Além da tortura contra animais, mostrada num vídeo que a Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba entregou à polícia, outros crimes contra animais são investigados, já que vêm deixando famílias tristes e crianças doentes: o sequestro de cães. Casos difíceis de resolver, já que cães de raça são todos muito parecidos. Pior ainda é investigar a desconfiança que estas famílias estão tendo, de que os animais estão sendo vendidos pela internet.
São centenas de anúncios de cães publicados diariamente em sites de vendas, um universo impossível da polícia investigar. Mesmo assim, seis animais foram recuperados no ano passado. Mas não é possível saber se a quantia é boa ou ruim, já que a polícia não tem estatísticas específicas sobre o sequestro dos animais.
A relação do ser humano com os caninos é semelhante a de mãe e filho. É o caso da pedagoga Ângela Carolina Kimer, 35 anos, que está com três “filhos” desaparecidos. Ela está de cama, com a saúde debilitada após um criminoso ter levado o Tobias, um poodle de pelos avermelhados, a Laura, uma poodle branca e o Bernardo, um yorkshire, na noite de 21 de fevereiro.
Ângela e uma colega estavam se preparando para passear com os cachorros, por volta das 20h. Ainda era horário de verão e o tempo estava fresco. Ela lembra que viu três rapazes se aproximarem, mas como estavam bem vestidos, não deu importância. Ao entrar em seu veículo, um dos sequestradores foi em direção ao portão da residência e, armado e extremamente violento, roubou o veículo, levando os cachorros. O carro foi encontrado a três quadras da casa dela intacto, com todos os pertences pessoais. Foi aí que ela percebeu que o alvo eram os cães.
Há ainda vários outros relatos de crimes, como o de pessoas que saíram de casa e, quando retornaram, a residência estava arrombada e apenas os cães tinham sido levados. Em outros casos mais graves, ladrões agrediram pessoas passeando com cães na rua, apenas para levar os animais.
Desaforo
Ângela ainda tentou fazer o boletim de ocorrência mas, segundo ela, os policiais disseram que não bastava ter que procurar pessoas, tinham também que investigar sumiço de cachorro. Desde o dia do crime, Ângela recebe ligações com tom de ameaça, sem contar os trotes com paradeiros falsos dos cães. Já mudou de residência, de telefone, de carro, de tudo que possa identificá-la.
Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Civil orientou que Ângela procure a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos para fazer boletim de ocorrência, dando queixa das ameaças que tem sofrido. Já o delegado Rodrigo Souza orientou também que todas as vítimas procurem a DFR para dar queixa.
“Já perdi a voz, estou com início de pneumonia. Meu emocional está muito abalado. Eu amo meus cachorros como muitas mães amam seus filhos, e nunca pararei de procurar enquanto não encontrá-los, eles são minha família”, descreve a pedagoga, que dá recompensa para quem der informações precisas e verdadeiras da localização dos cãezinhos.
Internet: vilã, mas também ‘mocinha’
Num momento tão delicado, a ajuda nunca é demais. Pensando dessa forma, a relações públicas Ivonete Buras, 54 anos, transformou sua página pessoal no Facebook em uma corrente de solidariedade, na tentativa de localizar os cães desaparecidos.
Ela relata que está encontrando algumas dificuldades, como a proibição de colar cartazes em terminais de ônibus e a realização de boletim de ocorrência sobre o sequestro do animal. No entanto, Ivonete conta que acessa os principais sites de anúncios todos os dias, na esperança de identificar os cãezinhos dos seus colegas. “Infelizmente se tornaram objetos. Vendem como se fossem um produto qualquer”, desabafa, mostrando-se indignada com os 51 anúncios publicados apenas ontem na região de Curitiba, no site de vendas OLX.
