty Images

Os cientistas climáticos estão sob intenso questionamento diante da magnitude da onda de calor no Hemisfério Norte que quebrou em cascata vários recordes de temperatura alta: China (44,2°C), Reino Unido (40,3°C), Holanda (39,5°C), Portugal (47°C), França (45,9°C), Tunísia (48°C), Irã (52°C), entre outros.

Incêndios espontâneos inéditos na região metropolitana de Londres levaram à evacuação de casas, enquanto Espanha, Marrocos e França tiveram uma das temporadas de fogo mais violentas em décadas. Em maio e junho, Índia, Paquistão e Bangladesh já tinham passado pela mais longa, intensa e precoce onda de calor verificada na região.

Os cientistas dizem há muito tempo que o aquecimento global causado pelas emissões de gases de efeito estufa tornaria as ondas de calor mais prováveis, frequentes e severas. O que surpreende, até mesmo os pesquisadores, é que muitos desses registros estavam previstos para ocorrer daqui a muitos anos.

No caso do Reino Unido, o serviço nacional de meteorologia, Met Office, fez uma simulação em 2020 de como seria a previsão do tempo em 2050 se as emissões não fossem cortadas rapidamente. A imagem viralizou quando as mesmas temperaturas foram registradas na segunda-feira (18), quase três décadas antes.

“Bem, eu não esperava ver isto em minha carreira, mas o Reino Unido acaba de ultrapassar a marca dos 40°C”, afirmou Stephen Belcher, professor de meteorologia e chefe de Ciência e Tecnologia do Met Office.

Se o previsto para meados do século ocorre agora, o que esperar do futuro próximo? A coluna Crise Climática conversou com a professora Friederike Otto, cientista climática do Imperial College London e co-líder da World Weather Attribution. Em meio a uma sequência ininterrupta de entrevistas desde a semana passada, Otto explica que temperaturas acima de 30°C já foram raras no Reino Unido e agora são banais, e que o mesmo pode acontecer com os verões de 40°C se as emissões não caírem rapidamente.

Cínthia Leone: Se tornou viral uma montagem comparando uma previsão meteorológica simulada para 2050 pelo Met Office e as temperaturas que o Reino Unido registra agora. Como é possível uma lacuna tão grande entre o que os meteorologistas temiam para o futuro e o que está acontecendo muito antes disso? Os cientistas climáticos foram conservadores?

Friederike Otto: Em geral não é correto dizer que os cientistas climáticos têm sido conservadores sobre eventos extremos – os cientistas climáticos advertiram que ondas de calor como estas chegariam se as emissões não fossem interrompidas. E é importante lembrar que o que estamos vendo esta semana ainda é incomum. Embora agora seja normal que os verões britânicos excedam 30°C, o que costumava ser incomum, o calor desta semana ainda é excepcional no clima atual: pode ter 1% de chance, ou menos, de acontecer a cada ano. Mas, à medida que as emissões de gases de efeito estufa continuarem aumentando, isto se tornará cada vez mais comum.

Mas em alguns aspectos, a modelagem climática ainda não funciona muito bem na projeção de extremos em nível local. Na Europa, o calor tem sido geralmente pior do que os modelos climáticos têm projetado. Em outras partes do mundo, tem sido o oposto. Ainda há fatores locais que não entendemos completamente.

Friederike Otto, cientista climática do Imperial College London e co-líder da World Weather Attribution.

CL: É verdade que a influência do fenômeno La Niña está contribuindo para tornar o verão um pouco menos quente do que seria sem sua interferência? Estaria mais ou menos quente agora se a influência fosse a do El Niño?

Em nível global, os anos “La Niña” são geralmente mais frios e os anos “El Niño” são mais quentes, mas isto não é verdade em todos os lugares. Na verdade, os verões na Europa Ocidental podem geralmente ser um pouco mais quentes durante a influência de La Niña, o que poderia ser um fator que contribui para esta onda de calor, mas este é um efeito mínimo, se houver. Estes fenômenos têm muito pouca influência no clima europeu. No entanto, não há um El Niño forte há vários anos e o próximo pode levar a um ano excepcionalmente quente em todo o mundo.

CL: É possível dizer que este é o verão mais frio dos próximos anos na Europa?

Não. Este ainda é um verão excepcional, mesmo em um mundo que foi aquecido pelas emissões de gases de efeito estufa. É bem provável que os próximos verões não sejam tão quentes quanto o deste ano. E a história pode terminar aí se as emissões forem rapidamente interrompidas, com 2022 permanecendo como um verão excepcionalmente quente. Mas se a poluição do clima continuar, temperaturas como estas se tornarão, de fato, banais, e veremos extremos cada vez mais altos.

FALANDO SÉRIO

“As pessoas na África, Sudeste da Ásia e América Central e do Sul têm quinze vezes mais probabilidade de morrer devido a eventos climáticos extremos. Esta grande injustiça não pode persistir. Vamos garantir a cobertura universal dos sistemas de alerta precoce para os próximos cinco anos, como um começo. E vamos demonstrar que podemos dobrar o financiamento de adaptação para US$ 40 bilhões por ano e ampliar igualmente o financiamento de mitigação. Vamos levar a sério o financiamento que os países em desenvolvimento precisam. No mínimo, parem de desviar da promessa de US$ 100 bilhões por ano. Dê clareza sobre prazos e cronogramas e concretize a sua entrega.”

Trecho do discurso de António Guterres, Secretário Geral da ONU, na abertura dos Diálogos de Petersberg, na segunda-feira (18). O evento é uma etapa tradicional de alinhamento entre os países em preparação para a Cúpula do Clima (COP). A edição deste ano, COP27, será realizada no Egito, em novembro, e pode marcar uma cisão entre o Norte e o Sul global.

VOCÊ CONHECE?

“Abram seus corações”, pediu Elizabeth Wathuti aos líderes globais durante a cerimônia de abertura da COP26 em Glasgow. Com 26 anos e graduada em Ciências Ambientais, ela é uma das principais ativistas climáticas do Quênia, reconhecido como um dos países mais vulneráveis às mudanças do clima. Wathuti chefia uma coligação para a proteção dos espaços verdes urbanos na Fundação Wangari Maathai e fundou, em 2016, a Iniciativa Geração Verde (GGI), que promove agroflorestas de pequena escala em escolas, mutirões de reflorestamento e ações de educação ambiental e consultoria para comunidades.

CUSTO EM FLORESTAS

A política ambiental dos últimos três anos custou em florestas perdidas o equivalente a um estado inteiro do Rio de Janeiro – 42 mil km2. A informação é do relatório do MapBiomas divulgado na segunda (18), que revela que mais de 16 mil km2 de florestas deste total foram dizimadas somente no ano passado. Isso representa um aumento de 20% em relação a 2020, com a Amazônia concentrando 59% da vegetação destruída, seguida por Cerrado (30%) e Caatinga (7%). O agronegócio foi responsável por 97% do desmatamento no Brasil em 2021, e em 77% dos casos é possível identificar a fazenda envolvida.

SEM QUERER

O Ibama mudou a regra para aplicação de multas ambientais para dificultar a punição aos infratores. Desde quinta-feira (14), os fiscais precisam provar que houve a intenção de provocar dano ambiental. A medida tira o caráter objetivo da aplicação da lei, permitindo todo tipo de interpretação sobre a ação do infrator. O Ibama é presidido por Eduardo Bim, o psicopata, como ele se definiu para explicar porque não liga para a repercussão de suas ações à frente do órgão.

Fonte: Uol notícias

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