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ALTAS TEMPERATURAS

Calor ligado à mudança climática atingiu 9 em cada dez brasileiros ao menos um dia neste inverno, diz pesquisa

Climate Central aponta ainda que cerca de 7,4 milhões de pessoas estiveram expostas a pelo menos 30 dias de temperaturas de risco, em que o calor eleva ocorrências de problemas de saúde e mortes

18 de setembro de 2024
Marco Britto para Um Só Planeta
6 min. de leitura
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Pedestres em São Paulo enfrentam calor no centro da cidade. Mudança climática vem afetando cidadãos de todo Brasil. — Foto: Bruno Escolastico Sousa Silva/NurPhoto via Getty Images

Neste inverno, os efeitos da mudança climática, que elevaram as temperaturas na estação, foram sentidos por pelo menos um dia por 96,4% da população do país, aponta levantamento do coletivo científico Climate Central, dos Estados Unidos, publicado nesta quarta-feira (18/09). As alterações do clima dobraram as chances de calor com impacto sobre 205 milhões de pessoas ao menos uma vez entre junho e agosto. Segundo estimativa recente do IBGE, o Brasil possui 212,6 milhões de habitantes.

Cerca de 7,4 milhões de brasileiros e brasileiras estiveram expostos a pelo menos 30 dias de temperaturas de risco, em que o calor eleva ocorrências de problemas de saúde e mortes. Um total de 57,1 milhões de pessoas, 26,8% da população, esteve ao menos um dia exposto a essa ameaça no período analisado.

De acordo com os pesquisadores, os dias classificados como de temperatura de risco são aqueles com calor maior do que 90% dos registros entre 1991 e 2020 para o mesmo dia. Os riscos à saúde relacionados ao calor aumentam quando as temperaturas sobem acima desse limite local.

Proteger a população do calor intenso em seus deslocamentos, ambiente de trabalho e escolas, será um desafio para as administrações públicas daqui para frente, avalia Suzana Kahn, diretora do Coppe-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia) e especialista em mudança climática. A pedido de Um Só Planeta, a professora analisou os dados da pesquisa americana.

“Minha leitura é que 2030 chegou antes do que pensávamos. Sendo o Brasil um país continental, todas as tendências [da mudança climática] têm espaço aqui. Seca, enchentes, chuvas intensas… Somos um país com inúmeras metrópoles costeiras e temos nossa economia muito dependente da agricultura, portanto dependente do clima. Há regiões ainda muito pobres e carentes, que sofrem muito mais os efeitos dos desequilíbrios climáticos. Ou seja, somos um país bem vulnerável.” — Suzana Kahn, diretora do Coppe-UFRJ e especialista em mudança climática

Mudança climática no inverno 2024

  • Impactou 205 milhões de pessoas ao menos um dia no país
  • Afetou 13,8 milhões de pessoas durante 60 dias no Brasil
  • Amazonas, Espírito Santo e Pará tiveram inverno mais quente desde 1970
  • Por 80 dias, aumentou em 5x a chance de temperaturas altas no Amapá
  • No Pará, atingiu 8,2 milhões de pessoas por pelo menos 60 dias
  • Em 13 de agosto, 4 bilhões de pessoas (50% da população mundial) foram expostas a temperaturas ao menos 3x mais prováveis devido à mudança climática

Segundo dados compilados sobre o Brasil, no último trimestre os termômetros registraram temperaturas 0,55°C acima da média dos últimos 30 anos para o período. Na medição do Climate Central, o último trimestre foi o terceiro mais quente registrado desde 1970 no país (veja mais abaixo dados por cidade).

Influência da mudança climática

O Climate Central mantém indicadores que medem o quanto a mudança climática pode ser considerada responsável pelas temperaturas registradas, o Climate Shift Index. Em uma escala de zero a 5, o índice atribui quantas vezes aquela determinada temperatura pode ser atribuída à condição alterada do clima resultante da emissão de gases estufa das atividades humanas.

As temperaturas altas do inverno de 2024 no Brasil, que teve mais de 500 cidades com anomalias acima de 2°C, segundo dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), foram confrontadas com o índice do grupo americano. Os dados afirmam que o país atravessou 42 dias com índice acima de 2, ou seja, com uma temperatura duas vezes mais provável devido à mudança climática. Em conversa com Um Só Planeta, o vice-presidente de ciência do Climate Central, Andrew Pershing, analisou a situação brasileira frente aos dados divulgados.

“As temperaturas estão subindo no Brasil. Este foi o terceiro período mais quente de junho a agosto desde 1970. As pessoas no Brasil vivenciaram em média 30 dias em que as mudanças climáticas tornaram o calor daquele dia pelo menos três vezes mais provável. Em outras palavras, as mudanças climáticas estão impulsionando as condições excepcionalmente quentes vivenciadas em todo o país.” — Andrew Pershing, vice-presidente de ciência do Climate Central

No caso do nível 5, quando a chance do calorão é quintuplicada pelas condições alteradas do clima, foram 19 dias em média, no período de três meses. A pesquisa aponta que ao menos 13,8 milhões de pessoas estiveram expostas aos efeitos da mudança climática nesse nível no inverno brasileiro por até 60 dias.

Clima alterado atinge mais de 8 milhões de pessoas no Pará

Segundo o Climate Central, os estados de Amazonas, Espírito Santo e Pará tiveram o trimestre junho-julho-agosto mais quente desde 1970. No caso de Minas Gerais, Roraima e Sergipe, foi o segundo mais quente registrado nos últimos 54 anos.

O Amapá teve 80 dias com índice 5, com 1 milhão de habitantes expostos a pelo menos 60 dias nessa condição de temperatura exacerbada. Macapá é apontada na pesquisa como uma das cidades mais impactadas pelo calor na América do Sul.

No Amazonas, foram 70 dias com calor quintuplicado pela ação da mudança climática, segundo a medição do grupo americano, expondo 3,9 milhões de pessoas durante pelo menos 60 dias aos efeitos do calor potencializado pelo aquecimento global.

O Estado do Pará teve a maior população sob os efeitos alterados do clima entre as unidades da federação. Foram 8,2 milhões de pessoas expostas a pelo menos 60 dias de calor cinco vezes mais provável devido à mudança climática. Por outro lado, as capitais Goiânia, Palmas e Teresina tiveram temperaturas médias ligeiramente abaixo da média dos últimos 30 anos.

Fonte: Um Só Planeta

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