Em resposta, a OLX informou que assim que identifica um anúncio que viole os termos de uso do site, remove o anúncio indevido da página. Informou ainda que, ao cadastrar um anúncio, o usuário deve verificar a listagem de produtos proibidos. Ivonete faz um apelo para que as pessoas procurem saber informações sobre os cães que pretendem comprar, afirmando que gostaria que os sites proibissem a compra e venda de animais pela internet. A fiscalização virtual, diz o delegado Demetrius Gonzaga de Oliveira, do Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber), é quase impossível, já que, a cada segundo, 574 sites e perfis são criados na internet. São três bilhões de usuários na rede mundial. Sem contar os milhares de anúncios publicados nestes sites de venda, diariamente.
Panfletagem
Alexander Biondo, diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação de Fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, explica que realmente é só a Prefeitura a autorizada a colar cartazes em terminais de ônibus, mas que estes não são os melhores lugares para divulgação, mas sim, o que a Ivonete já faz, usar as redes sociais. “Outra forma que traz bons resultados é colar os cartazes nos postes de luz, mas não se esquecer de tirar caso o animal tenha sido localizado”, afirma.
A página da Rede de Proteção Animal no Facebook é indicada para divulgações como as da Ivonete, pois possui maior exposição na mídia e com maior abrangência. Há também a página da Guarda Municipal de Proteção Animal, que pode auxiliar no paradeiro dos animais. Biondo sugere também que o tutor tire muitas fotos dos seus cães, preferencialmente de perfil, pois os cães de raça geralmente são muito parecidos, e que na hora de reconhecer, o tutor pode se confundir.
Suspeitos
Na semana passada, Ivonete foi ao encontro de um suposto casal que queria vender seus cães. Ela desconfiou de algo errado por vários motivos. Primeiro, porque o casal não quis que ela fosse até a residência deles e marcaram um encontro numa rua qualquer da cidade. Eram dois cães pequenos, um maltês e um yorkshire, que estavam em uma caixa no porta-malas, sem nenhuma segurança e conforto. O rapaz era todo atrapalhado, a todo momento olhava o movimento em volta e trocava o nome dos cachorros frequentemente. “Qual tutor confunde o nome dos próprios cachorros toda hora? Desconfiei na hora”, afirma. A dupla queria R$ 800 pelos dois cachorros.
Há maneiras de evitar
Uma das saídas para coibir os sequestros é a microchipagem nos animais. O chip inserido no cão é um cilindro com a espessura de uma ponta de caneta, e o procedimento é totalmente indolor e não possui reação no organismo. O procedimento dura em torno de 1 a 2 minutos. Ao realizar a chipagem, o tutor preenche uma ficha com todos os dados pessoais, que ficam armazenados em uma base de dados na Prefeitura. O diretor orienta que caso a pessoa vá reconhecer algum animal, entrar em contato com a Prefeitura ou com uma clinica veterinária e solicitar o leitor de chip. Ao fazer a leitura, um número de identificação aparece e então é possível identificar o tutor do cão. A chipagem é gratuita para moradores de Curitiba. O próximo evento para realizar a chipagem será sábado, 29 de março, num novo parque que a Prefeitura vai inaugurar, na Vila Rigoni, Fazendinha. Além deste serviço gratuito, três pet shops em Curitiba estão autorizados a fazer o serviço, porém pago.
A castração também é outra forma de diminuir o desaparecimento de cães, pois um dos motivos de tais crimes é a reprodução desses animais. Lançada no fim de 2012, a 1.ª campanha municipal gratuita de castração de cães irá esterilizar seis mil cães.
Em 2013, foram realizadas 1.500 castrações, mas este ano a Prefeitura espera realizar 2.500, fazendo de 30 a 50 cirurgias por dia, nas três clínicas veterinárias cadastradas. As feiras de comércio de animais são proibidas e a Prefeitura, as redes de proteção animal e a Delegacia do Meio Ambiente estão de olho nestas atividades. Denúncias podem ser feitas ao telefone 156, da Prefeitura.
Fonte: Paraná Online